
Miguel Sales Dias dirige a equipa de 33 pessoas que compõe o Microsoft Language Development Center. É responsável pela única estrutura do género na Europa e está em contacto constante com as equipas nos Estados Unidos, onde está o quartel-general da Microsoft e na China, onde existe outro centro do género.
Vai à sede da companhia de três em três meses, mas é por videoconferência que vai mantendo o contacto no dia-a-dia com os outros interlocutores da divisão global onde se insere o centro português.
Articular fusos horários a partir de Lisboa traduz-se em manhãs mais calmas e tardes preenchidas de reuniões à distância, que têm lugar sobretudo entre as 16h e as 20h. Primeiro acontecem as que ligam Lisboa à China, ou à India, e mais ao final do dia as que fazem a ponte com os Estados Unidos.
O centro português colabora no desenvolvimento de boa parte dos produtos da Microsoft que suportam interação por voz, como o Kinect, o Bing, ou a Cortana, que é um dos projetos centrais neste momento.
A assistente pessoal da Microsoft não é uma criação exclusiva de engenheiros portugueses, mas a sua essência passa por Portugal. Como refere Miguel Sales Dias, no caso da Cortana, como de vários outros produtos da Microsoft e de outras companhias do sector, o desenvolvimento já não está concentrado apenas num local.
A lógica de criação dos produtos de software passou a ser idêntica àquela que seguem os fabricantes de automóveis. As componentes são fabricadas em diferentes locais, que podem ser diferentes países, e depois são integradas para criar o produto final. Neste caso, essa integração é concretizada nos Estados Unidos. O esquema obriga a um contacto permanente das equipas e é isso que acontece.
No open space do Microsoft Language Development Center em Lisboa, integrado na sede da empresa em Portugal, está tudo preparado para essa interação. A sala de reuniões tem um sistema de videoconferência que permite colocar online em simultâneo todos participantes sentados à mesma mesa. Mas em todo o piso, partilhado com outras unidades de negócio, há pequenas salas equipadas com o mesmo tipo de tecnologia para interações com colegas de outras subsidiárias, ou com clientes, mais restritas no número de participantes. A gestão dos espaços mais privados é toda feita online por quem precisa de os usar. Não há assistentes “humanos” a apoiar as tarefas administrativas. Nem nesta divisão, nem noutras (com exceção da administração).
Cortana é desenvolvida em Portugal desde 2012
A equipa portuguesa do MLDC dedicada ao desenvolvimento de linguagem – há membros alocados a quatro áreas distintas e um elemento para a área financeira - trabalha em três componentes fundamentais: léxicos fonéticos; formas de normalização de texto (que permitem reconhecer diferenças na forma de apresentar datas, horas, números, etc) e gramáticas, para reconhecimento da fala.
Tem no currículo projetos como o desenvolvimento dos pacotes de reconhecimento e síntese de fala em português e noutras oito línguas para o Exchange. Nos últimos anos, mais concretamente desde 2012, tem trabalhado no Cortana.
Para que a assistente pessoal da Microsoft responda às questões que lhe colocamos precisa de reconhecer as palavras que compõem a frase, sintetizar essa informação e compreender o contexto do diálogo que se estabelece.
As duas primeiras componentes da tarefa (reconhecimento e síntese) são desenvolvidas em Portugal para todas as línguas e regiões internacionais do produto, exceto para os Estados Unidos e Canadá. É a tecnologia criada em Lisboa e no Porto que permite ao software reconhecer as palavras e interpretar o seu sentido em determinada frase.
A componente mais inteligente do software, aquela que assegura a compreensão do diálogo e das intenções do utilizador, também ocupa as equipas portuguesas mas sobretudo na componente de Big Data, onde é feita a análise de grandes volumes de informação provenientes das mais diversas fontes.
A imprensa, a fala recolhida pelos próprios centros da Microsoft, ou os dados resultantes da utilização da própria Cortana, quando o utilizador o autoriza, são as fontes de informação que ajudam a criar os modelos que permitam o reconhecimento da fala, mas também servem para afinar a capacidade dos produtos para interagir dentro de um contexto de comunicação específico.
É isso que garante, por exemplo, que se perguntarmos à Cortana “como vai estar o tempo hoje em Lisboa?” e a seguir dissermos apenas “e amanhã?” conseguimos obter duas respostas dentro do mesmo contexto, explica Miguel Sales Dias.
O Big Data assume um papel central na melhoria deste tipo de interação em produtos como a Cortana, que chegam ao consumidor como uma aplicação simples e intuitiva mas que carregam anos de investigação, recolha e tratamento de informação, num processo que se renova constantemente, como a língua.
Uma equipa com várias nacionalidades mas onde predominam portugueses
No Microsoft Language Development Center português trabalham 33 pessoas. Vinte estão em Lisboa, 10 no Porto e outras cinco dispersas pela Europa. Há várias nacionalidades na equipa, embora a maioria sejam portugueses. A maior parte da equipa está focada no suporte ao desenvolvimento de novos produtos da Microsoft.
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No universo Cortana, o suporte para novas línguas é uma das tarefas. O português europeu é uma das línguas que ainda não é suportada pelo software que a Microsoft já integrou no Windows Phone, no Windows 10 e que progressivamente levará a outros produtos, mas uma boa parte do trabalho está concluído.
“As componentes de síntese e reconhecimento de fala já estão prontas”, adianta Miguel Sales Dias. E a voz portuguesa já tem nome, será Hélia. Para que exista uma versão do software em português europeu também é preciso desenvolver a componente de reconhecimento do domínio e intenção do utilizador durante o diálogo. Esse trabalho ainda está por fazer, mas já existe para português do Brasil e, graças ao acordo ortográfico, a adaptação para português europeu será de baixo custo. Agora é tudo uma questão de roadmap e prioridades estratégicas do grupo.
Mas no centro português também há espaço para participar em projetos de investigação europeus. A integração de seniores na vida ativa, tirando partido das Tecnologias da Informação e a acessibilidade são os temas centrais das iniciativas em que o grupo tem estado envolvido. Decorreram no âmbito do 7º PQ e algumas ainda estão em fase de conclusão.
O TeK esteve na sede da Microsoft Portugal, em Lisboa, quando falou com Miguel Sales Dias para conhecer melhor os projetos que ocupam a equipa do MLDC. Lá estão 16 membros da equipa, que também tem colaboradores no Porto e em Coimbra, na Catalunha, Holanda, Alemanha e Itália.
O espaço tem três pisos de áreas arrumadas em open space, onde diretores e equipas partilham espaço nas mesmas ilhas de secretárias. Todos os pisos têm zonas de cacifos onde são arrumados os objetos pessoais de cada colaborador.
Também há salas para relaxar e pensar nos novos projetos, para fazer reuniões e receber eventos, copas e fruta fresca todas as manhãs. No último piso há uma vista para o Tejo de fazer inveja, para inspirar os engenheiros que há 15 anos trabalham a partir de Portugal na investigação de novos produtos Microsoft. O 15º aniversário do centro assinala-se em novembro.
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