A alemã Software AG já leva uns bons anos no mercado português, mas há cerca de dois passou a atuar diferentemente. A empresa integrou a Findmore Consulting com o estatuto de “Premium Selected”. A parceria envolveu a criação de uma nova unidade de negócios com a incorporação da equipa da Software AG em território português, “que continuou a acompanhar e endereçar o mercado sem qualquer disrupção”, garante Manuel Chaves.

A decisão foi tomada pelo “quartel general” da Software AG, que optou por um modelo de atuação diferente nos países expostos ao preço do petróleo, em que continua presente nesses países, mas as equipas integram um partner selecionado que passa a representar o Grupo. “Não foi um desinvestimento em Portugal, pelo contrário. É uma aposta num modelo diferente de negócio”, e fez-se “de forma tranquila, sem grande disrupção”, explica o diretor-geral da Software AG Portugal. A empresa reporta a Espanha (o que já acontecia antes) e Espanha reporta a Alemanha. “Foi um modelo escolhido para não criar confusão no mercado”.

E se antes eram os parceiros que implementavam os projetos, o principal foco passou a estar nos serviços, o que tem ajudado a fazer crescer o negócio de forma exponencial. E com o negócio cresceu também a equipa, hoje constituída por 25 colaboradores. “Agora implementamos projetos que é algo que não fazíamos, nomeadamente no Médio Oriente. Temos apostado mais na área da integração, Business Process Management (BPM) e Robotic Process Automation (RPA).

De 2016 para 2017 o negócio da empresa cresceu 60% e este ano a estimativa de crescimento é mais 25%. “Em dois anos quase que duplicamos, muito por força do crescimento nos Emiratos Árabes Unidos”. O Dubai representa 60 a 65% do negócio hoje em dia, sendo o resto contributo do mercado português. “Temos mais clientes em Portugal, mas faturamos mais nos Emirates”. Os serviços são prestados a partir de cá na sua quase totalidade. “São projetos de ponta a ponta em que 80% é feito cá e 20% lá”, porque há diferenças culturais que impedem que tal aconteça totalmente, explica o responsável.

“O mercado português está melhor. Há mais solicitações, há mais recetividade dos novos clientes, há mais análise de novas soluções. Está claramente em recuperação. Agora se está perfeito? Não”

Já a representatividade de Angola neste momento é marginal. “É mais de manutenção, por continuarmos a dar suporte aos clientes que temos, mas não crescemos”. O negócio gerado pela empresa em Portugal está a representar 20% do negócio ibérico. “O que é um valor significativo”, destaca.

tek Manual Chaves Software AG

Se a Software AG Portugal tivesse de apostar noutro mercado “andava um bocadinho mais para a frente do Dubai” e apostava no mercado asiático. “A Ásia é onde se deve estar atualmente, com a maior abertura da China”, considera Manuel Chaves, sublinhando que, de qualquer forma, ainda não é altura para a aposta na Software AG.

“A proximidade com o Dubai e a forma como estamos a crescer pode permitir uma expansão a médio prazo para a Ásia, mas neste momento não estamos prontos”

“Está toda a gente muito otimista [sobre a Ásia], há crescimento, mas quando vamos para um mercado novo gostamos de estar bem preparados”, refere. “Não estamos interessados em sermos os campeões do mundo da expansão. Preferimos expandir forte e crescer forte e quando estivermos sólidos avançar, do que estar a ‘disparar’ para vários sítios e depois não conseguirmos”.

Transformar empresas aproveitando o que existe

Manuel Chaves classifica a buzzword “digital transformation” como “o maior processo de integração da história da humanidade”. Na base, “é ser mais rápido do que o vizinho, que faz exatamente a mesma coisa que eu”. E há duas formas de encarar o process, na opinião do responsável: aproveitar o que se tem “e aplicar uma camada em cima que me permita ser mais rápido a mudar” ou reinventar tudo. “Nós estamos no 'campeonato' de aproveitar o que existe”, indica.

São anos e anos de investimento em sistemas legacy, sejam eles ERPs, CRMs, aplicações feitas à medida, "e não se pode pegar nisso tudo e deitar para o lixo, substituindo-as por coisas novas só porque são web based... A nossa postura é aproveitar o que já há e criar uma camada que interligue todos os pontos e que permita criar uma nova forma de interação com o cliente rapidamente e de uma forma ágil”.

A acrescentar a isto há o Robotic Process Automation (RPA), um conceito que permite libertar recursos dentro das empresas para funções que gerem mais valor. “Não vejo o RPA como uma forma de redução de custos e de desemprego, vejo o RPA como uma possibilidade de alocar as pessoas que tenho a coisas que realmente tragam valor para a minha empresa. Vamos aproveitar as pessoas que temos para gerar dinheiro e não para criar um custo”.

 “É inevitável que a Inteligência Artificial faça parte do dia-a-dia no futuro, mas não é uma coisa que esteja embebida na tecnologia empresarial hoje em dia. O que vai ser revolucionário nos próximos tempos para as empresas é o Robotic Process Management: vai ser um game changer em termos de mercado”

Falar de RPA é falar de processos tão simples como tudo o que envolva um grande volume de trabalho manual, explica o responsável. “Por exemplo, numa telecom a introdução de dados no sistema pode ser feito por um robot, um robot que não trabalha das 9 às 17 e sim das 9 às 9, que não tem férias, não celebra o Natal, não celebra os santos. Esse tipo de trabalho manual em que alguém está a olhar para um papel para introduzir dados num sistema, alguém que recebe uma fatura do fornecedor, esse tipo de trabalho é apetecível para incorporar este sistemas de RPA”, aponta Manuel Chaves.

“O RPA vai ser um transformador da forma como as próprias empresas olham para o trabalho que têm internamente”

Para o diretor geral da Software AG Portugal, o maior desafio hoje para uma empresa continua a ser o mesmo de há dois anos: a otimização interna. “Quando não se pode crescer vendendo mais, temos de vender o mesmo, mas com um custo de produção inferior. Só há duas formas de as empresas fazerem dinheiro: ou vendem mais ou gastam menos. Não há uma terceira forma”, garante.

Como o mercado ainda não está na fase de vender mais o grande desafio para as empresas continua a ser a otimização interna, “o vamos conhecer os nossos processos, vamos otimizá-los e vamos conseguir entregar o mesmo de uma forma menos custosa e ter resultados melhores”.