Apesar de Portugal ser um país que sofre de atrito eletrónico, a visão de algumas das grandes empresas do país mostra que se houver uma estratégia bem alinhada, então Portugal tem condições para ser uma referência na economia digital europeia.

Os representantes da PT Portugal, dos CTT e da SIBS, acompanhados por membros da Startup Braga e da Fundação para a Ciência e Tecnologia, destacaram o que Portugal já faz bem, o que Portugal pode fazer melhor e de que forma o país pode dar o salto ao nível da economia digital.

Para começar, há condições que já existem no país, mas que podem ser otimizadas para resultados melhores. O membro do Comité Executivo da PT Portugal, João Sousa, salientou que as infraestruturas tecnológicas já existem, que a população portuguesa é early adopter de novas tecnologias e que esta é uma geração qualificada e vocacionada para o empreendedorismo.

“Não sabemos vender e valorizar aquilo que temos. A inovação não é só tecnologia, é também o processo e a forma de agir. Temos de saber extrapolar e valorizar isto. Por vezes não estamos a valorizar as pequenas empresas que podemos transformar em grandes”, explicou o executivo da PT Portugal.

João Sousa considera que as grandes empresas devem transformar “a montra digital numa montra de vendas”, mas mais importante é ajudar as PME portuguesas “a perceberem como é criado o processo de criar uma montra digital”.

“Os nossos empreendedores têm de ter a visão da globalização”, complementou o diretor de e-commerce dos CTT, Alberto Pimenta. O porta-voz da empresa de correio destacou o facto de Portugal poder ser uma porta de entrada e de saída para toda a Europa, mas também para África e para a América - pelo posicionamento geográfico que o país tem.

E a partir daqui, fazer negócios inteligentes. A diretora de comunicação da SIBS, Maria Antónia Saldanha, considera que as empresas não devem estar “sempre à procura dos mercados óbvios”. “Há mercados com grande potencial, mas nos quais não estamos a promover os nossos produtos. Temos de perceber como é que a inovação nacional pode ser exportada”.

Algo que ajudaria a colocar Portugal “no mapa” seria uma grande marca, isto é, uma empresa que estimulasse o mercado, tivesse capacidade de firmar parcerias e convergir negócios. Pois como lembrou Alberto Pimenta, “uma grande marca ajuda depois a promover outras marcas”.

A representante da SIBS aceitou a dica e desafiou as grandes empresas do painel a unirem-se e a criarem uma plataforma de maiores dimensões que ajudasse Portugal a crescer ao nível do comércio eletrónico.

Para Carlos Oliveira, diretor executivo da Startup Braga, as primeiras grandes marcas podem e devem ser as da “casa”. “Nos últimos cinco anos houve uma mudança fundamental relativamente ao empreendedorismo. As startups são um caminho, mas não vão resolver o problema estrutural do país. Estas startups precisam de ter impacto, as grandes empresas portuguesas e o Estado devem ser os primeiros grandes clientes”.

Primeiro gatinha-se, depois caminha-se e só mais tarde é que se corre
Mas enquanto se fala nos esforços que Portugal precisa de fazer para se afirmar ainda mais no mercado digital, há quem pense na construção e no fortalecimento dos pilares desta capacidade: as pessoas. E no que diz respeito às pessoas, Portugal não está tão competitivo como outros congéneres europeus.

"Há um caminho muito grande a percorrer nas vantagens que a população nacional pode tirar da Internet. O facto de um terço dos portugueses ainda não ter usado Internet é um obstáculo. Estamos a falar tipicamente da populaçao mais idosa e da população mais afastada do litoral”, alertou Pedro Carneiro, vice-presidente da FCT.

“O caminho a seguir é o de capacitar e interessar as pessoas, além do desenvolvimento de esquemas que possam trazer as competências digitais para a população”, frisou.

Do lado das empresas em atividade, Pedro Carneiro considera que o acautelar das questões da propriedade intelectual pode ser uma forma de potenciar a inovação do país, algo que acabou por não acontecer no caso da Via Verde, da Brisa, e dos tarifários pré-pagos, da PT Portugal.

Rui da Rocha Ferreira