Este ano, e pela primeira vez, no orçamento de Tecnologias de Informação de uma empresa industrial média, o software vai pesar mais que o investimento em hardware para automação. Progressivamente, o hardware tem perdido o seu peso neste mercado, num movimento que continuará a intensificar-se nos próximos anos, mas que já é hoje bastante expressivo. Nos últimos cinco anos, o mercado de hardware industrial encolheu 40%.

Daqui a mais cinco, as mesmas previsões indicam que o software industrial vai ser um mercado duas vezes mais valioso que o mercado de hardware para automação, a valer 288 mil milhões de dólares, contra os 109 mil milhões de dólares de 2021. Os cálculos constam do estudo Industrial Software Landscape 2022-2027, que analisou 150 empresas em 14 categorias de software distintas.

A pesquisa da IoT Analytics também mostra que a relação de força entre as empresas de tecnologia com soluções para este mercado está a mudar, como revela o facto da Microsoft ter faturado mais com clientes da indústria em 2021 que a SAP, que liderou esse mercado durante anos

A justificar a troca de cadeiras estão sobretudo as ofertas Azure e Microsoft Dynamics, que permitiram à Microsoft destacar-se nas vendas à indústria em seis das 14 categorias analisadas no estudo. A saber: infraestrutura cloud e serviços, cibersegurança, dados e analítica, serviços de suporte em campo (Field Service), plataformas IIoT e virtualização.

A SAP dominou este mercado por décadas, graças sobretudo ao ERP, que continua a segurar a posição. Nos últimos anos, a empresa alemã tem transformado o negócio e integrado com a plataforma de gestão um mundo de soluções para áreas específicas, dos recursos humanos, ao CRM, passando pela gestão da cadeia logística. Graças a isso, continua a destacar-se em cinco categorias analisadas: gestão de cadeias de valor; gestão de ativos empresariais; gestão do ciclo de vida do produto, gestão de operações industriais e também na área de Field Service. O terceiro nome neste ranking é a Siemens, que se destaca na automação, gestão de operações industriais, plataformas IIoT ou sistemas de controlo de máquinas.

Amazon com mais vendas que a Oracle

É também curioso notar que o impacto da cloud já permite a novos players neste mercado, como a Amazon, faturar mais junto de empresas com produção industrial que a Oracle. O pacote de soluções e serviços AWS, desde há algum tempo com soluções próprias para a esta indústria, explicam o quarto lugar da Amazon nesta tabela. Em relação à Oracle, e como explica também a pesquisa, a empresa inovou quando em 2014 flexibilizou boa parte da sua oferta para um modelos SaaS mas acabou por ser ultrapassada, embora continue a ter uma forte presença no sector, sobretudo nos segmentos de ERP e gestão da cadeia de abastecimento.

Nesta tabela destaque ainda para o recente spin-off da IBM, a Kyndryl, que é a oitava empresa de TI com maior faturação na indústria. A empresa que absorveu o negócio de infraestruturas da IBM tem perdido fôlego no sector industrial, mas mantém um peso importante na gestão de ativos empresariais, cloud híbrida, segurança ou Websphere.

A contribuir para a explosão do software na indústria, a IoT Analytics diz que estão vários fatores e todos eles vão continuar a ter impacto nos próximos anos, pelo que a ordem e os nomes neste ranking tendem a mudar facilmente.

A digitalização de dados e fluxos de informação é um dos aspetos apontados. Já começou e vai continuar, estendendo-se a um número cada vez maior de processos. A cloud, que é uma das principais razões para que os investimentos em hardware estejam a ser trocados por investimentos em serviços nos mais diversos sectores, está também aqui a ser determinante.

A própria maturidade das soluções de software em algumas áreas, fazendo da opção uma alternativa com vantagem, face à realização manual de algumas tarefas, será outro impulsionador do investimento em software. A segurança e a evolução das necessidades nessa área, cada vez mais complexas, juntam-se à lista de boas razões para aumentar os investimentos em software nos próximos anos.