Nos últimos meses o lançamento de tecnologia de Inteligência Artificial acelerou, e também a consciência dos utilizadores e das empresas sobre o potencial que existe. Muitos começaram por brincar com o ChatGPT mas as empresas mais inovadoras já estão a aplicar os modelos de IA generativa e linguística nos seus processos de negócio e soluções.
Manuel Dias explica, em entrevista ao SAPO TEK, a sua visão sobre a evolução da adoção da tecnologia e a resposta dos parceiros portugueses, mas também antecipa uma explosão da adoção com a disponibilização das ferramentas do Copiloto do Office 365 em Portugal, com o português europeu.
SAPO TEK: Com o desenvolvimento que existe, e as ferramentas que já foram criados, como o novo Bing e o Azure OpenAI, qual a sua visão: uma empresa que começa agora a olhar para a Inteligência Artificial, consegue tornar rapidamente acionável para o negócio?
Manuel Dias: Acho que há dois caminhos paralelos. Um é claramente pelas pessoas e a capacitação, desmistificar a tecnologia e explicar o potencial da tecnologia. Isto é quase do board das empresas até a um simples colaborador, perceber efetivamente onde é que os modelos linguísticos podem ser usados. Um segundo, ligado claramente à liderança, é explorar os use cases e processos de negócio onde vou colocar a tecnologia.
Porque na verdade ela é transformadora e a questão não é se a vou colocar ou não mas onde a vou colocar e de que forma. E é um bocadinho esse mindset que estamos a cultivar agora.
SAPO TEK: Isso vai acontecer com rapidez ? Temos sempre esta questão, de ter de acelerar para estar no pelotão da frente.
Manuel Dias: Estamos ainda no início da jornada da Inteligência Artificial, acho que vai alterar-se, vamos ter períodos de aceleração e desaceleração, de lançamento da tecnologia e depois da adoção. Nós agora estamos claramente num período de lançamento da nova tecnologia e agora trata-se de adotar a nova tecnologia e muito do trabalho é explicar o que se pode fazer com ela. Nada nos garante que daqui por seis meses não tenhamos outra onda de inovação na IA. Tivemos aqui uma onda grande e agora é preciso concretizar, ir para o terreno, trabalhar com as empresas para que possam tirar partido da tecnologia, seja do Azure OpenAI, seja do copiloto, que é uma mudança de paradigma que é muito importante explicar às pessoas. A partir do momento em que percebo que tenho algo que me vai ajudar a nível pessoal e profissional, que vai ter impacto na qualidade de vida, no tempo, na forma como faço as coisas, acho que vai acelerar.
É como a curva da Gartner, estamos no início da curva e depois vai acelerar rapidamente.
SAPO TEK: Nem todas as empresas têm pessoas dedicadas à tecnologia, com conhecimento em inteligência Artificial, e isso pode tornar mais difícil essa adoção. Em Portugal a Microsoft e os parceiros têm capacidade para apoiar essa transição e aceleração?
Manuel Dias: A Microsoft tem uma iniciativa estratégica em Portugal que é diferenciadora na Europa, que é o AI Business School que visa sensibilizar os líderes para Inteligência Artificial. Foi feito em parceria com o INSEAD, está em mais de 8 faculdades, temos um acordo com o INA para administradores e sector público. Não é novo, tem dois ou três anos, mas é um bom exemplo. Depois na componente mais técnica temos N cursos disponíveis, gratuitos, em que fizemos múltiplos acordos com entidades como o Portugal Digital, o IEFP, o Gabinete Nacional de Cibersegurança no sentido de trazer estas componentes mais técnicas para tirarem partido destas novas competências.
SAPO TEK: E a capacidade de implementação?
Manuel Dias: Temos várias ações a decorrer com parceiros que estão a criar competências na área de Azure OpenAI, a trabalharem em muitos destes casos. Achamos também que vai haver um reforço de parceiros, que não tinham tanto foco nestas competências, para as criarem, e já vemos parceiros a lançarem centros de competências e a desenvolverem projetos, o que ajuda a mostrar que a tecnologia está ai e não temos de esperar três meses.
Há um trabalho grande da nossa equipa de parceiros que está a ser feito no sentido de trazer e rentabilizar este tipo de tecnologia.
SAPO TEK: Acredita que vamos ver uma explosão de pilotos e casos de uso com o Azure OpenAI?
Manuel Dias: Claramente. Aqui apresentámos quatro casos muito transversais mas começamos a ver usecases para a área de indústria, de retalho, banca, marketing. É muito importante perceber o que é possível fazer com a tecnologia e depois a nossa capacidade crítica e a nossa criatividade, para não pensarmos que vamos perder o emprego mas como podemos redesenhar novos processos de negócio. Este tema por exemplo da Leadzai é super interessante, perceber como faço uma campanha de negócio em que quase tudo é feito com OpenAI e com modelos linguísticos. É pensar nesses novos processos de negócio, nessa inovação, tirando partido da tecnologia.
SAPO TEK: E essa perspetiva de que vai roubar empregos, como vê a evolução?
Manuel Dias: Temos uma perspetiva muito positiva sobre isso. Já vimos isso na história da Microsoft quando introduzimos tecnologias disruptivas, e a nossa visão é muito mais do que substituir, é ajudar, amplificar, é aumentar a produtividade. Esta ideia do copiloto é muito isso, um assistente que nos vai ajudar a ser mais produtivos e mais rápidos.
SAPO TEK: Em relação ao copiloto do Office 365, diz-se que as pessoas só usam 10% das funcionalidades do Office. A tecnologia vai melhorar esse rácio?
Manuel Dias: Nós só usamos em média 10% das potencialidades do Office, e nós aprendemos a ferramenta. E o copiloto vai aprender a nossa forma de trabalhar. Acho que há uma mudança de paradigma muito importante e acho que vai ser altamente disruptivo. Tal como o ChatGPT teve uma adoção de um milhão de utilizadores em cinco dias, quando tivermos isto disponível em Portugal, já está nos EUA, vai ter um impacto brutal.
SAPO TEK: E nos EUA, como está a ser recebido?
Manuel Dias: Estamos a fazer um deployment controlado, como foi feito com o Azure OpenAI, para obter feedback mas acho que vai ser igual ou superior, ao impacto que tivemos com o Teams, vai ser disruptivo. E poder viver isto é muito bom. Se calhar daqui a 1 ano isto vai mudar…
Em relação à língua, muitas das coisas que vemos são em inglês ou português do brasil. Vamos ter a capacidade de adaptar rapidamente ao português europeu?
Penso que sim. Nós fizemos um caminho nos últimos três anos em todos os serviços que tínhamos na cloud de suportar o português europeu. E hoje o que vimos no caso da EDP a transcrição de chamada que vimos foi em português europeu, com uma elevada precisão, e se calhar há dois anos não tínhamos essa capacidade de precisão. É realmente impressionante, a transcrição foi feita em tempo real e por isso acho que sim, estou certo.
Com a evolução que foi feita é o que faz sentido, até porque estes modelos têm uma base muito linguística. Claro que depende muito da informação que foi usada para treinar o modelo, e há mais informação em português do Brasil, mas vai chegar cá.
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