Se gosta de eSports, mais concretamente das competições do simulador de futebol FIFA, certamente que já ouviu falar de Diogo Pombo, mais conhecido como tuga810. O jovem de 23 anos é um dos melhores jogadores portugueses de FIFA e acaba de se sagrar campeão do mundo no FIFAe Club World Cup 2022, o major oficial da Electronic Arts, ou seja, a principal competição mundial de FIFA. O jogador português venceu o mais importante troféu do ano juntamente com o seu companheiro de equipa AndoniiPM, ao serviço do clube espanhol Movistar Riders, angariando um prémio monetário de 100 mil dólares.
Em entrevista ao SAPO TEK, tuga810 refere que já passou uma semana, mas que ainda está a desfrutar o momento. “Já ganhei muitos torneios em Portugal e lá fora sempre fui muito consistente, chegava longe, mas nunca tinha ganho um major”, referiu o jovem atleta, destacando que se trata do seu expoente máximo da sua carreira de quatro anos, não esquecendo o apoio da equipa que diz ter-lhe dado boas condições para obter a melhor prestação no torneio.
Veja na galeria imagens da vitória de Diogo Pombo na final FIFAe Club World Cup 2022:
Ainda sobre o seu clube, a Movistar Riders, diz que a sua ingressão acabou por surgir de forma natural, uma vez que tinha uma ligação passada a organização. Explica que o início do ano que a equipa fazia bootcamps no seu escritório em Madrid e torneios dos quais participava muitas vezes. Diz que ia à capital espanhola pelo menos uma vez por mês para treinar e competir. “As condições do clube são espetaculares, nunca vi nada como eles em Portugal”, salientando que as suas condições ajudaram a dupla a vencer o importante torneio.
O grande apoio da comunidade
Apesar de encarar o FIFA competitivo como a sua profissão, Diogo Pombo afirma que tem um plano B, para quando arrumar as chuteiras virtuais. Quando acabou o 12º ano foi para a academia militar e está a tirar no ISEC o mestrado de contabilidade, fiscalidade e finanças empresariais. “Já tive vários pensamentos, numa pensei que jogar FIFA durasse tanto tempo, pensei em estar dois ou três anos no topo e depois dedicar-me aos estudos”. No entanto, acabou neste momento a sua quarta temporada, sempre a competir entre os melhores. “O gosto não desaparece, está sempre a aumentar, a querer jogar e a criar conteúdos para as redes sociais”.
Diz que tem um grande apoio da comunidade que o ajuda, com muitos fãs a reverem-se nele próprio. Tuga810 diz que já não pensa largar o comando, querendo desfrutar ao máximo e manter-se ao mais alto nível, se possível, por muitos anos, assim como a fazer conteúdos. No entanto, deixa a mensagem aos seus fãs que tem um plano B, que diz respeito aos seus estudos e a conclusão do seu curso. Apesar de não ser algo linear, consegue conciliar as duas atividades, destacando que o planeamento e a gestão de horário acabam por ser muito importante. “É como praticar desporto e trabalhar, que é sempre possível, não sendo preciso deixar uma para se dedicar a outra.
Falando do início da sua carreira, afirma que a sua história é um pouco caricata. Diz que sempre jogou FIFA desde pequeno e era sempre aquele que ganhava ao irmão, pai e amigos. O jovem, natural de Castelo Branco, refere que em 2019 soube pela família que ia haver um torneio na sua terra e reunia os melhores jogadores de FIFA de Portugal. Nunca tinha jogado com eles e era uma oportunidade de os conhecer. O certo é que o jovem desconhecido da altura acabou por vencer o torneio contra as estrelas da época.
A partir daí decidiu aplicar-se mais, elevando um pouco mais com seriedade este hobby, praticando mais. Reparou que o FIFA oferecia aos fins-de-semana uma liga para os melhores jogadores. Começou a obter vitórias e ao comparar estatísticas descobriu que era dos melhores jogadores. Assim, começou a aplicar-se para a apuração para os torneios presenciais, “apanhei o comboio e até hoje nunca mais parou”.
"Há quatro anos era difícil ter um ordenado superior ao mínimo de Portugal como profissional de eSports".
Há quatro anos, quando começou a jogar profissionalmente, não era financeiramente muito recompensador, pois a comunidade era mais pequena e não havia tantos investimentos de patrocinadores e os orçamentos das equipas eram limitados. “Era difícil ter um ordenado superior ao mínimo de Portugal”. Mas atualmente há cada vez mais jogadores como público-alvo e diz que os patrocinadores têm noção disso e a cada ano tem havido mais investimento nas equipas e das organizações de torneios. Afirma que quem está no topo consegue viver dos videojogos, mas salienta que é complicado se não tiver o tal plano B, porque pode acontecer não ter um ano tão bom e depois não ter onde se segurar.
Questionado sobre o que é necessário para se tornar num jogador profissional de FIFA, afirma que é uma pergunta que muita gente lhe pergunta. Afirma que tem de ser o próprio jogador a mostrar-se, com os seus resultados e sucesso desportivo. Também devem apostar na imagem e criação de conteúdos, sejam vídeos ou streamings. No seu caso, muitos já o conheciam no torneio e queriam “agarrá-lo”. Por outro lado, diz que por norma devem agarrar no jogo e obter bons resultados, o que depois acaba por se tornar uma bola de neve. Os conteúdos fazem aumentar o valor dos atletas no mercado. “Para se manterem no topo devem treinar com os melhores e nunca desistir, mesmo quando as coisas não correm bem”.
“FIFA é um jogo muito volátil e muda a cada ano”
Diogo Pombo diz que FIFA não é um jogo linear, pelo contrário, diz ser muito volátil, que muda de ano para ano e por vezes, durante a temporada são introduzidas patches que mudam algumas coisas. “Uma finta que era muito boa acaba por ser menos eficaz numa atualização. E os jogadores precisam rapidamente se adaptar e encontrar outras mecânicas para fazer o golo”, acrescentando que essas mudanças obrigam a uma adaptação o mais rápido possível. “As pessoas estão motivadas, mas depois do lançamento de uma atualização que dificulta o jogo diminui a emoção”.
Nesse sentido, tuga810 diz que os jogadores devem manter a resiliência e não desistir, mas sim adaptar-se. E isso é uma das mudanças que o campeão do mundo desejava que mudasse, que o jogo fosse mais atrativo para o consumidor. “Tem o potencial para ser o jogo mais visto dos eSports, até porque se trata de futebol. Mas não é. Há outros jogos que chegam mais rápido às pessoas, por serem mais apelativos para jogadores casuais”. Afirma que o jogo é por vezes complexo e difícil de jogar porque tem diversas fintas complicadas de fazer para quem não tem tempo de treinar. A sua principal queixa é mesmo para a dificuldade da IA dos atletas em campo que não estão a ser controlados diretamente pelo jogador e por serem muito fortes, acaba por não haver muitos golos, baixando a qualidade do espetáculo.
Ao contrário de outros jogos de competição, cuja maioria até são gratuitos de jogar (free-to-play), a Electronic Arts não só cobra o preço de venda de FIFA, como obriga aos jogadores profissionais investirem milhares de euros para se tornarem competitivos. Diogo Pombo diz ser contra esse sistema, salientando que se trata do único jogo competitivo que obriga a gastar dinheiro para lá da sua aquisição e que isso não faz sentido. “Um jogador tem de gastar logo cerca de 2 mil euros no início, o que é escusado”, salientando que a EA tem de lançar um sistema para não se gastar dinheiro além do jogo.
"Um jogador tem de gastar logo cerca de 2 mil euros no início, o que é escusado"
Ainda assim, diz que as equipas dão a ajuda necessária, mas para quem não tem um emblema é difícil. Refere que um jogador que investa tem uma equipa forte e quem não o fizer fica com uma fraca, não havendo justiça desportiva. “A EA precisa do lucro, mas seria uma grande mudança. Essa mudança iria atrair outros jogadores sem o modo pay to win”. Antes via esse fosso quando se comparava os jogadores portugueses com os estrangeiros, pela falta de investimento em Portugal. “Era raro ver um português a competir para a Europa ou mundial por falta de investimento”, embora admita que atualmente o nível tem vindo a aumentar, havendo mais armas para lutar contra os jogadores de outros países.
Salienta ainda que a Electronic Arts lançou um sistema de restrições para diminuir o dinheiro que se gasta na aquisição de uma equipa competitiva, um teto máximo, para que não haja uma grande diferença entre orçamentos. Ainda assim, considera que os jogadores gastam na mesma um valor elevado.
Olhando para o panorama português de FIFA, considera que existem cada vez mais jogadores talentosos, sobretudo os mais novos, com 16, 17 e 18 anos, considerando que os 16 anos é a idade mínima para se competir, há muitos bons jovens. “Se as equipas continuarem a apostar em FIFA e nos jovens, vai haver mais campeões do mundo, pois Portugal está no topo do mundo de jogadores talentosos”.
Na sua visão, os eSports vão continuar a crescer nos próximos anos. Diz que vê mais crianças e jovens a jogar videojogos, já com o bichinho de jogar com os amigos online, do que a assistir televisão. “Os patrocinadores e equipas estão atentos a isso e o investimento tem aumentado”. Salienta o impacto dos eSports e que segundo um estudo que leu, as visualizações podem ultrapassar modalidades tradicionais como o voleibol, basquetebol ou futebol salão.
Considera a responsabilidade do seu papel em ajudar a levar o jogo a mais pessoas, embora acredite que os eSports ainda são vistos com maus olhos, tais como o sedentarismo, levando os jovens a largar a escola ou deixar de fazer atividades físicas. Assim, pega no seu exemplo pessoal e tenta transmitir aos seus fãs como consegue encaixar as atividades na sua rotina. “Tudo tem de ser controlado pelo jogador e família: não é preciso jogar oito horas FIFA, mas sim duas ou três, tal como os treinos do desporto” e por isso acredita que tem de haver gestão e planeamento de tempo. Mas acredita também que o estigma negativo tem vindo a diminuir, muito pelos bons exemplos que também surgem na comunidade.
Diogo Pombo acredita que as carreiras de eSports são sempre curtas, em cerca de quatro ou cinco anos, embora muitos continuem a competir. No seu caso, diz que não perde o gosto e vontade de continuar a evoluir, mantendo-se consistente no topo. Assim, não se vê a retirar a curto prazo da competição, embora o seu futuro seja sempre uma incógnita. Garante que pelo menos nos dois a três anos pretende continuar ao mais alto nível, esperando amealhar mais títulos a nível nacional e internacional.
Como conclusão, deixa como conselho aos jovens e fãs que estão neste momento a começar uma carreira nos eSports que passa por manter sempre os estudos, independentemente de virem a ter um bom contrato. Diz que se derem prioridade aos estudos, como foi no seu caso, acabam por ter a aprovação dos pais, que diz ser o apoio mais importante que um atleta pode ter. No seu caso, como tinha boas notas nunca foi proibido de jogar, desde que conseguisse conciliar…
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