Os professores têm uma elevada formação em Tecnologias da Informação e Comunicação, quer quando ainda estão a frequentar os cursos de acesso à carreira quer no âmbito dos programas de formação contínua. Mas, a maneira como esses cursos são leccionados, a sua integração nos currículos e até os créditos obtidos para progressão na carreira não são os mais adequados.



As conclusões fazem parte de dois estudos hoje apresentados em Lisboa que tiveram como objectivo conhecer o modo como os professores recebem formação na área das Tecnologias da Informação no âmbito dos seus cursos de preparação para a carreira e ainda na formação contínua. Encomendados pelo Ministério da Educação, através do Programa Nónio Século XXI, os dois trabalhos foram realizados pelo Centro de Competência Nónio da Faculdade de Ciências de Lisboa e pela Escola Superior de Educação de Setúbal.



A entrada progressiva dos computadores nas escolas e mais concretamente nas salas de aula tem motivado muitos dos estudos de avaliação sobre a preparação dos professores para lidar com esta ferramenta no âmbito do ensino. A preocupação do Ministério da Educação em transformar os professores num dos principais agentes de uma mudança no ensino potenciada pela utilização da informática levou a uma dinamização da formação contínua, cursos frequentados pelos professores no âmbito da sua carreira, mas também À progressiva introdução das disciplinas de TIC no ensino inicial dos futuros professores.



Os últimos dois estudos nesta área abordavam a situação nos anos de 1997 e 1998, tendo a análise sobre a formação contínua sido publicada em 2001 enquanto a avaliação da formação inicial foi apresentada em 1998. As duas análises agora apresentadas debruçam-se sobre as mesmas matérias, avançando conclusões em relação à actual situação, mas apontando também recomendações para uma evolução mais positiva.



Dimensão TIC deve ter maior peso na formação inicial de professores
Abrangendo a formação inicial de educadores de infância, professores do ensino básico e do ensino secundário, o estudo do Centro de Competência Nónio da Faculdade de Ciências de Lisboa confirma a presença das TIC nos currículos de formação inicial de professores, quer em disciplinas dedicadas exclusivamente ao seu estudo, quer integradas noutras disciplinas, nomeadamente na área das didácticas específicas. No entanto, são apontados dois problemas, o da dificuldade de integração das TIC nos currículos de formação dos professores, e ainda o facto do número de créditos obtido ser considerado demasiado baixo.



João Filipe de Matos, coordenador do estudo, destaca que embora os alunos de cursos de preparação para a docência utilizem as ferramentas TIC na produção de materiais durante a sua formação, não existe depois uma integração real das mesmas em disciplinas que fazem parte dos currículos de formação.



"Se o uso diário por parte dos estudantes é evidentemente um factor positivo na sua familiarização com as TIC, deve no entanto levantar-se a questão do desenvolvimento limitado de competências que tal uso quase exclusivo tenderá a favorecer", nota o estudo. Ao mesmo tempo é adiantado que deve ser dada mais atenção à dimensão TIC na formação inicial dos professores traduzindo-se isto em mais créditos destinados a esta área.



Entre as recomendações deixadas por este estudo fica o facto das instituições de formação deverem equacionar estratégias efectivas de integração das TIC em múltiplas disciplinas do seu plano de formação, procurando manter um equilíbrio entre as dimensões técnica e pedagógica da formação e a articulação entre aquelas duas dimensões.



É ainda apontada a necessidade das instituições de formação identificarem junto dos seus formadores as necessidades de formação específicas e actuarem de modo a encontrar estratégias que permitam fazer face a essas necessidades.



A versão completa deste estudo só estará pronta no final de Junho, mas o autor reconhece ainda existirem nesta análise algumas falhas que devem ser complementadas com uma investigação mais pormenorizada dos modos como as instituições de formação inicial integram as TIC nos seus planos curriculares.



Formação contínua em TIC aumenta contrariando tendência geral

Realizado pela Escola Superior de Educação de Setúbal, o estudo sobre a formação contínua de professores aponta para uma redução global do interesse em formação, com o abrandamento global do volume de acções de formação. No entanto, a procura de Oficinas de Formação e o recurso às acções em TIC tem vindo a crescer, embora lentamente.



José Duarte, um dos autores do estudo, indica que a exploração de novas utilizações das TIC e o seu uso em contexto educativo constituem as razões apontadas para a inclusão desta matéria nos planos de formação de professores.



Embora o relatório completo só seja divulgado no final de Junho, ficam já algumas recomendações a seguir, nomeadamente a necessidade de refazer uma base de dados actualizada de todas as entidades que fazem formação contínua de professores e de considerar não só a formação contínua no sentido do Curso de curta ou média duração realizado nos Centros, mas incluir toda a formação especializada e pós-graduada (mestrados e doutoramentos) que se realiza nas Universidades e Escolas de Formação.



O estudo recomenda também o incentivo das parcerias entre instituições que fazem formação contínua na mesma região, de modo a poder racionalizar esforços e recursos humanos, aproveitando valências diversificadas.

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