No palco do 34.º Congresso da APDC, Pedro Petiz, diretor de Desenvolvimento Estratégico da Tekever, deixou claro que “a Defesa vai absorver tudo o que é tecnologia que lhe possa dar mais vantagem”.

Neste sentido, a Inteligência Artificial já está a ser usada em várias escalas, com soluções a serem desenvolvidas para ajudar a interpretar o cenário tático, a otimizar imagens e treinos, ou ainda a melhorar missões de resposta. “A IA é mais do que uma ferramenta, é um estojo de ferramentas”, realçou.

A Tekever, que ainda em maio se juntou ao clube dos unicórnios portugueses, afirma-se também como um exemplo da evolução neste sector. A empresa começou na área da robótica e hoje é uma referência europeia na produção de drones. A colaboração com as forças armadas de vários países já acontecia antes da guerra na Ucrânia, mas o conflito veio acelerar o uso desta tecnologia.

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Quando questionado se vamos ter uma IA que aperta o gatilho, Pedro Petiz lembrou que em Estados de direito, a legislação internacional de guerra impõe que exista sempre um elemento humano, isto é um “human on the loop”, a supervisionar e a tomar uma decisão.

No entanto, este é “um contexto que vamos ver cada vez mais a evoluir” e, aqui, não se trata apenas de apertar um gatilho, passando por cenários em que sistemas de IA são colocados frente a frente, onde há “o risco de existir uma escalada que não é real”.

Outro das questões que requerem cautela é “quando uma IA nos apresenta uma solução e nós temos isso em conta nas coisas que fazemos”. Num cenário de stress elevado em que um sistema de IA apresenta várias opções para uma decisão, o elemento humano vai, tipicamente, optar pela primeira que lhe aparece à frente. É por este motivo que importa assegurar que os sistemas de IA usados, sobretudo em contextos de Defesa, são responsáveis 

Defesa como alavanca económica

Segundo José Neves, presidente do AED Cluster Portugal, o setor da Aeronáutica, Espaço e Defesa já representa 2,1 mil milhões de euros em volume de negócios. Mas para que este número continue a crescer é necessário reforçar a capacidade de produção em Portugal e integrar as empresas portuguesas nas cadeias de valor internacionais.

34º Congresso da APDC
34º Congresso da APDC José Neves, presidente do AED Cluster Portugal na sessão Business & Science working together in Defense créditos: APDC (via Flickr)

Perante as atuais dificuldades no fornecimento, é essencial para “trazer para a Europa uma capacidade industrial que deixou de estar”, não só nas cadeias de fornecimento, mas em toda a cadeia de valor, defendeu Pedro Petiz.

“A Europa vai ter de investir e precisa de empresas que possam colmatar estas falhas”. Portugal pode representar um elemento relevante neste contexo, através da criação de ecossistemas de fornecimento, no entanto é necessário uma estratégia clara e o país precisa de perceber as capacidades da sua dimensão.

“Se calhar não vamos desenvolver submarinos, mas podemos desenvolver drones. Se calhar não vamos desenvolver sistemas de lançamento para órbita, mas podemos desenvolver software”, afirmou o responsável.

A par do software, as áreas dos têxteis, aviação, telecomunicações e engenharias são áreas onde Portugal já tem provas dadas e que podem ser úteis para a sua consolidação, realçaram o diretor de Desenvolvimento Estratégico da Tekever e Miguel Correia Pinto, responsável pela área de Valorização do Conhecimento da idD Portugal Defence.

Como realçado por este último responsável, a rápida transformação tecnológica, acompanhada por uma “explosão no conhecimento e acesso à informação, implica que a colaboração entre Forças Armadas, empresas e universidades é fulcral para que o sector da Defesa não perca o ritmo.