“Quem acredita num Portugal Vencedor?” A pergunta abriu o 27º Congresso da APDC e a resposta passa ao lado do sector das telecomunicações e dos media, mas traz lições de liderança. Este ano o primeiro convidado da associação para o congresso que decorre hoje e amanhã, 27 e 28 de setembro, no Centro Cultura de Belém, foi o Eng. Fernando Santos, treinador da Seleção portuguesa. Engenheiro mas não na área das TIC, e com uma carreira que há muitos anos não passa pela sua área de formação, mas que deixou mensagens sobre os requisitos básicos para uma cultura de vitória: organização, concentração, paixão e confiança.

A memória da vitória de Portugal no Europeu de Futebol de 2016, e do percurso feito para lá chegar, deu o impulso à ideia de que Portugal é capaz. “Quanto mais cedo acreditarmos, mais cedo vamos conseguir”, defendeu Fernando Santos, que deixou uma mensagem dirigida sobretudo aos mais novos, para que sejam audazes mas que tenham humildade e aliem as competências a esse espírito para conseguirem vencer os desafios.

Rogério Carapuça, presidente da APDC, pegou no mesmo mote e lembrou que a transformação digital é cada vez mais rápida, mais caótica, e que promove a transferência de valores em ciclos mais curtos. Fazendo uma comparação entre valores de volume de negócios das maiores empresas e os países, Rogério Carapuça lembra que a revolução digital, embora recente, já gerou empresas mais poderosas do que muitos estados, adiantando que a Apple vale quatro vezes mais do que o PIB português. Mas que se olharmos para a tesouraria a discrepância é ainda maior, com os Estados a apresentarem défice enquanto as empresas apresentam lucros.

“As maiores comunidades da Terra são digitais, permitindo ligação instantânea entre os participantes”, adiantou ainda o presidente da APDC, sublinhando que uma nova ordem mundial emerge da economia digital, que muda o balanceamento dos equilíbrios tradicionais e traz novos desafios à realidade.

“Portugal está a ganhar velocidade, no ano passado pedi um Portugal a crescer e cá o temos […] mas esse é um começo, tem de ser sustentável”, defende.

Para Rogério Carapuça, qualificar para o digital é o grande desafio. “Ninguém está dispensado e estudar mais”, lembra, dando continuidade à ideia já transmitida num vídeo com jovens apresentado ao congresso, onde a hashtag é #continuaraestudar.

Casos de sucesso na Administração Pública

Este ano a APDC apresentou um estudo da Economia Digital que analisa perto de 100 casos de transformação em empresas e organizações portuguesas, abarcando 18 sectores de atividade e cinco áreas transversais.  Os exemplos são acompanhados dos resultados do Índice de Densidade Digital (IDD) realizado pela Accenture Strategy e a Oxford Economics, e que estima que atualmente a Economia Digital tem um impacto cerca de 6 vezes maior no PIB dos países desenvolvidos do que o tradicionalmente estimado.

A Administração Pública é também analisada neste estudo mas Maria Manuel Leitão Marques, ministra da Presidência e da Modernização Administrativa, dedicou a sua intervenção a analisar o que tem sido feito a nível de eGovernment em Portugal, e os desafios que ainda subsistem para conseguir avançar de forma mais rápida.

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“O eGovernment em Portugal tem cada vez mais exemplos de sucesso. Mas há muito trabalho para fazer e temos que continuar a melhorar” defende a ministra, sublinhando que é preciso estar atento às mudanças tecnológicas como a Inteligência artificial, blockchain ou data science, e que a pressão para a Administração Pública inovar é cada vez maior.

Entre os desafios apontados por Maria Manuel Leitão Marques está a escassez de competências na área digital, a organização dos recursos e o combate ao isolamento, a forma de desenhar processos que deve ser cada vez mais top down e ainda as questões ético-políticas e a boa relação custo-benefício nos projetos.

A ideia é fazer mais com menos, e embora não seja fácil a ministra garante que “acreditamos que é possível”.

À distância, numa mensagem lida aos congressistas, o presidente da república, Marcelo Rebelo de Sousa, mostrou igualmente a sua confiança na capacidade de antecipação das empresas perante as profundas mudanças da economia digital. “Sei que saberão aproveitar as oportunidades do atual ciclo de crescimento económico porque, apesar das incertezas na geopolítica mundial, há motivos para renovada esperança em Portugal”, conclui.