Mais de metade das empresas em Portugal (55%) identificam como maior desafio atrair talento qualificado. Dentro disso, as maiores dificuldades vão para o preenchimento de funções técnicas complexas (33%), mas há mais constrangimentos.

Para um estudo da Manpower, os empregadores sublinharam também a limitação de recursos disponíveis e a redução do tempo de contratação (ambos com 21%).

Por sectores, as dificuldade no preenchimento de vagas em funções técnicas complexas são mais sentidas na energia e utilities (43%), mas também são destacadas pelo empregadores em áreas como os Serviços de Comunicação, Tecnologias de Informação, Finanças, Imobiliário, Indústria Pesada e Materiais, entre outras.

IA no recrutamento

A chegada de novas ferramentas digitais, como a inteligência artificial aplicada ao recrutamento, ainda tem um impacto, pelo menos positivo, pouco relevante na realidade do recrutamento.

Dezassete por cento dos empregadores nacionais referem ter dificuldades em acompanhar as mais recentes inovações neste campo e 14% referem desafios associados à utilização prática dessas ferramentas pelos candidatos.

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O sector de serviços de comunicação é o que mais aponta o desafio do uso de IA pelos candidatos (26%), seguido dos setores de energia e utilities e finanças e imobiliário, ambos a registarem 21%.

Já no que respeita à aprendizagem das mais recentes ferramentas de recrutamento com IA, os setores de Tecnologias de Informação e de Finanças e Imobiliário foram os que mais apontaram o tema como um desafio, tanto em Portugal (27% e 21%, respetivamente), como a nível global (29% e 28%).

A maioria das empresas em Portugal têm uma “perceção relativamente positiva sobre a eficácia dos seus processos de recrutamento”, revela o estudo. Talvez por isso, só 26% reconheçam dificuldades em melhorar a experiência do candidato durante o processo de recrutamento.

Mais de metade das organizações inquiridas (51%) acreditam que conseguem selecionar as pessoas certas para as funções certas e 11% consideram mesmo o seu processo de recrutamento como excelente. A maioria são mais modestas: 40% acreditam que têm processos de recrutamento bons e 38% aceitáveis. Só “11% dos empregadores nacionais admitem fragilidades”.

Portugal vs resto do mundo

Os valores apurados em Portugal estão em linha com a média global, embora sejam ligeiramente superiores em algumas dificuldades apontadas. A nível global, 46% dos empregadores inquiridos reconhecem dificuldades para encontrar o talento qualificado de que precisam, 29% dão destaque à complexidade técnica das funções como entrave e 22% referem a escassez de recursos.

Só no que se refere ao impacto das ferramentas de IA no recrutamento é que Portugal parece surgir mais à vontade que a média global, onde 23% dos empregadores reconhecem dificuldades em acompanhar as inovações nesta área e 22% dizem que também os candidatos veem desafios na utilização prática desse tipo de ferramentas.

Em matéria de confiança na qualidade e eficácia dos processos de contratação, já é a nível global os números são mais expressivos: 67% dos empregadores confiam na eficácia dos seus processos de contratação e só 5% reconhecem debilidades.

Empregadores e candidatos não pensam o mesmo

Um outro estudo citado pela Manpower, na nota de divulgação dos resultados da sua pesquisa, sublinha que a perceção dos candidatos e das empresas sobre processos de recrutamento continua pouco alinhada. Quase metade dos candidatos (48%) inquiridos nesta pesquisa sentem que foram ignorados no último ano, durante a procura de emprego. Já 30% elegem o preenchimento das candidaturas como o ponto mais frustrante do processo.

Os mesmos dados da Criterea revelam que 45% dos candidatos identificam dificuldades de progressão por excesso de concorrência e 31% demonstram sentimentos negativos em relação ao uso de IA pelas empresas e aos riscos de exclusão arbitrária ou injusta que essa utilização possa potenciar.

“Estes dados evidenciam um fosso entre a confiança das empresas na eficácia dos seus processos e as dificuldades reais enfrentadas pelos candidatos, sinalizando a necessidade de maior atenção à experiência do candidato como fator estratégico de atração de talento”, destaca a Manpower.

O estudo trimestral da empresa de recursos humanos em destaque neste artigo foi realizado em 42 países e territórios, a partir de 40.533 entrevistas a empregadores.