“O utilizador que ao ler um livro sobre a Viagem de Fernão de Magalhães poderá, com um clique, ver uma Nau quinhentista em 3D, ao detalhe, sobre a imagem desse livro ou escutar no Museu de Marinha, em direto, o “próprio” Fernão de Magalhães a falar sobre o Astrolábio…” O exemplo foi dado por Alexandre Cabrita, mentor do projeto OnHistory, uma aplicação que funciona como um guia de visita histórico assente em imagens de realidade aumentada e virtual e que será lançada no próximo dia 8 de setembro.
O projeto foi idealizado pela Cultunatura em parceria com o Passado Vivo, e com programação dos elementos de realidade aumentada pela NextReality. O projeto pretende conjugar história, tradição e cultura, aliado à inovação tecnológica que os dispositivos oferecem. “É um contacto mais íntimo, intenso e imersivo para o utilizador”, salienta Alexandre Cabrita em entrevista ao SAPO TEK.
Esta espécie de enciclopédia tecnológica, ou “História Viva no seu bolso”, como lhe chamam os criadores, permite-lhe visualizar como os romanos construíram a sua rede de estradas; ou como combateram as forças de D. Afonso Henriques na Batalha de Ourique; como navegou Fernão de Magalhães por mares desconhecidos; ou mesmo, visitar o Castelo de Leiria de qualquer lugar. Ao mesmo tempo que aprendem, os utilizadores podem literalmente conhecer os locais e elementos históricos a partir dos dispositivos.
A aplicação pretende servir como produto de animação turística e cultura, tendo como base as especificidades dos territórios abrangidos pelas suas rotas temáticas. E isso inclui museus, monumentos, locais e produtos diversos. No comunicado é explicado que sejam eles públicos ou privados, todos podem ser “agentes” para beneficiarem desta ferramenta focada no turismo, cultura e educação, oferecendo maior dinâmica, mas de uma forma segura e acessível a todo o público. Os seus conteúdos são didáticos e estão disponíveis em português e inglês, e com legendas.
A Cultunatura Lda. é empresa cultural sediada em Boticas no Território do Alto-Tâmega, tendo desenvolvido a OnHistory no âmbito da sua candidatura ao Programa de Incentivos ao Empreendedorismo Programa Operacional Regional do Norte - “Desenvolver o Território através da História”.
Alexandre Cabrita explica que trabalha na área da recriação histórica e animação cultural desde 1991. “Em 2016 tivemos a perceção que após a realização dos eventos históricos, que duram cerca de dois ou três dias, pouco ficava nos territórios por onde andávamos. Era necessário algo mais, que fizesse com que o visitante tivesse vontade de ir e experimentar “algo” livremente, 365 dias por ano… como se a História estivesse VIVA diante de si”.
Por outro lado, refere que sempre tiveram noção que ao mais pequeno “abanão” sistémico, o Produto Eventos poderia estar em causa, algo que a pandemia veio provar. Nesse sentido, desde 2017 que o projeto OnHistory está a ser desenvolvido. A empresa afirma que a aplicação pode ser utilizada como instrumento de trabalho, seja nas escolas ou museus. Existem matérias que são mais divertidas de ensinar quando se abre um livro e surge a imagem de um castelo, a mostrar como se vivia nos meados do século XII, em 3D.
E considerando as questões de distanciamento e cuidados a ter devido à COVID-19, cada visitante tem o seu equipamento, e não os habituais guias que costumam andar de mãos em mãos durante as visitas. “Outro ponto muito importante são os territórios que podem fazer da sua História um instrumento de Desenvolvimento. Mais do que “likes” nas redes sociais queremos que esses utilizadores, alunos, e outros vão de facto até aos locais históricos e possam, nesse castelo, aceder diretamente às ruínas ao seu passado, reconstruído em 3D no ecrã do seu telemóvel ou tablet”.
No seu lançamento, o OnHistory oferece seis rotas históricas, que abrem um período desde os tempos Céltico e Galaico até à Primeira Guerra Mundial, com 16 localidades e espaços envolvidos e distribuídos por todo o país. E cerca de 30 experiências de Realidade Aumentada sobre temáticas diversas abordadas em Português e Inglês. Tem ainda dezenas de produtores e locais de interesse nos territórios abrangidos.
Quanto ao futuro, a empresa pretende alargar a outras rotas e épocas históricas, assim como outros territórios além-fronteiras: Espanha, Marrocos, França e Reino Unido. “Por exemplo, quando pegamos na Temática da “Rota Romana” todos estes países estão abrangidos, criando dezenas e centenas de pontos de interesse e interligados entre si”, refere Alexandre Cabrita.
E é mesmo a “Rota Romana” que serve como uma espécie de cartão-de-visita à aplicação, “pela sua diversidade territorial que poderá ligar três continentes nesta base histórica comum da bacia mediterrânica e que, de certa forma, é a base mais sólida da cultura Ibérica que temos hoje”. Também refere a “Rota Magalhães 500 Anos” que começa, por agora, no Douro e vai até Lisboa, mas futuramente vai alargar-se a Sevilha, ilhas e outros continentes, “numa Circum-navegação de cultura, cidadania e conhecimento”.
Alexandre Cabrita salienta que todos os conteúdos da aplicação OnHistory foram produzidos na totalidade pelas duas empresas envolvidas, “mas adaptados à realidade dos territórios, quer à sua História (como “Marca”) como à estratégia das suas entidades e produtores e oferta ao consumidor final”. E isso inclui investigadores em diferentes áreas históricas e recriadores que permitem apurar os detalhes, ao mesmo tempo que abordam uma linguagem compreensível por qualquer pessoa.
Mas no futuro, não descarta o uso de alguns conteúdos de multimédia existentes, como projetos de reconstrução em 3D de certos locais que possam ser inseridos na aplicação, aproveitando dessa forma os meios existentes dessas entidades.
As experiências são de acesso gratuito, embora possam haver situações em que os promotores decidam cobrar o uso, mas em troca dão acesso ao museu ou eventos, por exemplo. A aplicação pretende ser simples e intuitiva, com experiências descarregadas muito rapidamente, pois são de 15 a 25 segundos cada.
A empresa promete ainda conexões entre vários territórios e interprodução, ou seja, “a entidade de determinado território tem a certeza que a sua experiência vai estar conectada com outros similares, de outros territórios, como por exemplo, a Rota Templária poderá trazer até Portugal visitantes interessados de França ou de Itália. “Ou o produtor de vinho de uma zona poderá beneficiar da visita (e da compra do seu produto) de um aficionado de vinhos de outras regiões. Alexandre Cabrita aponta este facto como muito importante, porque existem centenas de aplicações a nível local que são poucos visíveis ou cuja a sua interligação não vai além da dimensão da Freguesia ou do Município…
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