Três em cada quatro portugueses nunca leram revistas de divulgação científica, de acordo com um estudo publicado pela Fundação Calouste Gulbenkian e elaborado por uma equipa de sociólogos do Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE) citado pela agência LUSA.

O estudo, que foi realizado entre 2001 e 2002 por três elementos do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES) do ISCTE - António Firmino da Costa, Patrícia Ávila e Sandra Mateus -, mostra que 73,7 por cento dos inquiridos nunca leram este tipo de publicações. Ao mesmo tempo, apenas sete por cento da amostra total - composta por 2.057 indivíduos, afirmaram ler regularmente revistas de teor científico. Mesmo assim, em termos do total da população portuguesa, esta percentagem corresponde a mais de 350 mil pessoas.

Esta investigação, que foi publicada em formato de livro pela Editora Gradiva, visou
caracterizar os leitores de revistas sobre ciência em Portugal, elaborando a
partir dai modelos da relação dos portugueses com a ciência. Os
investigadores apontam que estes níveis inferiores relativos à taxa de
leitura e ao grau de interesse pela ciência são consequência dos baixos
níveis de escolaridade da população portuguesa.

Esta conclusão é comprovada pelo facto do perfil social predominante dos
portugueses que tiveram ou têm um contacto regular com revistas de divulgação científica estar associado a adultos jovens, estudantes e com uma educação ao nível do ensino superior. Outro aspecto analisado pelos investigadores do ISCTE relacionou-se com as fontes alternativas de informação sobre ciência a que os portugueses recorrem.

Neste ponto, revelou-se que a televisão é o meio privilegiado, embora apenas 35,9 por cento dos inquiridos tenham afirmado que vêem com frequência programas científicos neste suporte. Nas posições seguintes está a leitura de artigos, secções ou suplementos sobre ciência em jornais diários ou semanários - sendo que 21,1 por cento declararam consultarem-nos "com alguma frequência" e, mais distanciada, a visita a museus e exposições de ciência, uma actividade exercida regularmente por 9,4 por cento dos inquiridos.

Com base no perfil traçado para o público que lê ou não revistas de divulgação científica, os investigadores do ISCTE tentaram tipificar os vários tipos de relações que os portugueses têm com a ciência. Deste modo, definiram sete categorias-tipo ou sete públicos distintos de ciência: envolvidos, consolidados, iniciados, autodidactas, indiferentes, benevolentes e retraídos. A categoria com mais peso entre a população portuguesa parece ser a dos benevolentes, com 28,1 por cento, sendo composta por pessoas com um grande distanciamento em relação à ciência, embora tenham um sentimento de boa vontade em relação a ela.

Em seguida, encontram-se os indiferentes (22,6 por cento), isto é, indivíduos afastados da ciência e que nutrem uma atitude de indiferença perante este tipo de conhecimento. Em relação às posições extremas nos modos de relação com a ciência, são bastante mais os retraídos (12,4 por cento), isto é, um público caracterizado por um distanciamento extremo em relação à ciência, do que os envolvidos (2,3 por cento), que revelam um modo de relação intenso com a ciência. Assim, representando 63 por cento do total, os inquiridos com perfis-tipo mais distanciados da ciência predominam em Portugal.

O livro "Públicos da Ciência em Portugal", elaborado a partir do estudo, será apresentado oficialmente na Fundação Gulbenkian no dia 14 de Janeiro, servindo ainda posteriormente de base a um ciclo de conferências que se terá lugar em Abril, nessa mesma instituição. O trabalho baseou-se em inquéritos a uma amostra representativa da população portuguesa entre os 15 e os 74 anos residente no continente, estratificada por idade, sexo, grau de escolaridade, condição perante o trabalho e região, bem como num conjunto de entrevistas a cientistas, jornalistas, divulgadores, professores e estudantes.

Notícias Relacionadas:
2000-11-19 - Portas
abertas na Ciência e Tecnologia


2000-11-09 - Ciência
e Tecnologias - Portugueses interessados mas pouco conhecedores