O tema da videovigilância continua a ser polémico, pelas situações em que a tecnologia invade e viola a privacidade das pessoas, sendo um assunto cada vez mais debatido pela sociedade. Em Portugal, por exemplo, a PSP insiste na implementação da tecnologia, tendo levantado diversas questões e riscos, num controlo sistemático de grande escala, levando a Comissão Nacional de Protecção de Dados (CNPD) a chumbar propostas pela violação de direitos, liberdades e garantias das pessoas, aspeto igualmente levantado pela associação D3.
Ainda assim, parece haver espaço para inovar e colocar a tecnologia relacionada à videovigilância ao dispor da segurança da população e empresas, sem que haja um abuso das regras de privacidade. Esse é o pensamento da startup portuguesa Heptasense, que desenvolve soluções de software na área da segurança através de reconhecimento do comportamento humano e vídeo analytcs.
Recentemente, a empresa venceu um prémio numa competição europeia da CBRE, uma multinacional líder do mercado de gestão de imobiliário. Trata-se da Proptech Challenge, uma competição que procura talentos com ideias disruptivas e inovadoras no sector do turismo, cuja quarta edição foi ganha pela startup portuguesa.
Em entrevista ao SAPO TEK, Ricardo Santos, CEO e cofundador da Heptasense, referiu que ao ser selecionado pela CBRE, na categoria Impact Startup, entre 55 candidatos nacionais, é um sinal bastante promissor para a empresa, por ser um prémio prático e focado no desenvolvimento da parceria, com o objetivo de escalar a sua solução para o plano de negócio da própria multinacional. Por ser líder no mercado de gestão de imobiliário, a parceria garante reconhecimento e oportunidade de crescimento.
Segundo afirma Ricardo Santos, “hoje em dia a videovigilância é feita por pessoas que olham aleatoriamente para várias câmaras de segurança à procura de ameaças”, destacando que vários estudos comprovam que a eficiência humana a olhar para vários ecrãs desce para níveis não aceitáveis, abaixo dos 5%. O software da Heptasense analisa vídeo de câmaras de videovigilância, permitindo identificar automaticamente os objetos ou comportamentos de pessoas ou veículos, aumentando a eficiência das equipas para mais de 80% na deteção de eventos.
A empresa garante que o software não usa, nem guarda qualquer tipo de identificação das pessoas e acrescenta que “hoje em dia, os nossos clientes também usam para compreender como os espaços são utilizados pelas pessoas, para melhor gestão dos mesmos”, como utilização alternativa da sua solução.
Questionado sobre que tipo de comportamentos humanos se trata, Ricardo Santos afirma que os mesmos são escolhidos pelos clientes, mediante o que pretendem. “O objetivo na plataforma da Heptasense é apenas de alertar as equipas de segurança (ou outras, como de gestão ou de operações). A Heptasense não usa reconhecimento facial nem dados relacionados com o histórico das pessoas para alertar as equipas”.
Em exemplo prático, na área do retalho, é explicado que uma pessoa quando pega num produto e o coloque na mala ou no bolso, invés do carrinho, esse comportamento pode gerar um alerta à equipa de segurança, que depois tomará uma decisão de como proceder para evitar o roubo. Essa deteção não tem nada a ver com históricos criminais do interveniente, tampouco a sua raça, etnia ou género, explica Ricardo Santos. “Com esse alerta a equipa de segurança pode verificar se realmente está a acontecer algo naquela câmara, e posteriormente decidir o que fazer”.
Já fora do contexto da segurança, a Heptasense acumula, por exemplo, os percursos feitos por todas as pessoas num shopping, e fornece métricas gerais de como as pessoas utilizam o espaço, sem estar focada em algum indivíduo em particular.
A Heptasense já trabalha com empresas em seis países da Europa, sobretudo em dois mercados: autoestradas e retalho. Em ambos as equipas de segurança são alertadas, em tempo real, para possíveis ameaças, tais como acidentes ou carros em contramão, no primeiro caso; e situações de comportamentos suspeitos que podem levar ao roubo, no caso do retalho. Ainda neste sector, além da segurança, são utilizados para analisar os produtos e os espaços que atraem os consumidores e como estes os utilizam ao longo de um período de tempo, seja uma hora, dia ou semana.
Sobre o papel da inteligência artificial no processo, Ricardo Santos refere que é utilizada no processo de identificação do objeto em si, se é uma pessoa, animal ou veículo. Também a identificação do comportamento e ações para posterior análise desses dados gerados.
“A Heptasense deve ser das poucas empresas de inteligência artificial que não vem substituir os trabalhadores, mas apenas ajudar os mesmos. No caso da segurança, temos clientes que a mesma pessoa tem de olhar para mais de 100 câmaras simultaneamente durante horas seguidas. A diferença é que com a Heptasense, essa pessoa é alertada com informação de para que câmara tem de focar a sua atenção e tomar decisões. Este processo torna a segurança mais eficiente, mas também mais imparcial, pois foca-se na deteção de ações daquele instante”, explica.
A empresa reforça que muitas empresas e entidades usam as capacidades da IA para fins que colocam em risco a privacidade e muitas vezes a segurança das pessoas, já que se foca no reconhecimento facial, tal como acontece na China, “o qual a Heptasense é totalmente contra”. Ricardo Santos refere que a sua abordagem é exatamente o oposto desses sistemas, focando-se em comportamentos suspeitos do momento, invés de seguir pessoas por já terem um histórico criminal ou algum tipo de perfil específico.
Essa forma de agir levou a empresa a obter diferentes certificações relacionadas com o Regulamento Geral da Proteção de Dados (RGPD) na forma como o software processa os dados das câmaras e como funcionam as suas operações internas.
Questionado pelo SAPO TEK sobre se as soluções de segurança passam por sistemas de videovigilância, num contexto cada vez mais orwelliano, o cofundador da Heptasense afirma que “espero mesmo que não. Nem precisamos disso. O que queremos mostrar com as capacidades da Heptasense é que as empresas podem melhorar a segurança e a gestão dos espaços sem recorrer a violação de privacidade. Já nos basta as redes sociais e a nossa vida online ser toda guardada e manipulada para fins publicitários e políticos. Não vamos deixar que o mesmo aconteça na nossa vida offline”.
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