No rescaldo do anúncio da intenção de compra da Activision Blizzard pela Microsoft, a indústria dos videojogos “sacudiu”, com subidas e descidas de valorização de várias editoras. Mas foi a Sony que levou o maior trambolhão, com uma descida de 13% na bolsa de valores de Tóquio na última quarta-feira, ou seja, 20 mil milhões de dólares. A fabricante japonesa reagiu à notícia dizendo que esperava que a Microsoft cumprisse os acordos contratuais e mantivesse os jogos da Activision em multiplataformas.
A resposta não se fez esperar, e foi o próprio Phil Spencer, o presidente da Xbox, que fez descansar os executivos da rival, mas também a legião de fãs que jogam na PlayStation. Na sua conta do Twitter disse que tinha tido boas conversas com os líderes da Sony durante a semana. “Confirmo a nossa intenção de honrar todos os compromissos quando comprarmos a Activision Blizzard e o nosso desejo é manter Call of Duty na PlayStation”. O executivo concluiu a mensagem dizendo que a Sony era uma parte importante da indústria e que valorizava a sua relação.
Numa entrevista concedida ao The Washington Post, Phil Spencer abriu um pouco mais o jogo sobre os planos futuros da aquisição da Activision Blizzard. Os jogos parecem mesmo ser o centro da estratégia da aquisição, e não apenas pelos grandes sucessos da atualidade, como a série Call of Duty, World of Warcraft, Diablo ou Candy Crush para os smartphones. A Activision tem uma grande lista de séries importantes, muitas delas em estado de “hibernação” que a Microsoft quer recuperar.
“Estava a olhar para a lista de jogos, e disse, vamos lá”, apontando séries como King’s Quest, uma aventura point & click que herdou da Sierra. Mas também Guitar Hero, o principal jogo que impulsionou a indústria dos periféricos musicais. E ainda puxou por HeXen, um antigo FPS em torno da magia, dos tempos do DOS. Títulos como Tony Hawk, jogo de skates com o mais popular atleta da modalidade de sempre, ou mesmo as licenças que foram “roubadas” à Sony, como Crash Bandicoot e Spyro the Dragon, são apenas algumas das joias que a Activision guarda nos seus cofres, que Phil Spencer quer abrir.
Algo que também pode ser do agrado dos fãs dos jogos da Activision, considerando o discurso do executivo, é a restruturação que os estúdios internos podem sofrer. A gigante do gaming tinha praticamente uma dezena de estúdios a trabalhar em Call of Duty, para garantir que a série tivesse lançamentos anuais, algo que acontece desde 2005, ou seja, 16 títulos lançados. Esse compromisso anual poderá estar em causa na estratégia da Microsoft. “Esperamos que possamos trabalhar com eles quando o negócio for fechado, para garantir que temos os recursos para trabalhar nos franchises que adoro da minha juventude e que as equipas realmente queiram fazer”. Phil Spencer acredita que adicionando recursos e aumentando a capacidade, os clássicos vão regressar.
Veja na galeria imagens do mais recente Call of Duty: Vanguard:
De recordar que quando a Microsoft e a Activision fecharem o negócio, serão herdados os estúdios Infinity Ward, Treyarch e Sledgehammer como os três estúdios principais na rotação trianual na produção de Call of Duty, ajudados pela Raven Software, Toys for Bob, Beenox, Demonware, High Moon Studios, Radical Entertainment e Solid State. Todos eles têm contribuído para a série Call of Duty.
Outras palavras curiosas de Phil Spencer dizem respeito aos seus rivais diretos, no caso da Xbox, a PlayStation e Nintendo, quando perguntado se estas iriam reagir. O executivo salienta que estas têm uma longa história ligada aos videojogos e nem a Nintendo ou a Sony, mas também a Valve, não vão fazer nada que prejudique a indústria de gaming. Para o patrão da Xbox, a aquisição é vista pela Microsoft como um pilar importante, mas sim para competir com a sua verdadeira concorrência: a Google que tem o Search e o Chrome; a Amazon que tem o e-commerce; o Meta que tem as redes sociais.
“A discussão que tivemos internamente, em que estas coisas eram importantes para as outras empresas tecnológicas pelo número de consumidores que conseguiam alcançar, o gaming pode ser isso para nós”, remata Phil Spencer.
O gaming também será vital para a Microsoft explorar o seu metaverso. Phil Spencer tem defendido internamente que muitas ferramentas e funcionalidades dos jogos podem ser direcionados a cenários empresariais, sobretudo cenários de workplace. “Estive numa reunião com a equipa do The Elder Scrolls Online e esta realizou-se dentro do jogo. É muito semelhante a uma chamada de Zoom”, disse na entrevista. Jogos com fortes componentes sociais, como World of Warcraft, podem servir como uma base e futuras ferramentas de metaverso direcionadas a um ambiente empresarial.
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