O impacto do COVID-19 na Europa tem sido alargado e a IDC prevê uma quebra do PIB em 4,7%, com o acumular da incerteza, redução dos colaboradores e do consumo. Um inquérito realizado em Portugal mostra que também as empresas portuguesas se estão a adaptar a este novo cenário, embora só 19% admitam ter visto a sua atividade fortemente restringida.
Gabriel Coimbra, diretor geral da IDC Portugal, abriu um webinar que a consultora está a realizar esta manhã admitindo que nada será como antes, e que o tema da transição digital não podia ser mais relevante neste cenário. O webinar realizado através de Zoom, de participação aberta mas obrigando a inscrição, contou logo de início com mais de 1.200 participantes, e tem no alinhamento a apresentação do estudo e dos cenários previstos pela IDC, mas também a intervenção de vários oradores de organizações e empresas portuguesas.
André de Aragão Azevedo, secretário de Estado para a Transição Digital, foi um dos primeiros oradores a intervir, alinhando as várias iniciativas que o Governo tem desenvolvido nets fase de crise, que tem vários fatores atípicos e é fortemente marcada pelo desconhecimento e incerteza.
O secretário de Estado lembrou que o digital tem nesta crise um papel relevante mas que ainda não temos consciência plena da sua verdadeira dimensão.
“O desafio é perceber como o digital pode ou não ser utilizado para combater a crise”, afirma, sobretudo respondendo à preocupação de manter o ecossistema e a economia a funciona. “A preocupação é também o pós crise e a forma como vamos sair desta fase”, afirma André de Aragão Azevedo.
Mostrando-se orgulhoso da capacidade de resposta rápida e de adaptação das empresas, André de Aragão Azevedo afirma que mais uma vez mostrámos que a crise revelou a capacidade dos portugueses de mostrar o seu melhor.
“O regime de exceção é uma oportunidade única para nos reposicionarmos”, afirma, defendendo que “no fim desta crise vamos ter um país muito diferente”, e que “se a COVID-19 teve algumas vantagens foi fazer-nos sair da zona de conforto em que estávamos e questionar os bloqueios que ainda existiam e resistências à inovação digital”, lembra André de Aragão Azevedo.
Cenários diferentes com impactos na economia
A IDC tem vindo a desenvolver vários cenários relativamente ao impacto da crise a nível europeu, consoante a saída da fase da pandemia acontece no início do terceiro trimestre de 2020 ou já no início do quarto trimestre, e isso tem um peso negativo na confiança e no consumo, com uma recuperação da economia adiada para 2021.
Entre as recomendações alinhadas, Vanda Soeiro, Consulting Manager da IDC Portugal, refere o planeamento para o cenário provável e pessimista em simultâneo, dando continuidade ao negócio através do uso de canais digitais, manter o suporte ao cliente em primeiro lugar e identificar precocemente os elos fracos do ecossistema, reforçando também as capacidades de logística.
Empresas generalizam teletrabalho e reforçam canais digitais
O inquérito realizado em tempo recorde pela IDC Portugal, com respostas entre os dias 27 e 31 de março, teve um nível elevado de respostas, com 531 participações, de empresas de várias áreas e de diferentes dimensões. Entre as respostas percebe-se que 19% das organizações já viram a sua atividade fortemente restringida, mas que 40% vão continuar com um nível reduzido de impacto, enquanto 31% dizem que não existem grandes alterações no funcionamento das suas organizações. Só 8% dizem não sentir qualquer impacto.
As principais preocupações das empresas com esta crise centram-se no impacto financeiro, com 70% a referirem a preocupação com receitas e lucros, seguindo-se a preocupação com clientes e operações, com mais de 55% de respostas, e depois os colaboradores.
O cenário mais provável de recessão da economia domina as preocupações de 90% dos inquiridos, assim como o impacto financeiro na organização, a diminuição da confiança dos consumidores e redução do consumo. De notar que só pouco mais de 20% das organizações assinalam a preocupação de existir escassez de informação para suportar decisões.
Entre as iniciativas adotadas estão a generalização do teletrabalho, proibição de participação em eventos e de viagens, e foram implementados novos canais de comunicação com colaboradores. Mais de metade das organizações encerraram instalações e o reforço da infraestrutura tecnológica foi uma opção de mais de 55%.
O que se nota nas respostas é também a maior disponibilidade dos canais digitais e reforço da segurança. Em face das medidas de confinamento adotadas no território nacional, a grande maioria das organizações optam por aumentar a disponibilidade dos canais digitais e pelo reforço da segurança.
Mais de 60% das empresas que responderam aumentaram a disponibilidade dos canais digitais, mais de 40% reforçaram a segurança e cerca de 40% monitorização da execução do serviço a clientes. Há ainda cerca de 30% que criaram novos canais digitais e mais de 20% implementaram novos canais de comunicação com clientes.
Infarmed, EDP, Sonae e NOS partilham experiências
Para além da partilha de dados a IDC Portugal abriu o webinar a várias empresas e organizações que partilharam as suas experiências com as mudanças realizadas para responder aos desafios que a pandemia de COVID-19 e o Estado de Emergência, que se vai prolongar por mais duas semanas.
Carina Adriano, Diretora de Sistemas de Informação do Infarmed afirma que esta pandemia está a "empurra-nos claramente para a transformação digital". Com grande parte das equipas em teletrabalho, a responsável lembrou como foi necessário preparar rapidamente a estrutura e os trabalhadores para trabalharem remotamente, em termos de ferramentas mas também hábitos de trabalho.
A comunicação é uma das preocupações para ajudar a adaptação de modos de trabalho entre os colaboradores, mas também de gestão, e a resposta tem sido muito positiva, afirma Carina Adriano
Do lado da EDP, José Ferrari Careto, Digital and IT Office do EDP Group, diz que 70% dos trabalhadores da empresa já estão em teletrabalho e que isso foi um processo de adaptação simplificado com o Teams e com o facto de as pessoas já serem muito proficientes nestas ferramentas. Entre os desafios sublinha o facto de terem encerrado os call centers, com 500 pessoas que passaram a trabalhar remotamente, e a necessidade de comunicar os temas do uso sensato da tecnologia e da segurança.
Outro testemunho veio da Dott, que nasceu há 11 meses já com um ADN digital como afirma Gaspar d'Orey, CEO da empresa, que acredita que esta é uma oportunidade para as empresas acelerarem a migração do comércio físico para o digital. A Dott está a trabalhar nesta área e fez um acordo com a Sonae Sierra para evangelizar os logistas dos centros comerciais na mudança para um conceito de omnichannel.
A Sonae MC é outra das empresas convidadas, e Miguel Águas, administrador, lembra que os desafios da empresa passaram por adaptar as lojas e cadeias de abastecimento com as proteções, ciclos de limpeza e gestão das equipas exigidas para a adaptação à COVID-19. Mais de 90% dos trabalhadores da Sonae MC continuam a trabalhar nas lojas, e mesmo assim há cerca de 4 mil colaboradores em teletrabalho com os desafios de adaptação e cibersegurança.
Manuel Eanes, administrador da NOS, realça os desafios que para um operador de comunicações esta nova situação traz, mas afirma que é uma oportunidade de testar uma forma de trabalhar mais remota, mais segura e mais ágil.
Tecnológicas aceleram apoio a clientes enquanto se preparam internamente
Do lado das empresas tecnológicas a participar no webinar o desafio é duplo, respondendo a um crescimento da utilização de ferramentas de colaboração e de procura de hardware e soluções de mobilidade, como computadores portáteis ou VPNs, enquanto também tiveram de adaptar as suas equipas internas.
Paula Panarra, diretora geral da Microsoft Portugal partilhou a experiência da empresa, que apesar de já estar muito adaptada ao trabalho remoto reconhece agora o desafio diferente que é ter as famílias em casa, e estar em confinamento. "Exige uma comunicação constante com as equipas [...] temos a preocupação de trazer não só as ferramentas mas também as boas práticas", sublinha.
Do lado da Fujitsu Susana Soares, diretora de marketing para a Europa do Sul, sublinhou a rapidez de mudança das mais de 2.200 pessoas que quando foi decretado o Estado de emergência passaram a trabalhar a partir de casa, mas num processo que já tinha começado antes.
Na Google o trabalho remoto já é uma prática comum, mas Jorge Reto, head of Google Cloud, falou sobre a forma como a empresa está a acompanhar os clientes e lembrou que é preciso manter a energia e não gastar tudo neste primeiro mês, até porque esta pode ser uma corrida mais longa do que estamos a prever.
Na sua intervenção, José Correia, diretor geral da HP Portugal, explica como a empresa está a responder aos clientes que tiveram de colocar as suas equipas em mobilidade, muitos dos quais trabalhavam ainda com desktops, e como a HP teve de acelerar a capacidade de produção. Mas lembrou que a HP fala da transformação do posto de trabalho há mais de dois anos e que tem de ser feita para fazer face a situações tão críticas como esta, para tornar os postos de trabalho mais móveis, com mais ferramentas de colaboração e mais seguros.
"Esta realidade dá-nos essa lição", sublinha, alertando que num futuro muito próximo temos de dar mais atenção a esta questão, destaca José Correia
Outros intervenientes realçaram também o trabalho das equipas que está a ser feito no suporte à mudança que as empresas e a economia está a atravessar, e Pedro Faustino, managing director da Axians, pediu um aplauso para todos os profissionais de TI, que entre os heróis que têm sido destacados na área da saúde, ou dos serviços que têm de se manter em funcionamento (como supermercados, segurança e saneamento), são também heróis porque saem todos os dias de casa para garantir a manutenção dos sistemas de informação essenciais para que tudo continue a funcionar.
Nota da redação: A notícia foi atualizada com mais informação enquanto decorria o Webinar. Última atualização às 12h34
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