Nos últimos tempos têm sido investidos milhões em inteligência artificial (IA), impulsionando o desenvolvimento de novas tecnologias e o surgimento de modelos que prometem revolucionar desde o atendimento ao cliente até a análise de dados complexos. No entanto, à medida que os valores de mercado alcançam valores astronómicos, surge uma questão inevitável: será que a bolha da IA está prestes a rebentar? Durante o Web Summit 2024, Bhavin Shah, CEO da Moveworks, e Sarah Myers West, Co-Diretora Executiva do AI Now Institute, partilharam as suas perspetivas sobre a sustentabilidade do atual “boom” da IA.
Para Bhavin Shah, a situação atual não é comparável à bolha do início da era dotcom. “Acho que agora é muito diferente,” começou Shah, “As empresas têm oportunidades reais de criar e entregar valor”. Shah salientou que o valor de mercado de uma empresa não representa o seu sucesso, mas sim a perspetiva externa do seu valor.
“Como em qualquer ciclo de crescimento, vamos ver empresas a falhar e outras a crescer e escalar”, referiu o CEO da Moveworks.
O responsável exemplificou que “se olharmos para o caso das empresas de Donald J. Trump, geram 4 milhões de dólares por ano e estão avaliadas em 6,5 mil milhões. O que realmente importa é a receita, não o valor especulativo”.
Sarah Myers West, por outro lado, mostrou-se mais cautelosa, sublinhando que o atual modelo de IA é extremamente exigente em termos de recursos e investimentos.
“Se voltarmos um ano e meio atrás, quando começou o hype em torno do ChatGPT, percebemos que esta versão da IA requer investimentos massivos,” afirmou.
A co-Diretora Executiva do AI Now Institute West mencionou que recentemente, investidores como a Sequoia e a Goldman Sachs têm demonstrado ceticismo sobre a durabilidade do sector, algo que vê como um sinal de que poderemos estar numa bolha. “Temos visto grandes empresas a apostarem fortemente no investimento governamental. Se esta bolha estourar, quais serão as consequências e quem será beneficiado?”, perguntou.
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Além disso, no lado dos consumidores, as “inovações” são limitadas a assistentes de texto e bots, com modelos de negócios que dependem de uma base de utilizadores crescente e gratuita, o que levanta dúvidas sobre a rentabilidade sustentável.
“A tendência para aumentar custos ou explorar modelos de negócio tóxicos é um perigo que já vimos noutras indústrias,” alertou.
Bhavin Shah também ponderou sobre o valor real que a IA oferece às empresas, questionando a eficácia de algumas das suas aplicações. “Economizar três horas por semana aos funcionários não vai transformar a produtividade global de uma empresa,” argumentou Shah, concluindo que “o impacto só será relevante se a IA modificar a forma como o trabalho é feito”.
E será a IA o novo "comboio" que conduzirá a sociedade a uma nova era, como fez a internet, ou acabará como o formato "Betamax", cheio de promessas, mas sem concretização prática? Bhavin Shah vê na inteligência artificial um poder modificador, algo que, tal como a invenção do transformador, acabará por se infiltrar em todos os setores - da saúde às finanças, passando por quase todos os aspetos da vida quotidiana. Para ele, é uma tecnologia que promete ser absorvida, aos poucos, pela sociedade, mudando as formas de trabalho, interação e desenvolvimento de serviços essenciais.
Já Sarah Myers West pondera se a IA será mais um “Betamax” no seu desempenho.
“Podemos estar a adotar versões de IA que pouco acrescentam e que, em áreas críticas como a saúde, onde as falhas têm consequências reais, e se tornam perigosas”, considera a responsável.
Para já, resta esperar e ver como esta transformação evoluirá. Daqui a um ano, no mesmo sítio, a resposta poderá estar mais clara.
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