A DJI, a maior e mais popular fabricante de drones comerciais, está na mira de novas restrições dos Estados Unidos, com a revelação de um conjunto de documentos que sugerem proximidade entre a empresa e a máquina do Partido Comunista chinês.
De acordo com a informação revelada pelo The Washington Post, entre os investidores da empresa estão vários fundos ligados ao Estado chinês, alguns geridos diretamente pelo governo daquele país. As suspeitas já tinham sido levantadas em investigações anteriores e desmentidas pela empresa, que também garantiu não haver intervenção direta de nenhum dos acionistas na gestão da empresa.
"A DJI é uma companhia privada. A empresa é gerida exclusivamente pela equipa fundadora e maioritariamente detida por esta. Outros acionistas, para além dos fundadores, não participam na gestão e funcionamento da empresa", reiterou Adam Lisberg, porta-voz do DJI.
O acionista mais polémico será o China Chengtong Holdings Group, gerido pela Comissão de Supervisão e Administração de Ativos, um organismo do Conselho de Estado chinês, que gere as participações públicas em empresas. Há outros quatro fundos ligados ao Estado chinês que alegadamente também têm participações no capital da empresa sediada em Hong Kong. No entanto, o primeiro seja visto como o “aliado” mais preocupante e a prova mais direta que a DJI não foi objetiva quando tomou uma posição pública sobre o assunto, destacam os dados reunidos pela IPVM, consultora na área da videovigilância.
Brendan Carr, da Federal Communications Commission, que licencia as empresas autorizadas a vender equipamentos aos Estados Unidos na área das comunicações e que autorizou a tecnologia da DJI em redes norte-americanas, já admitiu numa entrevista que as conclusões são muito preocupantes.
O responsável também adiantou que já propôs a inclusão da DJI na lista de empresas que não podem ter acesso a subsídios do Estado para atualização das infraestruturas de telecomunicações do país. Neste momento a empresa nem sequer é ilegível para estes apoios, vocacionados para empresas de telecomunicações, mas a FCC está a alterar os critérios e o responsável quer garantir que não poderá passar a ter. Nesta lista estão também já outras empresas chinesas - Huawei e ZTE.
Os drones da DJI têm uma quota de 77% no mercado norte-americano de lazer e há anos que forneceram as forças policiais dos EUA. Dados de um estudo do Bard College, citado pelo Wall Street Journal, mostram que 90% dos drones registados por agências de segurança pública e serviços de emergência, nos Estados Unidos, são fabricados pela DJI.
Na defesa os contratos com a DJI estão limitados desde 2017, por causa de uma decisão do Departamento de Defesa que baniu a compra de equipamentos da marca, uma decisão que o organismo ainda recentemente confirmou que se mantém em vigor.
Recorde-se também que no ano passado a DJI já tinha sido adicionada a uma das várias listas de bloqueio dos Estados Unidos a empresas estrangeiras, quando passou a figurar na lista de empresas onde grupos norte-americanos não podem investir. Na altura, o Departamento do Tesouro, que gere esta lista, explicava que a DJI lá foi colocada por vender equipamentos às autoridades de Xinjiang, que os usam para violações dos direitos humanos e controlo de minorias étnicas no país (Uyghurs). A medida tem suporte numa decisão de Trump, confirmada por Joe Biden. Em 2020, a DJI também já tinha sido adicionada à lista de entidades com restrições na aquisição de componentes fabricados nos Estados Unidos, pelo Departamento do Comércio.
Nos últimos anos os Estados Unidos têm apertado o cerco a empresas com ligações ao governo chinês, com medidas cada vez mais duras sempre que há suspeitas de alegadas ameaças à segurança nacional. A Unicom foi a última das empresas chinesas a ser expulsa do país.
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