A Worldcoin tem estado debaixo de fogo em Espanha e Portugal com as questões levantadas pelos reguladores de dados e nos últimos meses avançou com novas ferramentas para garantir a proteção da informação e tornar mais segura a plataforma. Em entrevista ao SAPO TEK, Ricardo Macieira, diretor regional da Tools for Humanity, a empresa que integra a Worldcoin, diz que esta é uma forma de "elevar a segurança", com um sistema secure multi-party computation (SMPC) que a organização disponibilizou de forma aberta num repositório do Github.

O objetivo é conseguir um novo standard de proteção de dados, incluindo a proteção de dados biométricos, numa plataforma descentralizada em que o utilizador, e dono dos dados, tem sempre uma das chaves de acesso do World ID. A informação fica distribuída em mais duas entidades, a Tools for Humanity GmbH e a Worldcoin Foundation na UE, mas está a orgabização em contacto com "outros potenciais participantes independentes", incluindo o Blockchain Center da Universidade de Zurique, na Suíça. A empresa confirma que, atualmente, o processo é autorizado e regido pela Worldcoin Foundation.

Depois da migração dos dados para este novo sistema SMPC, a Worldcoin Foundation diz que apagou, de forma segura, o anterior sistema de verificação da informação dos utilizadores, que usava para comprovar a sua "humanidade" e também os códigos gerados a partir da leitura da íris com o Orb.

Ricardo Macieira adiantou ao SAPO TEK que o sistema que foi desenvolvido ultrapassa as limitações prévias das plataformas SMPC e permite a sua utilização com menos custos e exigências computacionais. O desenvolvimento foi já partilhado também com as autoridades de supervisão, em especial com a alemã BayLDA, que é a autoridade de controle principal, mas o diretor da Tools or Humanity diz que também a portuguesa CNPD e a espanhola AEPD, que nos últimos meses avançaram com uma ordem de suspensão da recolha de dados por parte da Worldcoin.

O desenvolvimento do novo sistema foi feito pela TACEO e a Tools for Humanity, com uma implementação de SMPC  que encripta os códigos de íris e os transforma em chaves partilhadas por várias entidades, tendo sido partilhado em open source num repositório no Github onde pode ser usado por qualquer organização.

A plataforma Worldcoin foi criada em 2019 por Alex Blania e Sam Altman, fundador da OpenAI, a empresa que desenvolveu o ChatGPT. O objetivo é criar uma rede de identificação global, com o World ID, permitindo verificar a identidade dos utilizadores e a sua "humanidade" e por isso a organização, que está integrada na Tools for Humanity, está a recolher dados biométricos em vários países usando o Orb, uma esfera desenvolvida pela empresa para fazer o scan da íris. Em troca oferece tokens, criptomoedas, que têm valorizado exponencialmente, o que aumentou o interesse dos utilizadores em entrar na rede.

Veja as imagens do Orb da Worldcoin

Ao SAPO TEK, Ricardo Macieira diz que a Worldcoin continua a respeitar a pausa de 90 dias para a recolha de dados que foi imposta em Espanha e Portugal, mas tem confiança que após este período poderá ser retomada a atividade. Adianta ainda que os utilizadores continuam a descarregar e a usar a aplicação. "Quanto mais cedo pudermos retomar a atividade melhor", defende, sublinhando que o interesse pela plataforma continua a existir e que neste momento a pausa tem impacto em mais de 100 pessoas em parceiros que trabalhavam com a Worldcoin em Portugal.

O diretor regional da Tools for Humanity defende que estamos a avançar numa nova fase da internet e do mundo digital onde os utilizadores podem ter mais controle sobre a propriedade dos seus dados. "Creio que o que estamos a fazer é um primeiro passo. A prova de humanidade já é possível em modo privado e seguro", afirma, sublinhando que não é uma identificação digital única como está a ser pensado mas que tem potencial de utilização em vários serviços online.

O World ID já está a ser usado em várias plataformas online para fazer prova da humanidade e Portugal até foi pioneiro nesta integração na Talent Protocol, que foi a primeira a implementar este protocolo de verificação que é usado por utilizadores portugueses mas também em outras geografias onde o serviço está presente.