Afinal nem todos aqueles que trabalham para o Facebook o fazem nas condições idílicas que poderíamos ser levados a imaginar quando vemos as imagens das instalações da empresa na Califórnia. Em todos os negócios há trabalhos mais ingratos que outros e a maior rede social do mundo não será exceção.
Um desses trabalhos será o reservado aos colaboradores encarregues de fazer a verificação dos conteúdos reportados como impróprios pelos utilizadores. Alegadamente, a tarefa é confiada a empresas em países como Marrocos ou o México, onde os trabalhadores ganham 1 dólar à hora para passar em revista imagens de pedofilia, violência, racismo ou maus tratos a animais, por exemplo.
"O lado negro do Facebook", é como lhe chama o The Telegraph, num artigo publicado na sequência de uma entrevista dada ao Gawker por um jovem de 21 anos que passou três semanas em Marrocos a trabalhar para a oDesk, uma das empresas de outsourcing contratadas para o efeito.
Amine Derkaoui explicou que o seu trabalho, pelo qual recebia 1 dólar à hora, passava por analisar fotografias e publicações sinalizadas como impróprios pelos utilizadores da rede social. De cada vez que um conteúdo é reportado, o moderador tem três hipóteses: apagá-lo, ignorá-lo ou enviá-lo para ser analisado pelos funcionários do Facebook na Califórnia que, se necessário, alertam as autoridades.
Segundo explica o jornal, o trabalho dos moderadores - maioritariamente jovens com formação, em países da Ásia, África and América Central - é levado a cabo em casa (ou em cibercafés), sem que sejam, por exemplo, verificados dados como o registo criminal dos colaboradores, aos quais é dado acesso aos dados pessoais dos membros da rede social - o que também coloca algumas questões relativamente à forma como é assegurada a privacidade e segurança dos utilizadores.
Embora a maioria dos conteúdos reportados se revelem inofensivos, surgem cada vez mais notícias de registos de pornografia, pedofilia, racismo e violência a serem carregados para o site. E alguém tem de verificar os conteúdos.
"Deve ser o pior salário pago pelo Facebook", disse Amine Derkaoui ao Daily Telegraph, acrescentado que "o próprio trabalho era muito perturbador", porque "ninguém gosta de ver pessoas cortadas aos bocados todos os dias".
O jovem terá descrito casos de imagens de maus tratos a animais, corpos esquartejados e vídeos de lutas, um cenário que é corroborado pelas histórias de outros trabalhadores nas mesmas condições. "Pedofilia, necrofilia, decapitações, suicídios, etc", relatou um dos entrevistados, que afirmou ter abandonado o trabalho por "valorizar a saúde mental".
O Facebook é o caso principalmente abordado mas não será o único, escreve a imprensa inglesa. Um dono da rede social Bebo disse ao The Telegraph que o procedimento é comum em Silicon Valley, admitindo que também a sua empresa recorre a ele.
"O Facebook tem tantos conteúdos a circular nos seus sistemas todos os dias que precisa de centenas de pessoas a moderar todas as imagens e publicações que são reportados. É melhor que esse tipo de mão-de-obra seja contratado por via do outsourcing, por questões de rapidez, escala e custos", justificou.
Já o Twitter garantiu ter uma equipa interna dedicada ao controlo dos conteúdos reportados, mas recusou-se a responder a questões sobre contratação de empresas de outsourcing. A Google também não quis falar sobre os procedimentos usados na sua rede social.
Escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
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