Na semana passada, um relatório da Comissão Nacional de Acompanhamento do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) concluiu que os manuais digitais não deverão ser adotados no 1.º e 2.º ciclos. No entanto, para os restantes anos, “é preciso continuar a avaliação”, noticiou o jornal Público.

Embora considere que a decisão vá no sentido correto, o movimento Menos Ecrãs, Mais Vida defende, numa carta enviada recentemente ao Ministro da Educação, Fernando Alexandre, que a mesma “peca por ser tardia”, opondo-se à aplicação do projeto no 3.º ciclo.

De acordo com os resultados de inquéritos nacionais realizados pelo movimento, 85% dos encarregados de educação e 87% dos professores estão insatisfeitos com o Projeto-piloto Manuais Digitais (PPMD) e gostariam que terminasse.

O movimento Menos Ecrãs, Mais Vida recorda que, em setembro de 2024, a Sociedade Portuguesa de Neuropediatria emitiu recomendações para a utilização de ecrãs e tecnologia digital em idade pediátrica, onde se destacam três orientações em específico: restringir o uso de smartphones nos intervalos escolares; não solicitar o uso de smartphones para atividades letivas; e promover o uso de manuais em papel.

“Ainda assim, a nossa escola pública continua, com a experiência dos manuais digitais, a fazer dos nossos filhos cobaias”, defende o movimento, acrescentando que o projeto-piloto “ cria profundas desigualdades nas aprendizagens”, violando direitos constitucionais.

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Além disso, a poucos dias de se iniciar o período de matrículas, ainda há directores que "não revelam o que pretendem fazer para o próximo ano lectivo a nível do PPMD e a insistir que este garante metodologias correctas do ponto de vista pedagógico", afirma.

O movimento questiona de que forma serão compensados os alunos do 1.º e 2.º ciclos que estiveram envolvidos no projeto-piloto, alertando que muitos destes estudantes estão prestes a entrar no 3.º ciclo, após quatro ou cinco anos expostos a práticas que já eram contestadas por encarregados de educação, professores e especialistas.

“É inadmissível a continuidade desta experiência com estes alunos, que já foram penalizados demasiados anos”, defende o movimento Menos Ecrãs, Mais Vida.

Na carta, o movimento apela à suspensão imediata do projeto, de modo a que “mais nenhum aluno seja ainda mais prejudicado”. A avaliação do PPMD no 3.º ciclo deverá basear-se nos dados recolhidos nos últimos anos em Portugal, assim como na experiência de outros países que, segundo afirma, têm vindo a abandonar projetos semelhantes.

O movimento apela ao Ministério da Educação, Ciência e Inovação que a experiência PPMD seja terminada em todas as escolas pertinentes, realçando que, na escola pública, o projeto “não pode ser imposto, como tem sido até hoje”. Caso haja continuidade, o projeto deve apenas ser opcional e devidamente autorizado pelos encarregados de educação.