Por Pedro Gentil (*)

As salas de aula portuguesas espelham a diversidade da nossa sociedade, refletindo o aumento do número de imigrantes de múltiplas nacionalidades que Portugal tem acolhido.

Porém, para além do impacto produzido pelo aumento quantitativo, importa destacar a alteração do perfil de uma percentagem significativa dos migrantes, que são agora oriundos de países onde o português não é a língua nativa.

Este novo contexto gera desafios complexos nas nossas escolas, pois as dificuldades de comunicação e compreensão linguística limitam tanto a aprendizagem quanto a integração plena no meio escolar e social.

No entanto, a diversidade em sala de aula vai além das variações linguísticas. Qualquer turma é, por natureza, heterogénea, integrando alunos com ritmos de aprendizagem distintos, backgrounds educativos variados, diferentes estilos de aprendizagem e, em alguns casos, necessidades educativas específicas que requerem abordagens pedagógicas diferenciadas. Garantir que cada um destes perfis encontra respostas adequadas é crucial para o sucesso educativo de todos.

Como podemos, então, assegurar uma educação verdadeiramente inclusiva neste contexto multifacetado? A resposta não é simples, mas a tecnologia pode ser parte da solução.

Antes de apresentar propostas, a LeYa auscultou professores de todo o país, constatando que os maiores desafios enfrentados pelos docentes se relacionam com o desconhecimento da língua portuguesa por parte de um número significativo de alunos estrangeiros e com o trabalho de adaptação de recursos didáticos, por parte dos docentes, à diversidade de ritmos, estilos e necessidades específicas dos alunos.

Para apoiar os professores nestes desafios complexos, avançámos com a integração e o desenvolvimento de ferramentas e soluções digitais e, em simultâneo e de forma sinérgica, com a criação de novos componentes para os projetos escolares.

No que diz respeito à barreira linguística, disponibilizámos na Aula Digital (a Plataforma de Educação da LeYa) uma ferramenta de tradução instantânea que permite converter para mais de 120 idiomas os textos dos manuais, dos cadernos de atividades e dos recursos digitais que incluam texto, facilitando o processo de aprendizagem dos alunos que não dominam o português. Complementarmente, disponibilizámos legendas nos vídeos e animações de exposição de conteúdo (disponíveis em português e nas dez línguas estrangeiras mais faladas em Portugal).

Para responder aos diferentes perfis dos alunos, e para além da oferta digital “tradicional” que acompanha os projetos escolares, produzimos manuais e cadernos interativos que, para além das ferramentas de tradução já mencionadas, integram os recursos digitais (vídeos, animações, sínteses, etc.) junto ao respetivo conteúdo e apresentam versões interativas dos exercícios (com dicas orientadoras e correção automática).

Em sala de aula, este tipo de ferramenta dá ao professor a flexibilidade de poder selecionar exercícios ou recursos digitais específicos para determinados alunos (respondendo às áreas em que apresentam maior dificuldade ou selecionando tipologias que melhor se ajustam ao estilo de aprendizagem pretendido) – para além de apresentarem outras vantagens, como poupar tempo, por exemplo, na correção dos exercícios.

No estudo autónomo dos alunos, a diversidade de recursos multimédia é igualmente um complemento dinâmico do manual e ajustado a diferentes estilos de aprendizagem e de necessidades específicas.

Nesta dimensão, importa ainda referir a disponibilização, em formato físico e digital, de Manuais Inclusivos (versões simplificadas dos manuais, com diferentes níveis, adaptadas para alunos com necessidades educativas específicas) e Fichas de Trabalho Multinível, aumentando ainda mais o leque de recursos ao dispor dos docentes, permitindo-lhes construir percursos de aprendizagem personalizados para os alunos.

A inclusão não é uma utopia. É um desafio exigente, mas alcançável, em que as ferramentas digitais, se usadas com intenção e integradas numa visão pedagógica clara, são aliadas poderosas, com imenso potencial para ajudar a construir uma escola mais real, mais justa e mais preparada para acolher cada aluno.

(*) Especialista em Design Instrucional no Grupo LeYa