Criado no dia 4 de Setembro de 1995 na Universidade Aveiro o SAPO, que esta semana assinala mais um aniversário, é apenas um entre muitos exemplos de inovação nacional que geminou nas universidades portuguesas e daí saltou para o mundo empresarial.


O Servidor de Apontadores Portugueses (designação na base da sigla SAP, transformada em SAPO) nasceu pela mão de seis membros do centro de informática da universidade, que dois anos depois criaram a Navegante para desenvolver o projeto.


No ano seguinte a Navegante foi comprada pela Saber & Lazer, que no ano seguinte era adquirida pelo grupo PT, que acabou ser a rampa de lançamento para muitos dos projetos daquele que fica para a história como o primeiro portal em língua portuguesa.


Em áreas diversas da tecnologia e com percursos distintos, existem dezenas de outras referências nacionais que partiram da mesma ligação à universidades que ajudou a fazer nascer o SAPO, para se tornarem símbolos de inovação.





Critical Software - segurança de sistemas críticos
Um exemplo saído de Coimbra é a Critical Software. Gonçalo Quadros, Diamantino Costa e João Carreira, fundadores da empresa, conheceram-se em 1996 quando faziam o doutoramento em Engenharia Informática na Universidade de Coimbra. O interesse comum em explorar uma carreira empresarial, por oposição à permanência numa carreira académica e o sucesso de alguns artigos técnicos publicados pelos autores em revistas da especialidade - sobre a vulnerabilidade dos sistemas Windows, por exemplo - criaram as condições para seguir na direção pretendida.



A Critical nasceu para desenvolver soluções que ajudassem a colmatar falhas em software crítico. O software para detetar, diagnosticar e recuperar sistemas afetados por este tipo de falhas começou por ser desenvolvido em Coimbra, no âmbito do programa doutoral que frequentavam os três engenheiros, e transferiu-se para a empresa.


A Critical acabou por se lançar no mercado em 1998 na incubadora de empresas do Instituto Pedro Nunes. Um mês depois já tinha a Soporcel como cliente e no ano seguinte inaugurava a primeira subsidiária em Santa Fé, na Califórnia.


Pela mesma altura chega aos responsáveis uma proposta da Nasa, que queria a tecnologia portuguesa a testar os sistemas críticos de um dos seus laboratórios espaciais. O contrato dá projeção à empresa, enquanto entidade especializada em soluções de engenharia informática orientadas à missão e ao negócio no suporte a sistemas e processos críticos e acelera-lhe o crescimento.


Hoje a Critical tem escritórios em Coimbra (onde continua a manter a sede) e em Lisboa. Internacionalmente, está nos Estados Unidos, Reino Unido, Brasil e Moçambique e já lançou diversos spin-offs, que deram origem a novas empresas em áreas de atividade específicas (Critical Links, Critical Manufacturing e Critical Health, por exemplo).

[caption]Critical[/caption]




YDreams - Aumentar a realidade a partir da Caparica

Criada em Junho de 2000, a YDreams (primeiro Ideias Interativas, até Junho de 2002) colocou no mesmo sonho António Câmara (CEO), Edmundo Nobre, José Miguel Remédio, Eduardo Dias, e Nuno Correia, todos investigadores no laboratório da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa.


A empresa nasceu nas instalações no Monte da Caparica e por lá contínua, embora hoje tenha também uma presença no Brasil (São Paulo e Rio de Janeiro) e em Espanha, onde leva a tecnologia desenvolvida por mais de uma centena de colaboradores.



[caption]YDreams[/caption]

Em 2006, um ano depois de iniciar o processo de internacionalização (por Barcelona), recebeu um investimento de 8,5 milhões de euros do Espírito Santo Tech Ventures e da americana Herrick Partners que deu gás à capacidade de I&D e contribui para atingir o portefólio de 600 projetos que hoje tem realizados. No ano seguinte a empresa instala-se nos Estados Unidos, com a abertura de um escritório em Austin, no Texas.



No portefólio de clientes conta com nomes como a Nokia, Vodafone ou Adidas. Para aquela marca desportiva desenvolveu o projeto Eye Ball. Para a operadora móvel Vodafone lançou o seu primeiro jogo para telemóveis, o Rockstar, um domínio onde já teve mais investidas, como é o caso de Undercover.



A YDreams tem hoje marcas registadas nos Estados Unidos, na Europa e em países de outras regiões, bem como patentes nas áreas da realidade aumentada, computação gráfica ou serviços baseados em localização real.


Soluções para experiências interativas, com lugar de destaque para a realidade aumentada - uma área que a empresa trabalha já desde 2003 - e interfaces naturais, estão entre os principais campos de atuação da YDreams, que no ano passado colocou um dos seus spin-offs na bolsa.



O passo foi dado pela Ynvisible, especializada na área das tecnologias de eletrónica impressa, atualmente cotada na bolsa de Frankfurt.




iPortalMais - Crescer com o Linux


Em 1998 regressado de França, onde tinha terminado o doutoramento em Gestão de Redes de Comunicações, Raul Oliveira - um dos fundadores da iPortalMais - volta à Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto para dar aulas.


Quis trazer para a faculdade o conhecimento que apreendeu nestas tecnologias, aplicado à administração de redes e sistemas, e fê-lo criando ele próprio a primeira sala da FEUP equipada com Linux Debian. A aposta ganhou popularidade e a opção disponível em dual boot rapidamente se tornou insuficiente para a procura, levando a instituição a estendê-la.



Em 2000, quando a faculdade se mudou para a Asprela, todas as estações de trabalho contavam já com Windows e Linux.


A história de sucesso do Linux na FEUP fez perceber o potencial destas tecnologias, enquanto objeto de negócio e Raul Oliveira foi desafiado pelo técnico que tinha contratado para gerir as salas Linux na faculdade a avançar para o mercado empresarial. Um prémio de 5 mil euros num concurso de empreendedorismo da universidade deu o empurrão que faltava.


Um ano depois da formação, em 2001, a iPortalMais começa a investir em I&D para desenvolver uma solução de Gestão Documental centrada numa abordagem inovadora: a gestão documental como um serviço de rede.


A base do gestor era Linux e o passo seguinte teve de passar pela aposta no desenvolvimento de uma ferramenta que viesse facilitar (automatizar) a instalação da plataforma de código aberto em servidores. Nasceu daí o IPBrick, que é ainda hoje um dos produtos mais emblemáticos da iPortalMais, que se mantém focada no desenvolvimento de ferramentas que simplifiquem a utilização do Linux em empresas e organismos públicos.


Alguns anos mais tarde, a iPortalMais arranca com a internacionalização e hoje tem como mercados principais, para além de Portugal, Espanha, Argélia, Alemanha, França, Itália e a Malásia. A parceria com a Kaspersky, cujas soluções começou a distribuir em Portugal em 2003, foi relevante neste processo de internacionalização. Com cerca de meia centena de empregados, a iPortalMais investe hoje cerca de meio milhão de euros em investigação e desenvolvimento ao ano.



[caption]iPortalMais[/caption]

Priberam - o trunfo da língua

Da longa lista de spin-offs do Instituto Superior Técnico tiramos mais um exemplo de inovação português, nascido no meio universitário: a Priberam.
A empresa nasceu em 1989 pela mão de um grupo de investigadores do INESC, já com o intuito de se focar no desenvolvimento de software. Numa primeira fase na área do CAD (Computer Aided Design), um âmbito que rapidamente evoluiu.



Hoje é especialista no desenvolvimento de software para o tratamento computacional da língua portuguesa, de ferramentas de informação jurídica e de tecnologia para motores de pesquisa.


A aposta na investigação, que fez o projeto nascer, continua a ser central na atividade, com mais de metade do volume de negócios aplicado anualmente ao I&D, um posicionamento que tem valido a participação em diversos projetos de âmbito europeu e o lançamento de muitos produtos inovadores. Alguns deles, premiados. Por exemplo, em 2005, o sistema de resposta automática a perguntas da Priberam ficou em primeiro lugar na avaliação internacional QA@CLEF (para tecnologias de comunicação e linguagem).


É a empresa que desenvolve e mantém o corretor integrado na suite de produtividade do Windows, por exemplo. A parceria com a Microsoft está em vigor desde o ano 2001 e é uma das formas de levar a tecnologia do FliP a muitos portugueses.


Recuperando mais alguma história, vale a pena dizer que dois anos depois da constituição a Priberam lançou o Legix, marca que hoje agrega um conjunto de produtos e serviços de informação jurídica nacional e europeia, usado nas 20 maiores sociedades de advogados do país, de acordo com dados da empresa.


Em 1995 a Priberam introduziu o Flip e dois anos mais tarde lançou a Diciopédia (no âmbito de um consórcio com a Porto Editora). Ainda na década de 90 a empresa começou o processo de internacionalização, desenvolvendo as primeiras ferramentas linguísticas para o português do Brasil. Hoje desenvolve produtos para vários mercados, em diversas geografias. A tecnologia da marca gera produtos linguísticos para idiomas tão diversos como o norueguês, checo, polaco ou espanhol, só para dar mais alguns exemplos.



Na área da investigação a pesquisa semântica em motores de busca tem merecido forte aposta e ao longo dos últimos anos foi pretexto para ligar a empresa a várias instituições e organizações, no âmbito de um projeto europeu de I&D.



Wit Software - Mobilidade no centro do negócio

O Instituto Pedro Nunes em Coimbra foi o berço da Wit - como alguns anos antes tinha sido para a Critical. Em 1998 trabalhavam no laboratório de informática e sistema desta estrutura ligada à universidade dois grupos de investigadores. Ambos a colaborar com a indústria.



Um dos grupos fazia outsourcing de soluções de reporting para a Siemens. Um segundo grupo dedicava-se ao desenvolvimento dos primeiros portais móveis WAP e à descoberta das principais potencialidades desta nova janela para serviços móveis.


A Vodafone, na altura Telecel, era o cliente e foi esta relação com a operadora que acabou por precipitar a criação de uma empresa. Luís Silva, CEO da Wit Software, cedeu a alguma pressão da operadora, que preferia ter na equipa de parceiros uma estrutura empresarial e a 1 de Março de 2001 arrancou com o projeto, integrando as 10 pessoas que trabalhavam nos dois grupos de investigação.


A Vodafone continuou a ser o grande cliente da Wit, que se posicionou como fabricante de soluções e produtos para operadores de comunicações móveis ou empresas interessadas em desenvolver uma componente móvel.

Em Portugal a primeira linha de ação desenvolve-se apenas para alimentar a parceria que ajudou a fazer nascer a Wit, já que existe um contrato de exclusividade entre as partes: a operadora assegura um determinado volume anual de trabalho à Wit. Em troca, a tecnológica não trabalha com a concorrência, leia-se TMN e Optimus.


Os moldes da relação com a Vodafone cedo empurraram a empresa de Coimbra para a internacionalização, um processo onde a operadora tem também sido central. A Europa é o principal mercado externo com Espanha, Reino Unido, Alemanha e Itália a assumirem lugar de destaque, mas não é o único. Fora do velho continente a Wit Software tem clientes em Angola, África do Sul e na América do Norte.


Esta extensão a novos mercados internacionais, que chegam a pesar já mais de 50 por cento no volume de negócios da tecnológica, faz-se essencialmente em três vetores: pela já referida relação com a Vodafone, pelo próprio business development da empresa e por via de parcerias estratégicas. Nomes como a Microsoft, Ericsson, Oracle ou Nokia fazem parte do leque de parceiros que ajudam a moldar este eixo de crescimento.


Na lista de projetos concretizados a Wit Software soma aplicações e serviços móveis, desenvolvidos por uma equipa de cerca de 100 funcionários, 10 vezes mais que a equipa inicial. No ano passado o volume de faturação da empresa ascendeu a 4,26 milhões de euros.



[caption]Wit Software[/caption]

Cristina A. Ferreira



Escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico

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