Realizou-se hoje no Centro Cultural de Belém a quarta reunião da Comissão Interministerial para a Sociedade da Informação. De seguida, foi divulgado aos jornalistas o terceiro Relatório de Acompanhamento das Acções Executadas, em Curso e Programadas no Âmbito da Iniciativa Internet, que enumera as medidas efectuadas por todas as pastas do governo.
O Ministro da Ciência e da Tecnologia Mariano Gago - que também coordena esta estrutura governamental criada no ano passado para desenvolver um conjunto de actividades conjuntas entre os membros do Governo em matéria de Sociedade da Informação - apresentou os principais resultados provisórios do segundo inquérito à utilização das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) pela população portuguesa realizado pelo Observatório das Ciências e das Tecnologias.
De acordo com este documento, metade (49%) dos portugueses utilizam computador, um crescimento de 10 por cento em relação ao primeiro documento divulgado em Dezembro do ano passado. No que toca aos agregados familiares, 39 por cento possuem um PC, contra 27 por cento dos apurados na anterior edição do estudo.
Entre os homens, constata-se que pouco mais de metade (52 por cento) são adeptos da informática, sendo quase metade (47 por cento) as mulheres que utilizam PCs. Por outro lado, os cidadãos mais jovens e com um maior nível de qualificações são os maiores utilizadores do computador. Um dado interessante é que a maior percentagem de utilizadores a nível nacional se encontra no Alentejo (57%), ficando a região de Lisboa e Vale do Tejo na segunda posição (52%) e o Algarve em terceiro (com 50%).
Quanto à Internet, quase um terço (30%) dos portugueses já navegaram no ciberespaço. O inquérito anterior apontava apenas para 22 por cento de utilizadores. Por outro lado, 18 por cento dos lares nacionais possuem acesso à Internet, contra os 8 por cento indicados no ano passado. As principais actividades realizadas online pelos cibernautas portugueses são as que se relacionam com o estudo e a aprendizagem (77 por cento), o envio e recepção de emails (73%) e a procura de notícias e de informação generalista (71 por cento).
Salienta-se, porém, que o número de horas de ligação à Rede por semana continua ainda baixo, uma vez que 59 por cento dos internautas nacionais passam apenas cinco ou menos horas online por semana. É durante as horas de trabalho que os portugueses navegam mais na Net (40%), sendo o local mais utilizado a casa de amigos ou familiares (50%), seguido de perto pela habitação própria (48%) e pelo local de emprego.
Em relação à percentagem dos elementos de cada um dos sexos que já estiveram online, a proporção é equilibrada, com uma ligeira desvantagem de sete por cento para as mulheres. A grande faixa de internautas encontra-se, tal como sucede nos utilizadores de computadores, nos portugueses mais jovens e com um maior nível educacional. Por região, o uso da Internet é maior em Lisboa e Vale do Tejo (42%), encontrando-se o Algarve (38%) e o Alentejo (31%) nos segundos e terceiros lugares.
O comércio electrónico, contudo, é que ainda não atraiu muitos portugueses, sendo que só três por cento já recorreram a este novo método de fazer compras, constituindo os que pretendem vir a utilizá-lo a mesma percentagem. O método de pagamento preferido é o cartão de crédito (38 por cento), muito distanciado do reembolso postal (28%). A falta de confiança é a razão mais apontada para não utilizar o ecommerce. Este inquérito foi realizado entre 11 de Julho e 6 de Agosto deste ano, com base numa amostra de três mil indivíduos, mediante um questionário por entrevista directa realizada a partir de casa.
Mariano Gago divulgou ainda um outro estudo também efectuado pelo Observatório das Ciências e das Tecnologias. Denominado de NETCENSUS *.PT, consiste, segundo o ministro, "numa iniciativa para medir os conteúdos portugueses na Web", baseando-se nos sites publicamente acessíveis cujos endereços têm um domínio de topo .PT, para o qual foi utilizado um robot de software. O principal resultado deste estudo é que nos últimos cinco anos se registou uma multiplicação por 50 dos conteúdos portugueses na Web, em termos de volume de dados medidos em gigabytes.
Segundo Mariano Gago, os dados foram obtidos por defeito, uma vez que o robot não faz correr as aplicações inseridas nas páginas como vídeos. Este governante assinalou ainda que "existe uma fortíssima presença do texto", que é constante ao longo dos anos, "uma crescente presença da imagem nos anos mais recentes, apesar de ainda não ser muita". Outro dado é que se nota uma utilização muito reduzida dos recursos áudio e vídeo, apesar deste aumento exponencial dos conteúdos nacionais. Mariano Gago afirmou ainda que acredita que nos próximos anos se vai verificar uma grande aposta no aúdio e vídeo nos sites portugueses.
Foram também revelados dados sobre um estudo intitulado Oferta e procura de formação em Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC) no Ensino Superior, também da autoria do Observatório, em que se refere que o número de diplomados em engenharia e tecnologia cresceu em média 7,3 por cento ao ano nos últimos cinco anos, uma percentagem ligeiramente inferior à média total de formados em todos os cursos (8,5%).
Comentando um estudo comparativo divulgado ontem pela Comissão Europeia sobre a evolução da inovação tecnológica nos Estados-membros em que Portugal é classificado em último lugar, Mariano Gago referiu que se tratava de um relatório preliminar em que "quase um quarto dos indicadores - 17 no total - estão ultrapassadíssimos", referindo-se cada um a anos diferentes (veja nas Notícias Relacionadas o artigo do TeK sobre este estudo.
Apesar destas deficiências, o ministro assinala que o estudo refere que Portugal tem registado progressos significativos nas áreas de políticas públicas e um crescimento muito lento na qualificação da população portuguesa. Acrescenta, porém, que no único dos relatórios que está terminado, referente a um dos indicadores, a Investigação e Desenvolvimento (I&D), Portugal surge várias vezes com o maior ritmo de crescimento. Nesse texto, intitulado de Benchmarking Europeu de I&D, lidera a lista do investimento público nesta área, do número de publicações científicas e de doutorados em ciência e tecnologia.
Na sua opinião, "estes indicadores são completamente optimistas", pois "Portugal está muito à frente dos países mais desenvolvidos da Europa em termos de evolução do ritmo de crescimento tecnológico, apesar de apresentar um ponto de partida muito baixo".
Miguel Caetano
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