Portugal tem sete unicórnios de origem nacional (hoje com sede fora do país). O número já foi repetido vezes sem conta durante o Web Summit e voltou a ser, no debate que tentou antecipar a próxima década do sector tecnológico português. Vale a pena recordá-lo para lembrar o potencial do empreendedorismo português, mas também porque a esmagadora maioria do investimento feito nessas empresas foi estrangeiro e o valor daí gerado, consequentemente, foi também para fora de Portugal.
“Foi uma geração de startups perdidas pelos investidores portugueses porque a maioria do capital investido nos unicórnios, mais de 90% seguramente, foi estrangeiro e isso fez com que o valor acrescentado gerado fosse também para investidores estrangeiros e não portugueses”, sublinhou Miguel Santo Amaro.
Os unicórnios são só uma espécie de símbolo de uma realidade que se estendeu ao ecossistema durante vários anos, pela aversão ao risco que tem prevalecido entre os investidores portugueses. Mas, como também frisou o empreendedor que co-fundou a Coverflex, a StudentFinace ou a Uniplaces, são uma boa referência para fazer diferente no futuro, pelo sucesso que alcançaram e pela capacidade de gerar valor que demonstraram. Esta mudança, que já começou a acontecer - hoje há muitas mais capitais de risco em Portugal que há uma década e alguns grandes grupos já investem neste tipo de ativos - pode fazer a diferença na capacidade de fixar projetos inovadores no país na próxima década, defendeu-se.
Mas há outras mudanças consideradas importantes para dinamizar mais o ecossistema empreendedor em Portugal, a nível fiscal, por exemplo. É importante alterar o regime fiscal para as stock options (previsto no orçamento de Estado para o próximo ano). “É injusto para os trabalhadores que arriscam ir trabalhar para uma startup, em vez de irem trabalhar para uma empresa mais madura, serem prejudicados em termos fiscais por causa dessa opção”, sublinhou ainda Miguel Santo Amaro, que é também managing partner da capital de risco Shilling, já à margem do debate, em declarações ao SAPO TeK. Outro incentivo ao investimento local em startups, sugere, poderia ser a adoção em Portugal de um sistema idêntico ao que existe no Reino Unido, de incentivos fiscais para quem faz este tipo de investimentos, seja empreendedor ou cidadão comum.
Portugal precisa igualmente de “produzir” mais talento na área da engenharia, para continuar a ter capacidade para atrair mais projetos e suportar o crescimento dos que existem. A requalificação pode ser um dos caminhos a explorar, de forma mais efetiva, mas antecipa-se que cada vez mais as startups tecnológicas precisarão de recursos também noutras áreas, aumentando o seu impacto no mercado de emprego.
Veja os melhores momentos do Web Summit deste ano
“Os engenheiros foram os heróis da última década”, brincou Humberto Ayres Pereira. Chegou a hora de investir noutras competências que hoje também são cruciais para resolver os problemas que o software desenvolvido pelos engenheiros endereça. Para o CEO da Rows.com há igualmente margem para melhorar o potencial do ecossistema português de empreendedorismo, fomentando a colaboração entre os vários atores desta comunidade, e promovendo mais as soluções desenvolvidas em Portugal.
No mesmo debate esteve Teresa Fiuza, vice-presidente da Portugal Ventures, a explicar que o capital de risco público tem servido para tentar colmatar falhas de mercado. Fê-lo na área do financiamento pre-seed, que durante muito tempo foi escasso mas, como admitiu a responsável, isso não resolveu todo os problemas porque persistem falhas de mercado noutras áreas. Isso verifica-se tanto no financiamento para as fases de maior crescimento das startups, como no alcance geográfico das ferramentas disponíveis, de forma a chegarem a quem está fora das maiores cidades.
O SAPO TEK mudou a redação para o Web Summit e está a acompanhar tudo o que se passa na conferência e nos eventos paralelos que sempre decorrem em Lisboa. A agenda é longa e há muito para descobrir dentro e fora dos palcos.
Pode acompanhar tudo no nosso especial do Web Summit 2023 e também ver a transmissão em direto do palco principal com o SAPO.
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