“A nossa tecnologia funciona”, é a frase que serve de mote para a BMW, acrescentando que faz coisas de forma diferente, disse Philipp Nitschke, o COO da Critical TechWorks (CTW), no início da sua apresentação. Atualmente, a empresa tem dois escritórios em Portugal, Lisboa e Porto, empregando mais de 1.900 funcionários.
Estrutura horizontal onde todos têm “voz”
A nova empresa nasceu entre uma joint venture da BMW e a Critical Software e tudo aconteceu em oito meses, em 2017 quando as empresas chegaram a acordo. A filosofia de fundo deste acordo tem em conta o digital e a produção de mãos dadas no caminho da inovação. A empresa foi fundada no Porto, num espaço de 10 mil quadrados, um pouco maior que o escritório aberto depois em Lisboa que tem 3.200 metros quadrados, em Entrecampos, local que o SAPO TEK visitou. Mas a empresa disse que tem planos para uma nova área na capital do país, prevista para maio, na K-Tower, este sim, com 11.200 metros quadrados.
Rui Cordeiro, CEO da Critical TechWorks, salienta o crescimento de zero para 1.900 pessoas em apenas quatro anos. A Critical TechWorks considera que Portugal é interessante para albergar empresas tecnológicas, mas não quis centralizar toda a sua presença em Lisboa, como também no Porto. É uma empresa centrada nas pessoas, procurando criar algo mais desafiante, o que a tem levado a evoluir ao longo dos anos.
Veja na galeria imagens sobre as tecnologias da Critical TechWorks:
No primeiro dia de operações tinham a marca Critical Software, e migraram 100 pessoas da empresa para a nova joint venture, incluindo o próprio CEO Rui Cordeiro. Essencial foi a parceria de união com a BWM, que ajudou a criar os novos produtos. Com um pensamento diferente, criaram um novo ADN de engenharia de excelência, procurando uma nova visão do que queria fazer, o “Joy in Motion”. Por outro lado, investiu na academia para desenvolver talentos de engenharia, incentivando pessoas fora da universidade a serem formados pela empresa. E dá o exemplo do tempo em que a Critical Software começou em 1998 não havia ninguém na indústria espacial e por isso tiveram de a formar.
Na sua filosofia, todos são engenheiros e abre portas a que todos possam ter oportunidades de evoluir a sua carreira, sem bloqueios, baseado em proficiência. Criaram um sistema de níveis de proficiência, com uma classificação baseada em atributos de autonomia, influência e complexidade. Todos esses níveis têm impacto no modelo da empresa, permitindo que todos os papéis ajudem a organização. A empresa tem uma visão diferente e menos tradicional para os cargos e hierarquias, quebrando as barreiras de nomes como “diretor” ou “gestor”, que são apenas designações, disse o líder da CTW. Para tal criaram avatares, por exemplo, Rui Cordeiro é Chief of Purpose, o equivalente a CEO. “As pessoas escolhem o seu próprio nome, já que ninguém quer saber de títulos oficiais”, revela.
A forma como a empresa se organiza baseia-se em diferentes pilares: equipas em vez de indivíduos, “uma vez que ninguém cresce sozinho”, num modelo horizontal e não vertical.
Há também um equilíbrio entre a autonomia e a estrutura. Não tem papeis de cargos a supervisionar, seguem o modelo de entregar, responsabilizando a equipa e não indivíduos.
Em setembro de 2018, a primeira fase da empresa, a CTW 1.0 tinha 240 pessoas, salientando que havia um pouco de equipas “perdidas” porque não tinham ninguém a dizer o que fazer. Em janeiro de 2019, a CTW 2.0 tinha 1.400 pessoas e foram criadas as unidades. Algumas áreas da organização mostraram-se complexas, quando era necessário reunir, por isso seria necessário dividir. E em setembro de 2021, a CTW 3.0 criou clusters de unidades para a produção, vendas, etc. Mais uma vez, todos ao mesmo nível, sem haver um líder de clusters. Um cluster tem cerca de 800 pessoas, o que dá flexibilidade para retirar pessoas de um lado para o outro, sempre que necessário.
Do lado da BMW, foram separadas diferentes camadas de software, tais como o sistema operativo de performance e a segurança de condução. Atualmente a fabricante está a trabalhar em diferentes gerações de plataformas, produzidas na própria empresa. Atualmente está com a quarta geração da BMW OS para a condução, a terceira geração de infotainment, entre outros sistemas.
A empresa diz que já tem alguns anos de condução autónoma em teste, continuando a trabalhar em diversas aplicações para introduzir nos carros no futuro.
A revolução digital da BMW é feita em Portugal
O BMW iX “The Portuguese Futurist”, é referido como muitos sistemas de software que foram desenvolvidos em Portugal. A Critical Techworks produziu partes significantes do sistema de navegação, a personalização End2End (backend, onboard, app), assim como o entretenimento. Os modos projetados para Apple Car Play e Android Auto também foram desenvolvidos em Portugal. A empresa retirou praticamente todos os botões da porta do condutor, substituindo por um ecrã tátil com diversas funcionalidades, que tem o tamanho de um smartphone. O BMW i7 vai ter funcionalidades digitais, como streaming, num ecrã panorâmico cinematográfico.
No que diz respeito à app, esta está cada vez mais evoluída, uma extensão da experiência quando o condutor não está no carro, esta tem evoluído ao longo dos anos, tornando-se agora uma plataforma de e-commerce, onde os clientes podem encomendar os seus veículos.
A CTW e a BMW têm vindo a combinar o seu trabalho de desenvolvimento, para procurar soluções "state of the art" para o mercado. As empresas dizem que fazem cerca de 30% dos conteúdos in-house, sendo 40% em empresas externas e o restante em parceiros do grupo. A CTW faz a simulação em formato virtual do que necessita, ajudando a criar os protótipos, reduzindo o número de unidades de veículos físicos necessárias, porque a maioria do trabalho é realizado em simulador. A empresa disse que esta medida fez poupar muitos recursos e custos à fabricante. As fábricas digitais permitem planear as fábricas, simulando tudo o que se passa no local, desde imersão a segurança, melhorando o ambiente de segurança. A empresa utiliza aplicações para testar os veículos em ambientes controlados, em forma de simulação.
As plataformas digitais também servem como pontos de venda, algo que foi acelerado pela COVID-19, que obrigou a empresa a adaptar-se mais rapidamente e a criar um sistema de serviço ao cliente. Em vez de imagens dos carros, a empresa oferece modelos tridimensionais, em diferentes ambientes, mostrando funcionalidades interativas dos seus automóveis. Toda a logística é feita na plataforma, desde o contrato de compra e venda, às questões de suporte ao cliente.
Márcio fontes e Cristiana Afonso, Product Visionary da CTW, referem que têm sete equipas a trabalhar no projeto OneGPM, em que realça que os produtos da BMW são centrados no condutor. Têm de ter a certeza que todos os dados recolhidos são usados para melhorar a experiência de condução e entregar os veículos nos mercados onde são necessários. Este projeto visa ultrapassar o desafio de tomar decisões a nível do que é necessário para aumentar as vendas da empresa, mas ao mesmo tempo oferecer aos clientes o carro que estes necessitam.
Ou seja, perceber onde utilizar as tecnologias onde são precisas, diminuindo custos e também os valores a pagar pelos clientes. Assim, a plataforma faz análises em tempo real. A empresa teve de criar uma plataforma de cloud para harmonizar os dados, que oferece informações a mais de 24 mercados e mais de 50 sistemas locais. Este é o resultado obtido pela empresa nos últimos dois anos. O projeto criado na CTW é agora um produto oficial da BMW.
Os dados não são estandardizados e são em grandes quantidades, gerados nos diversos mercados. A empresa criou mais de 200 mil regras para transformar os dados num formato standard, não apenas recolhendo informações sobre os seus veículos, como dos concorrentes diretos.
A plataforma ajuda a BMW a analisar as oportunidades e o volume de risco, assim como a análise do crescimento do mercado, anotar onde falta a concorrência, para apostar nesse segmento. Nos relatórios é possível analisar a quantidade de carros necessários construir para todos os pedidos, por exemplo, números que a empresa controla ao detalhe para manter um dinamismo de produção. A gestão de stocks é importante, mostrando o tempo que cada veículo se encontra armazenado e a envelhecer. O sistema assinala os mesmos, ajudando a tomar ações para o despachar para o mercado, por exemplo.
Os catálogos virtuais ajudam a mostrar os novos modelos
A aplicação EVE é um software de visualização 3D, para ajudar os concessionários da BMW, Mini e Rolls-Royce a mostrar os seus modelos durante a sua comunicação. Desde 2019 que tem vindo a trabalhar nesta plataforma, primeiro com comunicação uma a um, de um computador para monitor, até à atualidade, em que tudo está na cloud, a servir os 66 mercados, com mais de 8 mil máquinas a trabalhar, com milhões de configurações possíveis para mostrar nos modelos 3D.
Os clientes podem assistir a modelos virtuais dos carros que pretende comprar. Quando fecha um negócio, todas as configurações geram códigos únicos QR, com todas as especificações, brochuras, vídeos e animações 3D dos detalhes dos carros. A empresa diz que este sistema permite impressionar os clientes com mais do que as simples imagens dos catálogos estáticos como era antes usado.
Mesmo no concessionário, os espaços estão equipados com headsets de realidade virtual, oferecendo uma primeira experiência imersiva, antes mesmo do potencial cliente se sentar no automóvel para um verdadeiro test-drive, antes de o comprar. É claramente a resposta da empresa ao metaverso, demonstrando estar preparada para montar concessionários virtuais para receber os clientes, quando for necessário.
E até está a ser utilizado o motor Unreal 5 pela CTW, uma ferramenta muito associada aos videojogos, na construção de todo este ambiente virtual. A BMW e a NVidia fizeram uma parceria para a construção de uma “fábrica virtual” em realidade virtual.
Ainda sobre a aplicação BMW, disponível para smartphones iOS e Android, apresenta o status do veículo no ecrã principal. Este aponta a autonomia do veículo, permite aceder aos serviços de manutenção, desde o óleo ou travões. Pode adicionar diferentes veículos que tenha, mas também outros que pretende adquirir ou mesmo “fazer de conta que os tem”, servindo de estratégia de teasing para futuras vendas.
A aplicação foi mostrada em tempo real, com um veículo estacionado na garagem da CTW, pode definir o ambiente de ar condicionado ou ver no mapa onde o carro está estacionado. Pode verificar no mapa locais de estacionamento e enviar diretamente para a dashboard do veículo. Por outro lado, pode verificar todas as informações estatísticas, os quilómetros percorridos e outros dados, incentivando ainda os condutores a terem ações mais sustentáveis na sua condução.
Também pode contactar diretamente a BMW, a loja ou manutenção, fazendo as respetivas marcações. Muitos dos sintomas que tem no veículo podem ser reportadas na aplicação, evitando assim uma deslocação às oficinas para fazer o diagnóstico.
Também pode utilizar a aplicação como navegador, procurar estações de carregamento. E aceder a uma área de exploração de novidades da marca, procurar novos serviços, etc. No geral, mais que uma aplicação, a BMW procura oferecer um companheiro digital, um elo de ligação com o seu veículo e a própria marca. A aplicação está disponível em 50 mercados e disponível em 26 línguas. A aplicação existe desde 2020 e desde então assume o compromisso de a cada dois meses introduzir novas funcionalidades.
E os números falam por si, a empresa diz que a sua base de utilizadores está atualmente nos 9 milhões de pessoas, com uma média de 4,8 estrelas de pontuação na loja de apps.
Em Portugal, está a ser feito o desenvolvimento geral da app, juntamente com a equipa do Brasil, na grande parte das funcionalidades da aplicação. A empresa utiliza o Flutter da Google, o SDK open-source, assumindo-se não só como um “early adopter” da mesma, como a maior organização fora da Google a utilizar a solução. Em breve vai ser introduzida um HUB dedicado a mobilidade elétrica. A aplicação está também disponível no Apple Watch e a empresa tem vindo a criar diversos widgets rápidos, para dar mais controlo aos utilizadores.
No futuro, vai ser ainda adicionado o sistema de estacionamento por controlo remoto. A funcionalidade está prevista ser introduzida no último trimestre de 2022. Pode dar instruções ao veículo para estacionar sozinho, mesmo sentado ao volante. Ou sair para fora e controlá-lo de forma remota, através da aplicação. Na demonstração, tem de estar no alcance de 6 metros do veículo e se retirar o dedo da aplicação, o sistema deteta e imediatamente imobiliza o mesmo. Esta pode ser útil em locais onde estaciona mais estreitos, sem espaço para abrir a porta. Pode sair e continuar a manobra no exterior.
Outra inovação é o sistema automático de portas, abrindo apenas uma ou as quatro em simultâneo. Uma opção ideal para quem utiliza um chofer, como táxis, por exemplo. Em dezembro, poderá utiliza o smartphone como um sistema de segurança, desbloqueando o carro quando deteta o utilizador por perto. Não será preciso retirar o smartphone do bolso para desbloquear o veículo.
O SAPO TEK teve a oportunidade de visitar a área de trabalhos da empresa, onde são produzidos e testados os novos sistemas tecnológicos da BMW que vão chegar aos seus veículos em breve. O edifício tem sete andares de escritórios flexíveis, em que as equipas devem requisitar com antecedência para ocupar, mas também a oportunidade de trabalhar de forma híbrida.
Uma das novidades que acabou de ser lançado, de forma “silenciosa” na Alemanha é o pagamento de estacionamento a partir do próprio painel de instrumentos do carro. Isto sem a necessidade de pegar no smartphone e aceder a qualquer aplicação. E tem ainda a vantagem de detetar quando o carro arranca, parando de imediato a cobrança do estacionamento, ao contrário das aplicações existentes que se não for dada a instrução para parar continua a contabilizar, obrigando a pagamentos desnecessários. Pode pedir fatura diretamente do sistema de infotainment se precisar. E esta é uma funcionalidade da BMW, sem qualquer custo ou taxa para o condutor pagar à fabricante.
Outros sistemas que foram mostrados no laboratório passam por detetor de radar, detetando automaticamente, alertando não só o utilizador como outros veículos dentro do seu ecossistema que circulem nas imediações. Há ainda atualizações automáticas dos sistemas do veículo, sem interferência dos utilizadores, a ser aperfeiçoado na empresa em Portugal.
Nota de redação: Foram corrigidas imprecisões sobre os números de funcionários da CTW e imprecisões sobre os escritórios da mesma. Última atualização 3/11 9h21.
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