"Fiz uma piada, mas as pessoas entenderam que era um comentário", disse à agência Lusa o artista, que se queixa de ser censurado e de estar a ser prejudicado ao perder os 18.000 seguidores nesta rede social, que era a sua principal ferramenta de contacto com o público.
O espetáculo aconteceu a 28 de abril, num bar no Porto, e dois dias depois Hugo Soares publicou um vídeo nas redes sociais com uma parte do espetáculo, incluindo quando se refere à nova boneca Barbie com síndrome de Down, sobre a qual disse que não se tratava de uma ideia original, pois "os chineses já vendem bonecas com defeito".
Dois dias depois, contou o comediante, o vídeo começou a receber milhares de comentários de pessoas relacionadas com a síndrome de Down, influenciadores e elementos de associações ligadas a esta anomalia do cromossoma XXI.
Doze famílias do Paraná, no Brasil, apresentaram uma denúncia na Defensoria Pública do Paraná (DPE-PR) e a Meta, empresa proprietária de várias redes sociais, entre as quais o Instagram, fechou a conta do comediante, ao abrigo do alegado incentivo ao ódio discriminatório, de que Hugo Soares estava a ser acusado por milhares de pessoas.
"O vídeo com a piada continuou em outras redes sociais - TikTok e Facebook -, mas o vídeo foi retirado do Youtube. A conta do Instagram foi simplesmente encerrada", disse. Nos sítios onde o vídeo está disponível, o caudal de apelos à denúncia é menos intenso, mas continua a acontecer.
No Brasil, a imprensa tem destacado o caso, mas o comediante lamenta que a mesma assuma "um lado de que a piada em si é um comentário de incentivo ao ódio". "Passam a imagem de que eu estou a incentivar o ódio", disse, acrescentando que o próximo passo destas famílias deverá ser um processo legal contra si.
Em Portugal, a Associação Pais21 -- Down Portugal fez saber que está a usar "os mecanismos legais para responder condignamente" ao vídeo de Hugo Soares que, afirma, "atenta contra as pessoas com trissomia 21, causando um mal estar e mágoa na nossa comunidade, pessoas com trissomia 21, seus amigos e familiares".
O artista esclarece: "Tudo o que faço em comédia, tudo o que faço em palco e nas redes sociais são piadas, faço para fazer rir, porque é o meu trabalho. Não pode ser entendido como ofensivo ou discriminatório, porque não é esse o meu objetivo".
"Em palco sou uma persona e as pessoas riem-se dessa persona. Querem-me censurar porque defendem uma causa e acham que o que faço é ofensivo", prosseguiu.
Consciente do prejuízo que o caso vai trazer à sua carreira, nomeadamente ter perdido os 18.000 seguidores, Hugo Soares opta por não responder a quem trabalha com portadores de trissomia XXI, pois, afirma, não tem o menor interesse em os prejudicar.
Mas não pede desculpas, pois alega que o que fez foi enquanto artista, no âmbito de piadas que produz com base na atualidade. E, neste caso, a atualidade foi uma boneca.
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