A PTW nasceu no Japão em 1994, somando 30 anos de experiência na indústria de videojogos. Não se trata de um estúdio que cria videojogos, mas sim uma prestadora de serviços relacionados com testes, localização às diversas línguas e contextos a nível mundial. A empresa soma uma reputação de trabalhar com as principais editoras e estúdios a nível global. Em números, a empresa japonesa divide-se em 2.800 colaboradores, espalhados por mais de 40 estúdios a nível global e desde 2023 que conta com escritório em Braga.
Em entrevista ao SAPO TEK, Daniela Mar, líder do estúdio de Braga, explica que apesar da dimensão da empresa, esta continua a funcionar como uma boutique, no sentido de oferecer serviços personalizados aos seus clientes. A empresa não está autorizada em revelar quais as editoras com o qual trabalha, mas Daniela Mar afirma que grande parte dos principais players do mercado são seus clientes. Apenas um exemplo dado, a participação da equipa no controlo de qualidade da localização de Final Fantasy 16, o conhecido RPG da Square Enix.
Veja na galeria imagens da PTW Braga:
A escolha de Braga para a instalação do escritório em Portugal deu-se por ser uma cidade jovem e dinâmica, salienta Daniela Mar, por ter uma população com capacidade de falar vários idiomas diferentes, o que diz ser bom para os serviços de localização e controlo de qualidade. A empresa tem capacidade para criar qualquer elemento nas etapas dos seus serviços, desde a criação da arte, áudio, programação dos jogos. E para os jogos já disponíveis no mercado também faz trabalho de suporte aos jogadores.
Em Portugal, o estúdio tem-se focado no trabalho de localização e do controlo de qualidade de localização, não apenas para português de Portugal e do Brasil, mas de outros idiomas. A empresa recruta imigrantes localmente ou vindos de outros países, com conhecimento de línguas em mais de 10 nacionalidades, incluindo o inglês, francês e italiano.
Daniela Mar fez um balanço positivo das operações em Portugal neste primeiro ano, destacando que durante a procura de talento registaram algumas surpresas, tais como ter sido fácil encontrar pessoas fluentes em línguas como o russo e italiano. “Já sabia que Braga tem muitas línguas, mas ter a universidade por perto também ajudou”. O estúdio de Braga conta atualmente com 40 colaboradores e pretende crescer para os 100 em breve. Nos próximos dois a três anos há planos para crescer para os 300 e 400 colaboradores.
Os principais desafios foram iguais a qualquer empresa que se estabeleça num novo país, criar as operações do zero, mas Daniela Braga destaca a “máquina oleada” da casa-mãe que ajudou a montar. O crescimento da equipa e mostrar a qualidade do seu serviço aos clientes também foi apontado como um desafio.
De salientar que o escritório em Braga foi escolhido para acolher o centro de dados da empresa na Europa. Aqui é reunido todo o equipamento, as consolas e jogos que a PTW se encontra a trabalhar a nível europeu. Por exemplo, a equipa da Roménia pode ligar-se remotamente às consolas do data center para aceder aos jogos. Apesar de ser recente, o centro de dados já está em funcionamento.
A PTW trabalhou em mais de 1.500 títulos nos últimos 10 anos, tendo mesmo amealhado mais de 60 prémios nos jogos em que participou. Um dos pontos-chave da empresa é que o seu trabalho não se foca apenas na tradução para outras línguas, mas sim uma adaptação completa. “O contexto também influencia o texto, a geografia onde este está, que pode implicar alterações nos gráficos”. Como exemplo, Daniela Mar refere a comida que as personagens estão a comer. “Para inglês dos Estados Unidos poderão ser hambúrgueres, para um japonês poderá ser sushi”.
A adaptação cultural faz parte desse trabalho de localização, como as piadas, “porque o humor é muito diferente de país para país. Por vezes mesmo a expressão de uma personagem pode ser mais oriental numas geografias, em outras menos”. A empresa tem sempre muito cuidado no controlo de qualidade da localização, em que algumas expressões podem estar traduzidas corretamente, mas a interpretação local pelas pessoas que jogam poderá ser insultuosa ou mesmo diferente daquela que é pretendida pelos criadores do jogo. “Vai ouvir os gamers dizerem que a localização tem muito de respeito pelos jogos, manter a ideologia e o conceito original tem de passar para as diferentes línguas”.
Questionada sobre o impacto da inteligência artificial, sobretudo nas áreas de controlo de qualidade e localização, Daniela Mar diz que não vê as funções serem substituídas, mas sim auxiliadas com o uso dessas ferramentas. “Temos um software desenvolvido internamente de tradução automática. No entanto, a localização vai para lá da tradução, o que me parece para já quase impossível substituir a pessoa que faz esse trabalho, pelo conhecimento da cultura e o ajuste necessário”. Mas acredita na utilidade da IA como ferramenta de auxílio em diferentes áreas, mas em particular na tradução e no apoio ao cliente, através de chatbots para suportar as diferentes línguas.
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