No painel “A Leap into the Future of Digital Entertainment & Information”, moderado por Joana Petiz, diretora editorial do SAPO, discutiu-se sobre a nova forma de consumo dos conteúdos, nomeadamente pelas redes sociais e como isso tem impacto nos meios de informação e entretenimento.

O CEO do Observador, Rudolf Gruner considera que tudo mudou e de forma muito rápida nos últimos anos. E todos os dias continua a mudar, sendo preciso ter capacidade de adaptação. E dá o exemplo como antes se comprava o jornal no quiosque e se leiam as noticias ao café. Depois nos computadores lia-se em formato digital, mantendo o mesmo hábito, mas em formato diferente. Atualmente são as redes sociais que apresentam os conteúdos que as pessoas leem. No caso do Observador, a sua Homepage valia há alguns anos cerca de 60% do tráfego do portal e atualmente vale 14-15%.

Considera que as pessoas se tornaram mais reativas e não proactivas na procura das notícias. E avança com o exemplo das notificações push, em que antes fazia de 3 em 3 dias e apenas para acontecimentos muito especiais. Atualmente faz entre 80-100 por dia e mesmo considerando ser demasiado, há pessoas que desligam as notificações, mas muitas consomem dessa forma.

Veja na galeria imagens do Portugal Digital Summit 2024:

Afirma ainda que as pessoas passam mais tempo nas redes sociais, como o Instagram, e são capazes de passar duas horas em scroll do que a ler uma noticia ou a assistir ao telejornal. E por isso os meios tiveram de se adaptar e estar presentes nessas plataformas, assumindo de alguma forma a culpa em criar os conteúdos que mantêm as pessoas fora do portal e a perder tráfego. Mas sente a missão de publicar os melhores conteúdos onde estão as pessoas. “As pessoas saciam-se com pouca coisa, ao ritmo do scroll”, é referido no painel.

A televisão também tem vindo a sofrer grandes alterações e como disse Nuno Santos, diretor da CNN Portugal e TVI, há a necessidade de manter os dois telejornais fortes por dia, do almoço e jantar, mas os respetivos conteúdos devem depois estar disponíveis em outros canais e formatos, tais como podcasts ou adaptados à linguagem das redes sociais. Tem de ter produção para todas as horas do dia, pois existe público constante. No entanto, considera que o jornal tem de ser feito de forma apelativa, ser mais dinâmico e flexível.

No campo do entretenimento, Ricardo Domingues, head of international market da Betclic, disse que a sua oferta começou por ser reduzida, mas atualmente é um hub de entretenimento. E anualmente contabiliza 158 mil eventos ao vivo, cerca de 90 mil são realizados em streamings, numa média de 250 por dia. Sendo uma plataforma de entretenimento, o objetivo é captar a atenção do consumidor. Embora mantenha como principal foco as apostas online.

Ricardo Domingos diz que 0,75% dos consumidores tinham tendência de desenvolver o vício no jogo, mas que a IA permite agregar dados massivos e em tempo real para detetar padrões de comportamento dos jogadores e dessa forma fazer mudanças no paradigma do jogo responsável. A IA vai permitir, de forma preditiva, antecipar problemas, desde a desaceleração da atividade do consumidor ou mesmo fazer com que pare de jogar. E antes não era possível fazer essa antecipação e com isso, espera, nos próximos anos que os problemas do Jogo sejam diminuídos.

Para si, plataformas como a Twitch e a Kick são as grandes rivais na oferta de conteúdos, da mesma forma que o Netflix ou YouTube. E aponta que os consumidores mais novos não conseguem assistir ao jogo de futebol de forma exclusiva, tem défice de atenção e utiliza múltiplos ecrãs. E por isso as ofertas têm de ser adaptadas a esse novo paradigma de consumo.

O líder da CNN diz que como meio tradicional, considerando que uma estação em sinal aberto, operações digitais e ainda os canais de sinal fechado, todo o acompanhamento é mais difícil do que os portais criados como uma folha em branco, como o Observador ou o Betclic, que são nativos digitais. A firma que uma notícia é uma notícia, as regras são as mesmas, mas agora é diferente a forma como esta é entregue ao espetador e tem de se explorar a forma como se consome.

Para o Observador se sobressair, Rudolf Gruner diz que a palavra mágica é o “engagement”, ou seja, a capacidade de as marcas de comunicação criarem relações emocionais com os seus leitores e seguidores. E acrescenta que é difícil prender alguém a uma marca, mas só vão sobreviver aqueles que conseguem ter um bom engagement e isso reflete-se nas vendas de banca que continuam a diminuir. Afirma que o Observador é uma das únicas três marcas que em Portugal conseguem convencer os leitores a pagar subscrições. Diz que isso se consegue através de conteúdos com qualidade.

Em relação a métricas, antes era tudo sobre visualizações de páginas, mas agora existem outras, como o tempo médio de leitura num artigo em comparação com outro com a média de caracteres semelhante. Na redação são gerados relatórios diários para a direção e todos os jornalistas recebem as métricas de engagement dos seus artigos para perceberem os assuntos mais interessantes. Isso depois reflete-se nas assinaturas, se as pessoas pagam ou não esse valor acrescentado para aceder aos conteúdos.

Existe uma sobreposição entre o entretenimento e informação, considera Ricardo Domingues. E afirma que consome coisas do Financial Times ou The Wall Street Jornal, mas através do Instagram, referindo que raramente existem conteúdos que o incentivem a ultrapassar a “paywall” para os aceder. Mas Nuno Santos também acredita que existe um público para ler artigos mais longos e com maior profundidade da matéria. Os seus artigos importados da CNN são um exemplo de que a tese de “tem de ser tudo a correr” não é sempre verdade.

O papel da IA vai ajudar estes meios a adaptarem-se à nova realidade de consumo. Os milhões de dados transacionais, segundo Ricardo Domingues, permitem a análise de padrões e dessa forma criar hiperpersonalização dos conteúdos. Para o Observador, a IA generativa foi abraçada pela redação, mas com o cuidado. E as análises aos seus leitores permitem identificar quando fazer campanhas para angariar determinado leitor para renovar ou assinar, mediante a sua propensão.

E para o futuro já está a ser preparadas formas de um jornalista utilizar a IA para acelerar a pesquisa de tópicos daquilo que já foi publicado para trás na plataforma, não se fiando apenas nos motores de busca. Da mesma forma que os conteúdos publicados são varridos pela IA para criar conteúdos rápidos, de duas linhas para os leitores que não têm tempo de ler, revisto por um editor. Rudolf Gruner diz que a IA pode pegar num conteúdo, escolher momentos, fazer cortes verticais para o TikTok, legendar automaticamente e entregar ao editor para validar e publicar.

E se a IA ajudar a encurtar o tempo com que se criam os conteúdos, então esta deve ser utilizada, mesmo significando que um robot nunca fará o trabalho de um jornalista.

Acompanhe a transmissão dos vários palcos do Portugal Digital Summit em direto nos dias 23 e 24 de outubro de 2024.

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O SAPO TEK está a acompanhar os dois dias do Portugal Digital Summit’24, a partir do Técnico Innovation Center. Siga todas as notícias aqui, assim como a transmissão em direto do evento.