As oportunidades que a evolução da tecnologia de Inteligência Artificial traz para as empresas estiveram em destaque na sessão de abertura do Building the Future 2025 que hoje decorre no Pavilhão Carlos Lopes em Lisboa.  Andrés Ortolá, General Manager da Microsoft Portugal defendeu que existe uma oportunidade para Portugal tirar partido da tecnologia que já existe mas é preciso acelerar.

A inovação só tem impacto real quando se transforma em progresso acessível a todos”, sublinha, afirmando que este é um momento decisivo para aproveitar a forma como a tecnologia pode transformar a maneira como trabalhamos e impulsionar o potencial das pessoas e das organizações.

Na sessão de abertura destacou alguns dos casos de clientes portugueses que já estão a inovar com a Inteligência Artificial e a aposta na Portugal AI Innovation factory, que está aberta à inovação, mas sublinhou também que é necessário investir para reforçar as competências. Para isso a Microsoft quer formar 6 milhões de portugueses nos próximos 5 anos, com um programa abrangente que pretende escalar as competências para todos e que conta com uma colaboração com a Nova SBE para sessões de mentoria às empresas, a cooperação com a FOUNDERZ e um programa de TV onde se pretende mostrar como a IA pode ajudar em tarefas do dia a dia.

Andrés Ortola, microsoft
Andrés Ortola, microsoft

Andrés Ortolá detalhou os principais desenvolvimentos que a Microsoft tem vindo a fazer com o Copilot, que já está a ajudar a melhorar a produtividade, e o lançamento recente do Copilot Chat, acessível de forma gratuita, mas também a disponibilização do Copilot Studio e a visão de integração de todas as ferramentas numa framework segura. O desenvolvimento de agentes é uma das áreas com maior impacto e “cada utilizador vai ter um agente para o apoiar”, defendeu o diretor geral da Microsoft Portugal, lembrando que as profissões estão a mudar e que é preciso continuar a capacitar as pessoas.

E que papel podem ter os humanos num futuro em que as máquinas são cada vez mais inteligentes? O mestre de xadrez Garry Kasparov subiu ao palco do Building the Future 2025 onde começou por perguntar quantas pessoas na audiência estão assustadas com a Inteligência Artificial, lembrando que muitos medos são promovidos de forma artificial pelos filmes de Hollywood, com imagens como o Exterminador e o Matrix, mas que há razões para estarmos optimistas.

A história de como foi derrotando os primeiros computadores de xadrez em 1985, mas também como perdeu depois frente ao Deep Blue, serviu também de base para mostrar a forma como a tecnologia evoluiu. “Os primeiros computadores eram fracos e a minha cabeça era forte”, explica Garry Kasparov, e mesmo o “Deep Blue não era muito inteligente, mas fazia menos erros”.  Lembrando que ganhou o primeiro jogo contra o supercomputador da IBM em 1996, e que depois de perder em 1997não teve direito a uma nova tentativa, admitiu que “fiquei muito chateado, não por ter perdido com uma máquina mas porque foi o primeiro jogo que perdi”.

Garry Kasparov no building the future
Garry Kasparov no building the future

Hoje, não há competição possível, mesmo para os especialistas, e embora as máquinas não sejam perfeitas nem é preciso um computador de 10 milhões de dólares, basta um portátil normal para ultrapassar um humano. É "como colocar Usain Bolt [velocista olímpico] a correr contra um Ferrari", só estão a par nos primeiros segundos. “As máquinas são muito melhores em várias áreas”, afirma, defendendo que é importante pensarmos em como os humanos podem continuar a ser relevantes e que isso passa pela combinação da nossa capacidade de pensar e a velocidade das máquinas, assim como a sua competência em fazer menos erros.

“Temos de encontrar uma forma de trabalhar com as máquinas, se não conseguimos batê-las temos de trabalhar com elas”, afirma Garry Kasparov.

Para o mestre de xadrez, o papel dos humanos é dar uma direção às máquinas, atingindo uma Inteligência Aumentada e não uma Inteligência Artificial, e para isso dá o exemplo de um telescópio. “Só temos de o apontar na direção certa e vamos poder ver as estrelas”, explica, defendendo que á a forma como gerimos e usamos o poder da tecnologia, com a capacidade humana que gera o melhor resultado.

Certo é que a IA vai fazer mais trabalho “básico” e não criativo, levando à eliminação de muitos empregos mas libertando as pessoas para trabalhos mais criativos e estratégicos.

“Não estamos a ser substituídos, estamos a ser promovidos”, justifica. Mas Garry Kasparov avisa que é preciso não ter medo de inovar, e não deixar que temas como a regulação possam abrandar o ritmo de desenvolvimento.

Por isso, em vez de olhar para as possibilidades catastróficas que alguns filmes trazem sobre o desenvolvimento das máquinas, o mestre de xadrez prefere citar a frase do filme O Império Contra Ataca, do Star Wars, em que Han Solo diz ao robot C-3PO “nunca me digas as probabilidades”. “Sabemos o valor do um”, lembra Garry Kasparov, “cabe nos a nós tomar a decisão”.