Portugal apresenta níveis de produtividade na contribuição para o PIB aquém dos da média da UE e dos EUA desde 2010 e a adoção da automação e da IA Generativa será uma oportunidade para um "impacto quântico" na redução deste fosso. O país pode aproveitar esta oportunidade, mas tal só acontecerá se a aposta for feita rapidamente e passar pela requalificação e a realocação da força do trabalho .
As conclusões são do estudo "Future of Work", da McKinsey & Company, localizado para o mercado português, que indica que a adoção da automação e da IA Generativa pode contribuir para um salto de 2,7 pontos percentuais anuais de crescimento do PIB por aumento de produtividade até 2030, alinhando com a média da União Europeia.
O potencial de aumento de produtividade não será oportunidade única exclusiva de Portugal, com a UE e os EUA a apresentarem avanços semelhantes de produtividade, "assim Portugal terá de dar este salto de forma rápida, senão o fosso será ainda maior", referiu Duarte Begonha, sócio sénior da McKinsey, durante a conferência de apresentação dos resultados do estudo, esta segunda-feira, em Lisboa.
Se a adoção não for tão rápida, por exemplo devido as restrições regulatórias, tal terá um impacto negativo no crescimento do PIB. Os dados apontam para uma subida de 0,2% se a adoção for lenta, por comparação a uma subida de 3,1% com uma adoção mais rápida.
A oportunidade exige um esforço estrutural da realocação da força de trabalho. Segundo o estudo, a adoção rápida da automação libertará horas de trabalho equivalentes a 1,3 milhões de empregos. Estas horas poderão ser dedicadas a outras tarefas de maior valor acrescentado que conduzirá ao aumento produtividade. Este aumento resultará então na compensação das horas libertadas e na criação de mais horas de procura laboral, levando a um saldo positivo de horas de trabalho equivalentes a 300 mil empregos.
As novas tecnologias uma vez adotadas vão permitir fazer uma disrupção na maneira como se fazem algumas tarefas. "Vão levar a uma reformulação da forma de trabalho e a formação é um elemento chave". Isto só vai ser possível se conseguirmos adotar estas tecnologias nos diferentes sectores em Portugal de forma rápida e em simultâneo, reforçou.
“É necessário requalificar e formar na utilização destas tecnologias caso contrário estes ganhos de produtividade não vão ser significativos”, disse Duarte Begonha.
O estudo indica que a adoção rápida da automação e IA generativa irá afetar cerca de 30% do mercado de trabalho até 2030, requerendo novas capacidades tecnológicas e sociais equivalentes a novas tarefas. Conduzirá no entanto à necessidade de realocação profissional de cerca de 320 mil pessoas, por exemplo no atendimento a cliente e apoio administrativo.
Um atraso na realocação de pessoas de menos 20% terá um impacto no crescimento do PIB e ainda o risco de aumento do desemprego, avisa a McKinsey. O conjunto de competências exigido pelo mercado também vai mudar.
Até 2030 e num cenário de adoção mais rápida, as ocupações que dependem maioritariamente de competências cognitivas básicas serão as que irão sofrer a maior diminuição e, por isto, reduzem a necessidade destas competências.
Do lado oposto, haverá um aumento significativo das competências tecnológicas, com o número de empregos que exigem estas competências como principais a aumentar 38%. A necessidade de competências sociais e emocionais também cresce, com os resultados a apontarem para uma subida de 17%.
O aumento destas competências, "principalmente as tecnológicas", será transversal a todos os níveis de rendimento, salientou Rita Calvão, sócia associada da McKinsey & Company.
Para concretizar esta oportunidade é preciso uma atuação conjunta entre os setores público, privado e educativo. "As pessoas vêm esta mudança como uma coisa muito mais lá para a frente".
"O grande desafio não está em ter as tecnologias, mas investir na adoção das tecnologias", sublinhou Duarte Begonha. "Por cada euro investido na tecnologia, vão ser necessários três euros na gestão da mudança", acrescentou.
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