Uma semana depois da invasão da Rússia à Ucrânia, um pouco por todo o mundo têm havido manifestações de apoio ao povo ucraniano, ao mesmo tempo que são aplicadas sanções e medidas de boicote ao país agressor. As empresas tecnológicas também estão a tomar ações contra a Rússia, bloqueando serviços, limitando acessos e a fechar operações no país governado por Vladimir Putin.
No caso do PayPal, o serviço de pagamentos online, deixou de aceitar novos utilizadores na Rússia desde esta quarta-feira, dia 2 de março, em resposta à invasão da Ucrânia. Alguns utilizadores e entidades bancárias russas já foram bloqueados de fazer transações. Além do Paypal, outras entidades de pagamento tomaram iguais ações de bloqueio, incluindo as americanas Visa, Mastercard e American Express, assim como a Apple Pay e Google Pay, como parte das sanções à Rússia.
Plataformas de streaming e apps limitam acessos a televisões estatais
O Spotify também tomou medidas, fechando o seu escritório na Rússia. A empresa mantinha as instalações na Rússia por imposição de uma lei introduzida em julho de 2021 na legislação russa que obriga as plataformas sociais com mais de 500 mil utilizadores diários a abrir um escritório local, ou sofrer restrições ver a sua operação no país a ser banida.
Em comunicado, o Spotify diz que a prioridade é a segurança dos seus empregados e a garantia de que a plataforma continua a funcionar como uma fonte importante de notícias regionais e globais. A empresa garante que tem revisto milhares de conteúdos relacionados com a guerra desde o seu início, tendo restringindo os programas que sejam divulgados por meios ligados ao estado russo.
A Apple cortou alguns dos seus serviços na Rússia, além de ter anunciado a suspensão da venda de produtos no país. Todos os produtos da loja ficaram indisponíveis, com a empresa a afirmar que está do lado das pessoas impactadas pela invasão russa à Ucrânia. Além de limitar a utilização do Apple Pay no país, a Apple retirou da plataforma App Store, as aplicações das televisões estatais, como a RT e Sputnik.
As plataformas de conteúdos de streaming também estão a abandonar a sua oferta na Rússia. Ontem a Disney anunciou que não vai lançar novos filmes no país devido à situação do conflito. A empresa acrescentou que "tomaria futuras decisões empresariais" à medida que a situação evoluísse e prestaria ajuda humanitária através de organizações não-governamentais parceiras. Imediatamente após o anúncio da Disney, a Warner Bros. anunciou o cancelamento da estreia russa de "The Batman", que estava marcada para a próxima sexta-feira.
Já a Netflix disse que não via cumprir com a nova lei do audiovisual da Rússia, que obrigava a plataforma a incluir cerca de 20 canais públicos a operar no país. Desde 1 de março que tanto a Netflix e outros serviços de audiovisuais passam a ser obrigadas a transmitir conteúdos de meios de comunicação social associados ao Kremlin, entre os quais o Canal Um, a rede de entretenimento NTV e o Canal da Igreja Ortodoxa.
A empresa de streaming disse ainda que parou temporariamente todos os projetos futuros, assim como a aquisição de conteúdos na Rússia, disse uma fonte próxima à Reuters. Neste momento, a Netflix tinha quatro séries russas em produção e uma já em fase de pós-produção que foram suspensas para já.
Ainda no que diz respeito à obrigação das plataformas sociais incluírem canais russos, a Meta, a casa-mãe do Facebook, Instagram e WhatsApp disse que vai restringir o acesso às suas redes os canais RT e à agência Sputnik, meios de comunicação social controlados pelo Governo russo. O Twitter também anunciou que irá acrescentar um aviso às ligações de partilha de mensagens e notícias dos meios de comunicação social controlados pelo Kremlin e também tentar reduzir a circulação na plataforma.
O boicote à Rússia no entretenimento e desporto
O Festival de Cinema de Cannes confirmou que as delegações oficiais russas seriam banidas do evento de 2022, a não ser que terminasse o confronto com a Ucrânia.
A indústria dos videojogos também já se manifestou contra a guerra na Ucrânia. A Electronic Arts suspendeu as equipas russas, assim como a seleção nacional do país nos jogos FIFA 22, FIFA Mobile e FIFA Online.
O ministro de Transformação Digital ucraniano, Mykhailo Fedorov apelou à Microsoft e à Sony que bloqueassem temporariamente todas as contas pertencentes a jogadores russos e bielorussos. Fedorov pediu também às organizações de competições de eSports que impedissem a participação de gamers dos dois países, bem como o cancelamento dos eventos que estejam planeados para ambos os territórios.
Vários estúdios de videojogos estão a ajudar a levantar donativos para ajudar a causa ucraniana. As empresas polacas têm feito esforços de angariação: A CD Projekt RED, criadora de The Witcher e Cyberpunk 2077 doou mais de 235 mil dólares a entidades que estão a ajudar os refugiados; A sua congénere Techland de Dying Light 2 também fez uma doação. E o estúdio indie 11 Bit Studios foi uma das primeiras a agir, registando um total de 715 mil dólares de lucros do seu jogo This War of Mine para ajudas. Curiosamente este jogo centra-se no fator humano e causas colaterais da guerra, apropriado ao tema atual na Ucrânia.
São muitos os estúdios que estão a amealhar fundos e a organizarem canais no Discord para ajudar developers ucranianos a fugirem do país: assistência nas fronteiras, suporte financeiro e até habitação são algumas das ações.
Também o organismo máximo de futebol mundial FIFA impediu a Rússia de participar nos restantes jogos de qualificação para o Mundial de Futebol de 2022. E a UEFA também suspendeu os clubes russos das competições europeias.
Sector das telecomunicações em sintonia no apoio à Ucrânia
As operadoras de telecomunicações também têm vindo a manifestar o apoio ao povo ucraniano, sobretudo refugiados ou emigrantes que perderam o contacto com as suas famílias. Em Portugal a MEO foi a primeira operadora a disponibilizar chamadas gratuitas para a Ucrânia e acesso à Ukrainian TV mas também a NOS, a NOWO e a Vodafone fizeram o mesmo, mantendo estas condições até 15 de março. O movimento de apoio estende-se a outras operadoras pela Europa.
No Mobile World Congress 2022, que se está a realizar esta semana em Barcelona, o apoio à causa ucraniana foi visível entre os visitantes, assim como da organização. Ainda antes da feira abrir portas, esta segunda feira, o pavilhão da Rússia, um dos muitos pavilhões patrocinados por países, foi cancelado.
Mykhailo Fedorov mantém-se bastante ativo no Twitter, disparando pedidos de ajuda em todas as direções possíveis, assim como pede mais sanções à Rússia. De forma a manter a Ucrânia conectada ao mundo, o ministro pediu a Elon Musk suporte de terminais Starlink, de acesso à internet via satélite. O magnata prontificou-se e na segunda-feira os equipamentos já tinham chegado ao destino.
Numa carta enviada ao ICANN, o organismo que regula a Internet a nível mundial, Mykhailo Fedorov apelou ainda para que sejam implementadas “sanções estritas” contra a Rússia “no contexto da regulação de DNS”. Isto porque a Ucrânia afirma que a Rússia está a levar a cabo uma campanha de propaganda para disseminar desinformação, discurso de ódio e promover violência, tendo atacando também a infraestrutura informática da Ucrânia, afetando as suas capacidades a nível de comunicações.
Foi pedido ao ICANN que restrinja o acesso da Rússia à Internet, revocando domínios como ".ru", ".рф" e ".su", e desligando servidores em Moscovo e São Petersburgo. Além de ter pedido também à SAP e à Oracle suporte na causa ucraniana. A resposta da Oracle não se fez esperar, afirmando que em nome dos seus 150 mil empregados espalhados pelo mundo, já suspendeu todas as operações na Rússia, demonstrando assim o apoio à Ucrânia.
De recordar ainda que os Estados Unidos estão a restringir a exportação de tecnologia para a Rússia, nomeadamente semicondutores, lasers, equipamento de segurança de informação, entre outras. O objetivo é diminuir as capacidades do Governo russo de se tornar líder em campos tecnológicos tais como inteligência artificial e computação quântica.
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