Gonçalo Miguéis, conhecido por BombNuker, é um dos nomes incontornáveis no mundo dos eSports, sobretudo no panorama FIFA, não só pelas suas iniciativas pessoais, como pela imagem única que os fãs o reconhecem: um fato e gravata, hoje em dia sobretudo de laço, compõem a sua imagem durante as apresentações e comentários em eventos competitivos.
Com 28 anos, Gonçalo Miguéis tem um mestrado em engenharia informática, trabalhando como engenheiro de suporte para a Microsoft e agora como consultor técnico de parceiros da empresa. Apesar desta ser a sua atividade principal, Gonçalo Miguéis diz ter dois empregos, pois atualmente é também treinador e manager da equipa de FIFA da popular equipa SAW, repartindo-se nas diversas atividades ligadas aos desportos eletrónicos.
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Provavelmente vai achar que o seu “nickname” tem ligações a bombas e “nukes” de jogos como CS: GO ou outros títulos de ação competitiva, mas a verdade é que a origem é ainda mais interessante. Segundo explicou ao SAPO TEK, a ideia surgiu ainda nos tempos de escola, durante uma aula de biologia. Estava a falar-se sobre a metamorfose dos bichos-da-seda, que tem o nome científico de “bombyx mori”. Nesse dia começou a jogar o jogo online Silkroad e o nome ficou-lhe na cabeça. Quando teve um bom PC e já jogava bem Silkroad, criou oito bots para o ajudar no “farming” no jogo, cada um com diferentes variações de Bomb. Mais tarde, quando começou a jogar o seu primeiro jogo competitivo, League of Legends, acabou por escolher a variação criada anteriormente do nome que mais lhe agradava: BombNuker. A partir daí passou a usar sempre como a sua identidade online.
Apresentador vestido a rigor
Uma das suas paixões é ser caster e host de competições de eSports. Mas quais as diferenças? “Um host é literalmente um apresentador, que faz as introduções às competições e a puxar pela emoção. Já tive várias oportunidades de o desempenhar. Já um caster é um comentador, aquele que relata a ação das competições, tal como acontece nos desportos físicos”. Esta vertente também explica e analisa situações, como a razão das decisões dos jogadores, porque muitos espetadores gostam de compreender e aprender o que se está a passar.
Para Gonçalo Miguéis, o trabalho de um caster tem de ser conhecedor do assunto, no seu caso faz parte do seu trabalho estudar o jogo, “para que não sejam palavras vazias do que se está a dizer”. Por outro lado, deve ter a capacidade de comunicação, para que explique de forma simples as questões ao público que assiste. Para tal fez cursos de apresentação, embora afirme que um host não tem necessariamente de saber a fundo sobre os jogos em questão. Mas para si, é uma experiência enriquecedora.
Já partilha a sua experiência como caster há oito anos, os primeiros quatro em League of Legends e os últimos quatro em FIFA. Ao longo dos anos, BombNuker ganhou muita experiência, desenvolvendo uma imagem diferenciadora no meio, apresentando-se nos eventos sempre de fato e gravata, e adotou o lacinho em borboleta como imagem de marca. Mas qual é a mensagem? “Quando comecei não usava o visual atual, mas sempre lutei para ajudar a crescer o ecossistema e isso passa por ter a capacidade de transmitir profissionalismo, embora todos o façam. Mas o caster é a pessoa mais importante para passar essa mensagem e acho que ter um visual aprumado era um ponto positivo nessa questão”.
"O caster é a pessoa mais importante para passar essa mensagem e acho que ter um visual aprumado era um ponto positivo nessa questão".
Afirma que gosta de criar essa mensagem, que pode causar choque. “No aspeto das gravatas, passei para o laço por uma questão de branding. Agora tenho os meus laços feitos manualmente, antes já vinham feitos, era só colocar”. Vestir-se a rigor, de forma mais séria e profissional, ajuda-o a criar a ideia de espetáculo, o que sempre achou positivo, desejando torná-lo o melhor possível.
De comentador a treinador de FIFA
Atualmente é também o treinador e manager da SAW, equipa portuguesa que se destacou sobretudo em CS: GO. Uma aventura que se proporcionou para este ano, reforçando o seu papel nos eSports. O projeto dá uma ajuda na realização naquele que é o seu sonho de tornar os eSports em “full time job”. Como não tem havido muitas provas, além de não comentar em provas onde a sua equipa está envolvida, por questões de princípio, não tem estado tão ativo como comentador. Sente, no entanto, que sua presença está a crescer, que já ganha mais, mas ainda não tem a segurança para mergulhar de vez neste mundo. O seu emprego como engenheiro dá-lhe a segurança, mas o ideal seria ganhar tanto com os eSports, como ganha atualmente tendo os dois empregos. Objetivo ainda por alcançar. Diz que se move sobretudo por paixão nos últimos 10 anos, mas contrariando o ditado popular, correr por gosto também cansa. E por precisar de tempo livre, que não seja preenchido como atualmente pelos eSports, espera um dia realizar esse sonho de se tornar profissional 100% na área.
Como treinador de FIFA diz que não é tão exaustivo como por exemplo, League of Legends. O FIFA funciona um pouco como “free for all”, em que se pode combinar os treinos em equipa ou de forma individual. Há jogos a solo ou em equipas de dois, neste caso deve dar sempre o seu input por ser uma equipa. Mas o planeamento depende sempre das competições, onde analisa os jogos, passando aos jogadores o que se fez bem ou mal.
Questionado sobre como vê o panorama atual de FIFA, na questão de os clubes terem todos uma presença nas competições de eSports, BombNuker afirma que tem uma parte positiva porque muitos fãs de futebol podem ser convertidos a fãs de FIFA. Por outro lado, considera que muitos clubes só entram no meio para ver como é, não levando muito a sério as competições eletrónicas. “Mas há equipas de futebol que criaram departamentos e respetivo staff”, salientando que não gosta quando os clubes absorvem equipas de eSports apenas como aproveitamento. “Contam mais aqueles que entram nos eSports com interesse em desenvolver e investir”. Diz ainda que o futebol é enorme e FIFA também é, e “seria parvo não haver sinergias”.
"Há equipas de futebol que criaram departamentos e respetivo staff. Contam mais aqueles que entram nos eSports com interesse em desenvolver e investir.”
Olhando para o panorama atual de FIFA em Portugal, Gonçalo Miguéis acredita que estamos a um nível muito elevado, “basta comparar a Espanha que é o país mais desenvolvido da Europa, seja a nível de audiência como organização, como a sua LVP com números absurdos. E em FIFA damos 10-0, uma vez que a La Liga de FIFA nem se compara com os eventos que a FPF está a criar, deixando os espanhóis com inveja”. Afirma ainda que em termos de produção e espetáculo, o nível português é elevado, embora atualmente meio parado devido à COVID-19. “Havendo oportunidades fazemos coisas muito boas”.
Como jogadores, Gonçalo diz que existem cada vez mais e melhores em FIFA, com muitos apuramentos para a Europa. E muitas das nossas estrelas começam a inspirar os mais novos, que ambicionam ser como eles. “Para ver o nosso nível, é mais fácil de ganhar lá fora, como o Tuga e o RastaArtur que não vencem em Portugal, mas sim no estrangeiro, significando que em Portugal é cada vez mais competitivo.” E quem ganha nunca é o favorito, fazendo com que apareçam jogadores com sucesso e com mais hipóteses de vingar. Admite ainda que, apesar de CS: GO ser o principal jogo em Portugal, FIFA já é o segundo, tendo superado League of Legends, sobretudo em audiências.
Gonçalo Miguéis também não é de acordo com os jogadores precisarem de investir 1.000 ou 2.000 euros por cada temporada para conseguir ter uma equipa competitiva. “Mas isso tem a ver com a EA, embora algumas competições ofereçam contas abertas para todos”. Diz ainda que é a favor da justiça no desporto e que nenhum jogo deveria promover o “pay to win”. “O FIFA é um jogo incerto, levando a muitas teorias, desde o handicap concedido a quem tem melhores e piores jogadores, gerando sempre discussão”.
Embora seja contra, compreende a necessidade de os jogadores terem de investir para serem competitivos. Aliás, os seus próprios jogadores da SAW tiveram de o fazer. Para si, o ideal era haver contas equilibradas para haver justiça entre os jogadores. Diz que já se vê esse equilíbrio em certos jogos, como o Clash Royale, independentemente de quem tenha as melhores cartas. “A necessidade do dinheiro é ridícula. O investimento deveria ser feito num PC, consolas ou numa ligação mais rápida de internet, não em cartas de jogadores”.
O jovem treinador salienta ainda o papel da eFPF e a eLiga, ambas ligadas ao calendário oficial das provas da EA, na ajuda ao crescimento de FIFA em Portugal. Ambas respeitam e não se atropelam nas competições, abrindo o espectro competitivo aos atletas portugueses. Salienta os problemas colocados pela EA aos eventos ao vivo da eFPF, mas é algo do passado. “É muito positivo haver duas organizações em Portugal a puxar por FIFA”.
No entanto, Gonçalo Miguéis não se deixa iludir com o crescimento da modalidade, porque atualmente salienta que apenas um grupo, “no topo da pirâmide” de cerca de 10 pessoas, consegue tirar mais que um ordenado mínimo e fazer vida profissional de FIFA. Num segundo patamar, de cerca de 50 jogadores, conseguem receber entre 100 a 200 euros. “Depois existe todo o resto da comunidade. Todos querem ser um RastaArtur ou um JOliveira10 e viver de FIFA, mas os jogadores que chegam lá são muito poucos, pois não há assim tanto dinheiro para proporcionar isso aos jogadores. Mas isso não impede aos jogadores de tentarem, mas para uma carreira é preciso ser realmente muito bom”. Ainda assim reconhece que o mercado está melhor e os jogadores recebem mais, até porque estão mais expostos nas redes sociais e streams, com números que considera muito interessantes, muitos deles a superar o CS: GO. “Mas é preciso mais investimento”.
Bomb Cup é o seu projeto pessoal de inclusão da comunidade
Com quatro edições realizadas, a Bomb Cup é o seu projeto pessoal, aquele que tem vindo a realizar com o objetivo de criar competições casuais. A ideia surgiu em Londres em conversa com outros jogadores, durante o campeonato do mundo em 2019. “Conversamos em fazer um torneio mais casual. Tenho um background de eSports como LoL e Hearthtone, mas inspirei-me num torneio chamado Sit Story Cup. A ideia era juntar 20 pessoas numa casa, competir e comentar as partidas. O meu primeiro realizou-se na sala da minha casa, com 4 pessoas a jogar, de forma casual e a comentar entre si. E correu bem”.
Depois disso, a e2Tech juntou-se para uma segunda edição e “a terceira foi numa casa com piscina, com a malta a jogar na água. Tive 5.000 pessoas a assistir em simultâneo”. A imagem diferenciadora e os jogadores que querem fazer parte do projeto ajudaram a crescer. Sente que o público também gosta e “saber que foi algo que nasceu de uma ideia pequena e cresceu, deixa-me muito orgulhoso”.
Outro projeto é a Bomb League, uma plataforma criada num website que funciona da mesma forma como o FaceIt de CS: GO, mas para o FIFA, uma vez que segundo Gonçalo Miguéis não existia. Os jogadores inscrevem-se na plataforma e jogam entre si para se qualificarem para os eventos. Diz que este ano o projeto ainda está parado, não só à espera de patrocínios, como aguarda o feedback das mudanças feitas ao FIFA. Além disso, a transição das consolas e a decisão de fazer os torneios na PS4 ou PS5 tem deixado o organizador expectante. Não sabe se vai ativar este ano, ou espera pelo próximo.
Com todo este percurso, a pergunta final não poderia deixar de ser se BombNuker se considera um embaixador de FIFA em Portugal. “Embaixadores temos vários. Na comunidade, todos são importantes, tanto os jogadores que trazem a atenção, eu na parte dos comentários acabo por ser uma referência. Não será descabido dizer que eu seja um embaixador, mas é um trabalho que não faço sozinho. As federações a organizar as competições também são importantes. O meu trabalho é fazer crescer a comunidade e fico contente com isso”.
Fora dos ambientes competitivos, Bomb Nuker gosta de jogar títulos como Age of Empires 4, Football Manager, Ghost of Tsushima ou World of Warcraft que também jogou. No entanto, afirma que os seus “guilty pleasures” são os jogos para smartphones. O que joga há mais tempo é o Summoner’s War, mas diz que gosta de instalar e experimentar jogos. “Jogo 10 minutos e se não gostar desinstalo”. Diz ainda que jogou bastante xadrez, sobretudo no smartphone por ser mais prático.
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