Nos últimos anos, os dispositivos inteligentes transformaram as casas em espaços interconectados, prometendo conforto e eficiência sem precedentes, mas não sem trazerem consigo uma sombra crescente de preocupações com a privacidade e a segurança. Este cenário sublinha uma narrativa global: os equipamentos que deveriam facilitar as nossas vidas podem, nas mãos erradas, comprometer a nossa intimidade. O alerta é da Check Point.

Dispositivos como assistentes de voz, câmaras de segurança e wearables registam diariamente informações detalhadas sobre os seus utilizadores. Desde rotinas diárias a padrões de sono, estados emocionais e hábitos de compra, estas máquinas criam uma “impressão digital” completa de cada indivíduo.

Este volume de dados ultrapassa frequentemente aquilo que até os médicos ou familiares próximos poderiam saber, sublinha a Check Point.

As grandes empresas tecnológicas usam algoritmos avançados para analisar estas informações, não apenas para personalizar serviços, mas também para criar perfis direcionados para publicidade e outros fins comerciais. Em 2018, o escândalo do Facebook e da Cambridge Analytica demonstrou como estas práticas podem ser exploradas de forma abusiva, destacando os perigos associados à recolha e ao uso não regulamentado de dados pessoais, recorda a consultora de cibersegurança.

Muitos utilizadores desconhecem até que ponto as permissões que concedem a aplicações ou dispositivos são invasivas. Ao aceitarem termos e condições longos e complexos, dão luz verde a práticas que podem incluir a partilha de dados com terceiros sem o seu conhecimento explícito. Embora estas informações sejam frequentemente usadas para fins comerciais, o potencial de abuso vai mais além, abrangendo vigilância estatal e espionagem.

A Check Point sublinha que, apesar dos esforços regulatórios, a supervisão continua a ser limitada. Leis como o RGPD, na Europa, oferecem alguma proteção, mas a aplicação destas normas enfrenta desafios, especialmente no contexto de empresas estrangeiras.

Medidas em curso e sugestões do caminho a seguir

Governos de todo o mundo começam a reagir. As medidas incluem a proibição de dispositivos fabricados por empresas associadas a regimes autoritários, a definição de normas mínimas de segurança para dispositivos IoT e a implementação de regulamentos abrangentes, como a legislação da União Europeia, que obriga os fabricantes a cumprirem requisitos de segurança e privacidade, reforçando a confiança dos consumidores.

Por outro lado, o debate sobre a recolha de dados e as diferenças culturais na abordagem à privacidade influencia o mercado global. Em regimes mais autoritários, a recolha de dados é frequentemente vista como uma ferramenta de controlo estatal, aumentando as tensões geopolíticas e as preocupações sobre a soberania digital.

Proteger a privacidade num mundo cada vez mais interligado exige colaboração entre governos, entidades reguladoras e consumidores, sugere a Check Point. “A consciencialização pública sobre os riscos associados a dispositivos inteligentes é fundamental, bem como a implementação de normas de segurança rigorosas”, aponta a consultora.

Enquanto isso, as casas inteligentes tornam-se cada vez mais vulneráveis a “intromissões” invisíveis. Até que ponto estamos dispostos a trocar a nossa privacidade por conveniência? O futuro da segurança digital dependerá das respostas que encontrarmos.