Se entrar no canal da Twitch Joga Simples de Luís Perfeito, o mais provável é vê-lo a conversar sobre temas da atualidade de futebol ou a jogar FIFA com os seus seguidores. O futebol é tudo aquilo que liga as suas transmissões, assim como os vídeos no seu canal no YouTube, plataforma onde nasceu o seu projeto há seis anos. Aos 43 anos é parceiro da Twitch, com mais de 35 mil seguidores, ao que soma mais 26 mil no YouTube. “O projeto tinha várias vertentes, comunicar com pessoas, com o tema que me apaixona que é o futebol, e se pudesse tirar alguma rentabilidade era bom, com base na comunicação e futebol”.
Mais tarde apresentaram-lhe a Twitch como plataforma de streaming, a qual experimentou e acabou por ficar nos últimos quatro anos. Como trouxe a comunidade do YouTube, tornou-se rapidamente parceiro da Twitch, dando continuidade ao seu trabalho, agora ao vivo.
Sobre o seu conteúdo, salienta que se fica pela análise dos jogos de futebol, sobretudo a Liga portuguesa, mas também “pica” outras internacionais. O seu trabalho consiste em ver os jogos e depois faz a respetiva análise com base na sua opinião. Para tal, Luís Perfeito diz utilizar o seu background de 20 anos como jogador e 10 anos como treinador ativo, com nível 1 e 2 da UEFA. Mas tem outras rúbricas. Às quintas é a “Noite de Cinema”, em que assiste a vídeos com conteúdos de futebol com a comunidade, naquilo que hoje em dia se chama o “react”. Resta-lhe ainda espaço de tempo para os videojogos, seja com o FIFA e Football Manager, assim como outros que gosta como o GTA RPG e Wreckfest, sempre com a sua comunidade. Mas o grande objetivo é transmitir às pessoas a base do seu conhecimento sobre futebol, havendo partilha de opiniões.
O futebol tem tendência a ser tóxico nas plataformas online. Mas no seu canal dá uso aos “cartões” para manter a ordem
Considerando que o futebol é sempre matéria tóxica nas redes sociais, entre os apoiantes dos diferentes clubes rivais, o SAPO TEK quis conhecer um pouco mais sobre a comunidade do Joga Simples. Para Luís Perfeito, parte do princípio que o canal é seu, por isso define as regras. “Não pode ser nem numa ditadura nem uma anarquia”, salientando que o streamer tem de ir educando a sua comunidade, impondo as suas regras normais. Prefere ir dizendo que o canal não é sobre futebol, mas sobre o processo, o exercício, o treino do futebol. “Só falo daquilo que consigo controlar, ou seja, a sua equipa. Não falo da arbitragem, que é o fator mais incendiário do futebol”. E quando os seguidores começam a falar de arbitragens deixa um primeiro aviso, ao segundo um “time out” que é uma espécie de cartão amarelo, mas à terceira é “expulso de campo”, ficando o seguidor banido de participar no chat das streams.
Diz que poderia ter mais views, se “imitasse” alguns canais de televisão, que reagem aos jogos em direto, mas sem os estarem a transmitir. Mas prefere manter o canal mais limpo. Afirma que estão sempre a chegar novos seguidores, mas 80% dos mais antigos tratam rapidamente de os educar, ajudando a afirmar que se trata de um canal de um treinador de futebol.
Outra “regra de ouro” é nunca falar dos presidentes dos clubes, seja um Pinto da Costa, o Varandas ou Rui Costa. Diz que falar dos presidentes não oferece instrução a ninguém daquilo que é o futebol, preferindo instruir do que divertir a sua plateia. E afirma que o seu público é mais adulto, que gosta de interagir e de aprender. As pessoas gostam do que veem e acabam por ficar, mas deixa claro: “Vamos falar DO futebol e não DE futebol”.
E será que no futuro, plataformas como o YouTube e a Twitch possam ser o futuro da comunicação sobre o tema, em vez dos tradicionais canais de televisão? Luis Perfeito diz que não sabe nada sobre o futuro, uma vez que tudo está em constante mudança.
“Quando cheguei à Twitch era tudo sobre videojogos e eSports. Hoje canta-se, bufa-se ao microfone, faz-se malabarismos de circo, etc., com categorias como o Just Chating e outras. A transformação tem sido enorme”, afirma Luis Perfeito.
Para dar um exemplo, diz pertencer à equipa For the Win, mas que não se enquadra na nata da equipa. Mas como tudo isto tem crescido, as empresas de influenciadores já abrem um leque para outros assuntos que não os videojogos.
“Os especialistas de futebol já estão na internet, mas vão para as redes sociais e blogs, não dando a cara. E dou a cara. Com a quarentena devido à pandemia, essas pessoas já começam a aparecer”, diz Luis Perfeito, dando o exemplo do comentador da RTP António Tadeia que já utiliza o YouTube e a Twitch para partilhar o seu programa ao meio-dia. Diz que no Brasil e nos Estados Unidos já existem muitos canais, porque querem discutir e dar as suas opiniões e aproveitam a internet. Afirma que o seu trabalho lhe pode abrir eventuais portas para a televisão, mas nem sequer está a pensar nisso. Gosta de jogar e a Twitch permite-lhe o melhor de todos os mundos.
O primeiro embaixador da Xbox em Portugal
Apesar de se dedicar ao futebol nos últimos anos, Luis Perfeito teve um passado ligado aos videojogos, tendo criado a primeira comunidade de Xbox em Portugal. “Sou apaixonado por videojogos. Na altura havia a PlayStation 1 e 2, mas comprei a Dreamcast, embora tenha durado pouco. Sempre fui contra a corrente, e por isso comprei a Xbox quando surgiu”.
Como em 2000 já desenvolvia websites, devido à sua formação de multimédia, criou o PT Xbox. “Um dia Pedro Teixeira, diretor da Xbox em Portugal, ligou-me para conhecer o projeto. Fui a Lisboa e deu-me a consola debugged (versão especial para correr jogos ainda em produção).
A evolução do website aconteceu com a mudança de nome para XboxPortugal.com, o seu segundo portal. A Microsoft em Londres reconheceu o projeto e atribuiu a Luis Perfeito o cargo do primeiro embaixador de Xbox em Portugal. O seu avatar foi desenhado e colocado no website oficial da Xbox. Luis participou em diferentes eventos internacionais, como o X05 e o X06 sobre o lançamento da Xbox 360.
Luís Perfeito diz que se tinha continuado seria um dos pioneiros em vídeo em Portugal, uma vez que tem registos das suas reportagens no Sapo, numa época em que o YouTube “ainda era para vídeos de gatinhos”. No entanto, como quis começar a trabalhar com outras marcas, como a Nintendo e Sony, acabou por mudar novamente o domínio, passando a chamar-se Lusogamer. Esse projeto durou pouco, porque como estava a trabalhar numa rádio, com relatos de futebol, apanhou diversos treinadores que o convenceram a tirar o curso de nível 1. Deixou o Lusogamer para se dedicar ao futebol. “A primeira versão do IGN Portugal tinha um dos administradores do Lusogamer envolvidos”, conclui Luís Perfeito.
Em relação à sua profissão ligada ao futebol, em que esteve como treinador principal de equipas dos sub14 aos sub19 de todos os escalões, assim como uma equipa sénior, chegou a manter em simultâneo com a Twitch. No que diz respeito à relação com os seus jogadores, diz que numa primeira fase houve desconforto, mas é necessário viver com isso.
“Começam a olhar para ti, a pessoa que é o líder, mas quando chegam a casa veem-me a fazer macacadas no FIFA ou no Football Manager, ou então a dar as minhas análises de futebol”. Diz que cada um tem de definir a sua comunicação, ser assertivo, mas depois acaba por ser natural. No primeiro mês as conversas são por curiosidade, sobre se ganho dinheiro na Twitch. No entanto, define que dentro do campo de treino manda o “mister”, e lá fora cada um sabe da sua vida. “A Twitch e a TV são a mesma coisa, um está na internet, outra na televisão convencional”, conclui.
Outro aspecto importante na formação que deixa aos seus jogadores é que Luís tem o seu próprio modelo de jogo. Ao contrário de que muitos podem fazer, de ver na internet ideias, Luís Perfeito coloca no seu canal os treinos, faz vídeos a explicar o seu modelo e disponibiliza na internet o seu trabalho.
Constante “luta” contra os direitos de autor
Para o seu trabalho, Luís Perfeito necessita das imagens dos jogos ou das situações que está a comentar. No YouTube os direitos televisivos proíbem-no de utilizar as imagens que habitualmente vemos na televisão, sujeito a levar um “strike” ou ver o seu vídeo perder a monetização e com isso deixar de ser viralizado, o que lhe dá poucas visualizações. Essa foi uma das razões pelo qual se mudou para a Twitch. “Os criadores de conteúdos queixam-se normalmente das músicas sujeitas a levar com castigos, mas são as imagens televisivas que fazem parte do meu trabalho”.
Diz que tem acordo com o Canal 11 para usar as imagens, mas não tem com4 a Sport TV, um processo que diz longo e que ainda não se resolveu. “Por não ter sede em Portugal, a Twitch não está atenta às necessidades de ajudar os criadores e o YouTube tem sede na Irlanda”. Diz que entre as televisões existe um código de partilha de algum tempo de vídeo, mencionando a fonte, mas isso não se aplica à internet.
Veja na galeria mais imagens de Luís Perfeito, conhecido como Joga Simples na internet:
Mas se tivesse mesmo de se queixar da plataforma, defende que o contrato de parceria é muito prejudicial aos criadores: a Twitch reparte 50/50 das subscrições e publicidade, mas os criadores ainda têm de pagar a tributação nos Estados Unidos e ainda fazer o câmbio de dólares para Euros. Contas feitas, uma subscrição de 5 euros, o criador recebe cerca de 1 euro.
Fazendo um balanço sobre a comunidade de streamers em Portugal, Luís Perfeito diz que o que se passa na internet é, por vezes, o espelho da nossa sociedade. Os comportamentos que vemos na escola ou faculdade refletem-se na postura na internet. No entanto, salienta que os canais que visita, os criadores têm mais cuidado naquilo que transmitem à sua comunidade, “até porque a Twitch obriga”. Diz que os números continuam a ser o mais importante para uns e que quando ligam a câmara pensam que vão ter logo 400 pessoas a assistir.
Considera que os criadores não devem ficar obcecados com os números e fazer tudo apenas para aumentá-los. Um pouco porque um visitante avalia o canal pelo número de seguidores e não do conteúdo em si. No seu caso, diz que não liga aos números. Muitas vezes são os seguidores que o avisam que estão 900 ou 1000 pessoas a assistir às suas streams. No entanto, deposita fé no futuro, de que as comunidades vão ser mais saudáveis. Afirma que o seu filho está a ser instruído por si, naquele que vê ser o melhor caminho e comportamento para estar nas comunidades online.
Por isso, conclui com o principal conselho que deixa a quem deseja começar a fazer streams: “A primeira coisa é pensarem no que vão fazer. O que têm para oferecer às pessoas. Seja a dares informação de algo que sejas formado ou se achas que tens piada e procuras o entretenimento. Mas tens de pensar o que fazer e como ser diferente, no que diz respeito ao conteúdo”. Diz que muitos se preocupam logo se têm a melhor luz, a melhor webcam ou teclado, mas isso são coisas que surgem no futuro. Mas para si, o conteúdo é o que conta, saber estar e fazer com que a comunidade cresça em redor. “Os números nem sempre espelham a comunidade”.
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