A falta de condições de segurança nas fábricas e de espaço nos dormitórios, as horas de trabalho excessivas cumpridas pelos trabalhadores e o recurso ao trabalho infantil são algumas das realidades relatadas numa investigação do New York Times às instalações onde são produzidos os equipamentos da Apple, na China.

O artigo publicado esta semana pelo jornal norte-americano veio ensombrar os dias em que a gigante apresentou resultados recorde de lucros e vendas de smartphones, ultrapassando mesmo a Samsung no segmento e voltando a deter temporariamente o título de empresa mais valiosa na bolsa nova-iorquina.

O CEO da empresa, Tim Cook, veio entretanto garantir que "a Apple se preocupa com cada um dos trabalhadores na sua cadeia de fornecimento", num email citado pela CNet, onde classifica de "claramente falsas e ofensivas" quaisquer insinuações em contrário.

A reportagem publicada pelo New York Times um dia antes tinha como fio condutor a história de Lai Xiaodong, um jovem de 22 anos que trabalhara na fábrica da Foxconn, em Chengdu, alguns meses antes da explosão que matou quatro operários.

Um antigo funcionário da fabricante disse aos jornalistas que "a Apple nunca se preocupou com outra coisa que não aumentar a qualidade dos seus produtos e diminuir os custos dos mesmos".

A estas somam-se as declarações de um ex-executivo da empresa de Cupertino, que afirmava que há quatro anos que a empresa tinha conhecimento da exploração laboral em algumas das fábricas e que sabia que estes continuarão a existir.

Mais de metade das fabricantes envolvidas na produção de equipamentos da Apple violaram, pelo menos um dos pontos do código de conduta, todos os anos desde 2007, concluiu um relatório da própria empresa, citado pelo NYT.

Dormitórios sem espaço e ausência de condições de salubridade no local de trabalho são alguns dos exemplos da falta de condições com que se deparam os operários nas fábricas. Há dois anos, 137 trabalhadores ficaram feridos ao usar um produto tóxico para limpar os ecrãs dos iPhones, por exemplo. Foram também registadas duas explosões em fábricas.

Embora a criadora do iPad não tenha respondido ao New York Times, um dos atuais gestores terá explicado, sob anonimato, que se pode "produzir em fábricas mais confortáveis e amigas dos trabalhadores" ou "reinventar o produto todos os anos e torná-lo melhor, mais rápido e mais barato, o que exige fábricas que parecem más para os padrões americanos. Neste momento, os clientes estão mais preocupados com o novo iPhone do que com as condições de trabalho na China".

Escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico

Joana M. Fernandes