"Vamos lançar um LLM em português para inovarmos em português, preservando o nosso idioma e usando a nossa cultura ao serviço da inovação", afirmou Luis Montenegro na sua intervenção durante a abertura de mais um Web Summit, que decorre em Lisboa entre os dias 11 e 14 de novembro. O anúncio não foi detalhado e surpreendeu muitos empreendedores e empresas com quem o SAPO TEK falou, até porque já existem modelos de linguagem desenvolvidos em Portugal.
Os grandes modelos de linguagem (LLM na sigla em inglês para Large Language Model) estão na base da evolução recente da Inteligência Artificial Generativa e entre os exemplos mais conhecidos estão o ChatGPT, Copilot e Gemini. Em Portugal há vários LLM a serem desenvolvidos em Portugal, nomeadamente a Albertina e o Gervário, criados na Universidade de Ciências de Lisboa, e a Glória do consórcio Center for Responsible AI entre outros exemplos de IA e agentes em português que o SAPO TEK já destacou.
O gabinete da Ministra da Juventude e Modernização já partilhou um esclarecimento, detalhando o que é um LLM e "onde se insere o LLM nacional". Segundo a informação enviada ao SAPO TEK, "a Agenda Nacional de Inteligência Artificial é uma das iniciativas estruturais que integrará a Estratégia Digital Nacional, estratégia esta que será lançada até ao final do ano", adiantando ainda que "o desenvolvimento do LLM nacional uma ação fundamental na dimensão da Investigação e Inovação".
"A visão desta Agenda é garantir que, em 2030, Portugal apresenta um ecossistema robusto de Inteligência Artificial, baseado na ética e na excelência científica, guiado pelo contexto regulatório europeu, que promova o bem-estar social, e potencie a produtividade e competitividade da economia portuguesa", pode ler-se no documento.
Preservar a soberania da língua portuguesa
Ainda antes da resposta do ministério, Daniela Braga, fundadora da Defined.ai, dizia precisamente que não tinha ainda conhecimento do projeto, apesar de liderar um consórcio nesta área, o Accelerate.AI. "Fui tomada de surpresa", explicou em entrevista ao SAPO TEK.
Questionada sobre se fazia sentido estar a desenvolver um LLM em português, a empreendedora destacou precisamente o tema da soberania nacional. "Faz todo o sentido [...] Portugal pode ser um farol cultural, como Espanha faz tão bem com o castelhano", sublinhou.
Este parece ser o entendimento do projeto que Luis Montenegro revelou ontem. O documento partilhado com o SAPO TEK detalha que a "dependência de LLMs estrangeiros apresenta sérios riscos a Portugal como a perda de representatividade cultural ou a dificuldade em diferenciar variantes do português, nomeadamente a variante europeia". Realça que "o LLM Português dará aos cidadãos, empresas, Administração Pública e Academia a possibilidade de utilizar soluções de Inteligência Artificial que respeitam e preservam a soberania da língua portuguesa, as nuances da nossa história e o património cultural".
Em Espanha está a ser desenvolvido um LLM que tem como objetivo manter a representatividade cultural e das línguas oficiais faladas em território espanhol, um projeto que tem sido apontado como um exemplo a nível internacional.
O Primeiro Ministro já tinha destacado alguns exemplos da forma como o LLM português pode trazer benefícios à sociedade. "Sabemos que é um passo crítico mas sabemos que dessa maneira vamos conseguir hoje dar respostas que não conseguimos até ontem, respostas inclusivas, dando a cada aluno um tutor adaptado aos currículos para o ajudar a compreender o mundo, dando a cada cidadão acesso a serviços na AP de forma mais direta para as necessidades, dando a cada empresa a capacidade de projetar os seus serviços numa era de inteligência artificial, também em português", explicou.
Agora detalha-se que "o LLM Português será uma solução que estará disponível para todos, que poderão utilizá-lo de forma autónoma e fácil. Esta solução estará disponível na internet para descarregar e utilizar localmente ou através de integração com outros serviços". E poderá também ser combinado com outros LLMs estrangeiros de grandes dimensões, "assegurando que estes geram conteúdos fiáveis e verídicos sobre Portugal, respeitando e preservando as especificidades da língua, história e cultura portuguesa".
Uma das questões que estava por responder era também quem estaria por trás do desenvolvimento do novo LLM, e se envolvia algum dos consórcios apoiados por fundos do PRR. O gabinete da ministra explica agora que "o LLM Nacional será desenvolvido através da colaboração entre centros de investigação da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa e do Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa, devidamente articulados com a Fundação para a Ciência e a Tecnologia".
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