Após vários meses de preparação, uma equipa de autoridades nacionais e internacionais conseguiu derrubar dois dos maiores portais de venda de droga da internet. Na consequência de uma investigação conjunta, que articulou representantes e informações provenientes do FBI, da Europol, da DEA e da Polícia Holandesa, foram desmanteladas as plataformas Alpha Bay e Hansa, responsáveis pela comercialização de mais de 350 mil mercadorias ilícitas que, para além de estupefacientes, incluía ainda armas de fogo e malware.
Em comunicado, a Europol escreve que esta foi uma das operações mais sofisticadas de sempre no combate ao crime online.
"As capacidades dos traficantes de droga [...] foram fortemente debilitadas hoje [dia 20 de julho] depois de uma ação conjunta em vários países. Ao atuarmos juntos numa base global, a comunidade de autoridades conseguiu passar uma mensagem clara de que dispõe dos meios para combater e identificar criminalmente, mesmo ao nível da Dark Web", disse, numa conferência de imprensa, Rob Wainwright, diretor executivo da Europol. "Há mais operações destas a chegar", acrescentou.
O Alpha Bay era um dos maiores mercados de atividade criminosa da Dark Web. Utilizava uma rede Tor para camuflar a identidade dos seus utilizadores e a localização dos seus servidores e já tinha uma comunidade de 40 mil vendedores em todo o mundo.
Ao todo, estavam listadas para venda mais de 250 mil drogas e materiais químicos e cerca de 100 mil documentos fraudulentos, identidades roubadas, credenciais de acesso a contas online, ferramentas de hacking, malware, armas de fogo, serviços ilegais e produtos contrafeitos.
As compras eram concretizadas com recurso a Bitcoin e a outras criptomoedas. As primeiras estimativas apontam para transações no valor de mil milhões de dólares desde a criação deste portal, em 2014.
O ponto de partida para esta operação final foi providenciado pela Europol, que tem vindo a sustentar várias investigações a portais criminosos da Dark Web nos últimos anos. Em parceria com a Bitdefender, uma empresa especializada em cibersegurança, a agência conseguiu obter uma pista com ligação à possível localização das infraestruturas do Hansa, na Holanda. As investigações da polícia holandesa levaram depois à localização e detenção dos seus dois administradores, na Alemanha, e ao encerramento dos servidores que hospedavam este portal, na Lituânia, Holanda e Alemanha.
Nas semanas que se seguiram à tomada de controlo do site, as autoridades trataram de recolher informações acerca da sua comunidade de utilizadores, como foi o caso de 10 mil moradas internacionais associadas a vários dos contactos presentes.
O criador e administrador do Alpha Bay foi igualmente detido no seguimento da operação Bayonet, liderada pela DEA e pelo FBI. O homem foi encontrado na Tailândia, no passado dia 5 de julho, onde vivia uma vida de luxo.
Os servidores deste mercado, localizados no Canadá e na Holanda, foram apreendidos.
Em declarações à imprensa, Dimitris Avramopoulos, comissário europeu, disse que este tipo de ameaças "só pode ser combatido em conjunto, a uma escala global". "O desmantelamento de dois dos maiores mercados criminais da Dark Web mostra a importância e a necessidade de manter uma cooperação internacional na luta a este tipo de atividade".
A estratégia de articulação entre as várias forças da autoridade foi, como sublinha a Europol em comunicado, o maior destaque desta operação.
Explica a agência que, para atacar as operações destas organizações, foi necessário tomar o controlo do Hansa de forma secreta sob a jurisdição holandesa, o que permitiu à polícia daquele país monitorizar as atividades dos utilizadores sem o seu conhecimento. Desta forma, adianta, foi possível identificar a atividade criminal deste mercado, mas também identificar os utilizadores provenientes do Alpha Bay que procuravam uma nova loja para manter os seus negócios. A estratégia foi bem sucedida e os números comprovam-no. Após o fecho do Alpha Bay, o Hansa aumentou o seu número de utilizadores substancialmente.
A Europol foi a coordenadora de ambas as investigações e, através do Centro Europeu de Cibercrime (EC3), forneceu suporte técnico e forense aos procedimentos que assim o exigiram. Os canais de comunicação da polícia europeia foram ainda utilizados para articular contactos entre todas as agências envolvidas.
Apesar da detenção dos responsáveis e do fecho do site, a Europol escreve ainda que vai continuar a manter o apoio a todas as autoridades que estiverem encarregues de analisar as informações extraídas do Hansa e do Alpha Bay.
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