O crime aconteceu há três anos no Arizona, quando Chris Pelkey, de 37 anos, foi apanhado no meio de um tiroteio numa estrada e acabou por ser atingido e morrer. O assassino foi condenado a 10 anos e meio de prisão e na leitura da sentença a família quis que fosse o próprio a ler a declaração final da vítima.

Isso foi feito com recurso a imagens, vídeos e registos de áudio do homem morto, transformados com ajuda de inteligência artificial num vídeo realista de Chris Pelkey a falar de viva voz.

A família explicou que quis criar o vídeo para dar voz ao homem e permitir que ele próprio expressasse as palavras que havia de gostar que fossem ditas na ocasião, tendo em conta a capacidade de perdoar que a família lhe reconhecia.

A irmã que foi a autora do vídeo trabalha na área tecnológica e explicou à CNN que esta nunca foi uma forma de influenciar o juri que decidiu o caso, mas um gesto que faz parte do processo de cura da família. O vídeo só foi partilhado no fim do julgamento, já sem juri na sala, no dia da sentença. Tem uma declaração para o homicida, imagens reais de Chris Pelkey a explicar quem é, o que faz e que crenças tem, mensagens para a família e até para o juiz, já em modo personagem de IA.

"A Gabriel Horcasitas, o homem que atirou em mim, digo que é uma pena que nos tenhamos encontrado naquele dia, naquelas circunstâncias. Noutra vida, provavelmente poderíamos ter sido amigos", referia o vídeo da versão digital do homem assassinado. "Acredito no perdão e num Deus que perdoa. Sempre acreditei e ainda acredito", acrescentou na declaração.

A introdução deste tipo de vídeos em julgamentos não é consensual. O juiz do caso, que permitiu o vídeo, agradeceu o conteúdo e considerou positivo que, mesmo com a família zangada e magoada, tivesse sido possível encerrar o julgamento com uma mensagem de perdão.

Outros especialistas em direito defendem que é preciso cuidado com este tipo de recursos, como assinalou Derek Leben, professor de ética empresarial da Carnegie Mellon University, em declarações à BBC.

Não há grande forma de assegurar que as palavras postas “na boca” de alguém que já morreu reproduzam exatamente aquilo que a pessoa sentiria e diria se pudesse de facto falar naquele momento.