A pandemia de COVID-19 foi responsável por uma crise sem precedentes na indústria dos semicondutores, gerando uma escassez de componentes devido à grande procura de equipamentos. A indústria tecnológica esperava um regresso à possível normalidade, mas a guerra na Ucrânia poderá agravar ainda mais a crise dos chips. Ainda antes da invasão russa ao território ucraniano, a Casa Branca já havia alertado de que o Governo de Putin poderia retaliar as sanções aplicadas ao país com o bloqueio ao acesso de componentes-chave para a produção de chips.
A indústria automóvel já demonstrou preocupação com a guerra, referindo que a falta dos semicondutores vai continuar. A Ucrânia é responsável pela refinação de cerca de 70% do néon, um gás que é um componente crítico na construção de lasers, ferramenta utilizada para o fabrico de chips. E esse componente é uma matéria-prima produzida na Rússia, enviada para a Ucrânia para refinar, exportando depois para o resto do mundo.
Outra matéria-prima com origem nos territórios é o paládio, que é utilizado em sensores, memórias e outras aplicações. Cerca de 35% do paládio que chega aos Estados Unidos é fornecido pela Rússia. Segundo referiu à Auto News Carla Bailo, CEO do Center for Automative Research, as empresas vão procurar fontes alternativas de néon o mais rapidamente possível, mas não é algo que possa ser imediato.
O problema de escassez destas matérias-primas não é imediato, uma vez que as fabricantes de microchips anteciparam os eventos da invasão e acumularam stock de néon para vários meses. Mas teme-se que a guerra na Ucrânia prolongue a crise. “Se os semicondutores não começarem a sair, vamos estar novamente onde estávamos no último ano”, disse Carla Bailo. Se a guerra se prolongar, os efeitos da falta de néon são esperados a partir da segunda metade do ano.
Estima-se que com a falta de semicondutores, devido ao fecho das fábricas durante a pandemia em 2020, as fabricantes automóveis cortaram cerca de 10,4 milhões de veículos da produção global e este ano já houve um corte de mais de 650 mil unidades. A AutoForecast Solutions, citado pela Auto News, estima um corte de 1,3 milhões até ao final de 2022.
Por outro lado, baseado nos indicadores de uma crise idêntica em 2014, quando a Rússia anexou a Península da Crimeia, o preço do néon disparou 600%. Prevê-se assim que os preços voltem a subir com o novo conflito.
Seguindo a mesma decisão das diversas empresas tecnológicas em suspender os seus serviços e vendas na Rússia, também algumas fabricantes de automóveis anunciaram a suspensão, como a Volkswagen, Volvo, Honda, Ford e outras.
Na indústria dos computadores, também já existem preocupações com o agravamento da crise devido à guerra. A Toshiba prevê mais um ano repleto de desafios para superar a falta de componentes. Hiroyuki Sato, responsável pela divisão de equipamentos da fabricante, prevê que a crise se vá alastrar até março de 2023, disse à Bloomberg. A empresa lançou um aviso de falta de stock em setembro e desde então que a situação não melhorou.
A sua preocupação foca-se também no aumento de preços, sem previsão de quando a tendência baixe. A Toshiba é responsável pela produção de alguns componentes vitais para computadores, tal como reguladores de potência para os chips. A empresa espera expandir a sua capacidade de fabrico a partir do próximo ano, embora diga que sozinha não conseguirá fazer frente às necessidades.
A propósito da procura de chips, a Sumco, uma fabricante de wafers de silício, as finas placas que são o ponto de partida no processo de produção de semicondutores, para a indústria, disse que já esgotou a sua capacidade de produção até 2026. É mais um sinal de que a crise ainda está longe de chegar ao fim. A empresa japonesa tem encomendas para as suas wafers de 300 mm para os próximos cinco anos. A fabricante diz que os preços aumentaram 10% em 2021, mas espera que a escalada se vai manter até pelo menos 2024. No seu caso, a Sumco diz que não vai conseguir expandir a sua produção este ano, apesar da muita procura. As suas linhas de produção existentes já foram otimizadas ao máximo.
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