Começam hoje os Jogos Olímpicos de Paris, o destino das modalidades durante as próximas semanas, e o breakdance é a grande estreia como modalidade olímpica oficial. Portugal vai estar representado neste desporto por Vanessa Farinha, conhecida no meio artístico e desportivo como B-Girl Vanessa, que aos 32 anos assume ser este o ponto alto da sua longa carreira, admitindo que espera obter bons resultados.

Em entrevista ao SAPO TEK, a dançarina diz que praticou ballet clássico e contemporâneo durante a infância e adolescência, tendo começado com apenas três anos, seguindo-se um contacto com o hip hop e street dance. As coreografias que via nos videoclips musicais serviram de inspiração a Vanessa e os seus próprios professores já conheciam o conceito de batalhas de rua. Quando se mudou de Leiria para Lisboa, ingressando na Escola Superior de Dança, começou a fazer breakdance, “fui contagiada por amigos a participar mais em breaking”.

Mas foi quando terminou a universidade e se mudou para Londres é que deu conta da dimensão da modalidade, “a cena do breakdance é muito grande e é muito mais fácil de ter conhecimento de outros países e muito mais rápido do que chegava aqui”. A mudança para Londres permitiu-lhe crescer no meio, participar em mais batalhas, abrindo-lhe portas para viajar e a partir de então cunhar o seu nome neste meio artístico e desportivo.

B-Girl Vanessa
B-Girl Vanessa Créditos: Hugo Silva / Red Bull Content Pool créditos: Hugo Silva / Red Bull Content Pool

A dançarina é embaixadora da Red Bull, uma vez que há 20 anos que a marca de bebidas energéticas investe no breakdance, sendo atualmente o principal evento cultural de breaking, o Red Bull BC One. Segundo B-Girl Vanessa, esta competição foi determinante para ser escolhida como modalidade oficial nos Jogos Olímpicos. “Ser reconhecida pela Red Bull, é ser considerada como das melhores do mundo. Apenas os melhores pisam os palcos da Red Bull”. A proposta para ser embaixadora surgiu quando venceu pela primeira vez a prova da Red Bull em Portugal. Antes disso, venceu em 2019 o Red Bull BC One Cypher britânico e em 2022 foi bronze no campeonato europeu. No ano passado tornou-se profissional, sendo integrada no grupo de elite da Red Bull.

Considera que a parte mental no breaking é mais importante que o físico, não sendo apenas treinar, executar movimentos e ir para casa. É preciso trabalhar o psicológico, o ambiente, além de que os fatores externos influenciam a dança e a forma como os atletas se sentem.

Os Jogos Olímpicos de Paris vão colocar 16 atletas do topo mundial, mas afirma que o apuramento não foi fácil, tendo uma lesão no cotovelo que complicou o processo. E agora só pensa em trazer uma medalha para Portugal. Ao SAPO TEK, Vanessa explica que a adoção da modalidade pelo Comité Olímpico foi uma notícia muito positiva, uma mudança necessária para outro caminho.

Uma vez que existe a vertente cultura do breakdance e agora desportivo, algo que vai certamente inspirar as novas gerações. “Não é apenas ficar agarrado ao telemóvel, através do breaking abrem-se portas para visitar outros países e conhecer pessoas extraordinárias com as quais podem partilhar informações e passar um bom bocado a dançar”. Para B-Girl Vanessa, a entrada do breakdance nos Jogos Olímpicos dá uma nova conotação à modalidade, que era considerada negativa, porque nunca teve grande publicidade e não era publicitada como desporto.

Vanessa distingue a vertente mais relaxante do evento cultural, podem estar mais libertos entre a competição e descanso para conviver. Na parte competitiva existem critérios mais rigorosos de avaliação. Existem cinco critérios avaliados: musicalidade, originalidade, execução, vocabulário e técnica. Os atletas necessitam de pontuar o máximo possível para ter o melhor desempenho. Estes são os pontos de comparação para distinguir os melhores atletas que ainda assim são obrigados a manter elevada a fasquia da originalidade e diferenciadora nas suas coreografias.

Na sua rotina diária, Vanessa diz que faz ginásio da parte da manhã e à tarde faz todo o tipo de breaks, depende também do seu cansaço, podendo dividir-se entre o cárdio ou a prática de movimentos ou apenas entradas e fundamentos. O resto do dia guarda para si, pois considera que o estado mental é ainda mais importante que o físico nesta modalidade.

B-Girl Vanessa
B-Girl Vanessa Créditos: Hugo Silva / Red Bull Content Pool créditos: Hugo Silva / Red Bull Content Pool

Olhando para o lado tecnológico e digital da sua carreira, Vanessa considera que as redes sociais como o Instagram são agora mais importantes que nunca. Explica que desde que começou que surgem sempre perguntas do lado feminino e com os seus próprios ídolos tinha alguma vergonha para se dirigir a elas para falar. As redes sociais oferecem oportunidades de exposição das dificuldades e as motivações para fãs de todo o mundo, tal como se tivessem presentes fisicamente. Utiliza a sua conta no Instagram para expor o seu trabalho a nível global, os seus vídeos e coreografias.

O breakdance serviu igualmente como passaporte para viajar por todos os continentes, faltando-lhe apenas a Oceania. Dos que visitou, aquele que tem mais cultura do breakdance é o Japão, mas o Brasil é a sua escolha para preparação e inspiração, pelo calor, comida e música. Mas considera que a Europa é onde está a nata do break, onde num espaço tão “reduzido”, com países muito próximos, encontra-se uma grande diferenciação de estilos. Olha para o Brasil, Japão e Estados Unidos com estilos semelhantes, mas depois vê a Espanha, França ou Portugal com diferentes essências e originalidade.

A atleta e dançarina considera o seu papel de influenciadora da modalidade, tem de ser responsável pelas suas atitudes, não pode ser radical nas suas ações porque tem novas gerações a olhar para si. Mas sente-se totalmente confortável, sendo aquilo que mais deseja, levar o nome das mulheres ao mais alto nível.

Vanessa
Vanessa Créditos: Nika Kramer / Red Bull Content Pool créditos: Nika Kramer / Red Bull Content Pool

Um dos seus projetos é dar aulas, algo que parou nos últimos dois anos para se preparar para os Jogos Olímpicos. Durante a pandemia criou um projeto com o objetivo de trabalhar a parte física e mental de todas as mulheres que desejem seguir desporto, seja bailarinas e dançarinas, trabalhar tanto a parte física como mental. Pretende no futuro voltar a colocar esse projeto em funcionamento, dar mais workshops, vender programas e aulas, mantendo-se sempre envolvida neste meio do breakdance.

A tecnologia é igualmente importante na sua vida. Não é gamer, apenas jogava com o irmão na PlayStation quando era mais nova, mas perdeu o contato aos jogos quando abraçou o desporto. As ferramentas para editar os seus vídeos, a componente mídia ou simplesmente ouvir música para relaxar. Além de atleta é a sua própria agente, por isso trata da promoção e a burocracia associada à sua profissão. Teve de aprender a lidar com isso, sempre com a ajuda dos equipamentos tecnológicos.