
Não há papel para organizar a entrada de doentes. Não há papel na triagem, na receção da urgência, na requisição de exames ou nos relatórios que acompanham os testes de diagnóstico que os médicos do hospital universitário de Hamburgo têm de fazer aos pacientes que passam pelo complexo, essa é a regra. Ainda com exceções, mas poucas e com data para desaparecer.
Este hospital recebeu no final do ano passado o nível máximo de uma distinção atribuída pelo HIMSS Analytics Europe, um programa baseado no HIMSS americano mas que foi adaptado nas características à realidade europeia. Funciona desde 2005 e é uma referência na avaliação dos progressos e benefícios do processo eletrónico do paciente. O hospital alcançou o nível 7 do EMRAM – Electronic Medical Record Adoption Model no final do ano, depois de em fevereiro ter atingido o nível 6. Passou a ser uma das 15 unidades em todo o mundo com esta atribuição.
O reconhecimento assinala a elevada maturidade na adoção do processo clínico eletrónico, uma tarefa que foi iniciada em 2007 com a entrada em funcionamento das novas instalações do hospital, numa reestruturação à estrutura original de 1889 que absorveu um investimento total de 340 milhões de euros, 9 dos quais investidos nas TI (contabilizando investimento direto - 9M€ - e indireto).
Num primeiro momento o hospital assegurou a transição do esqueleto do sistema de informação para uma nova plataforma e, progressivamente, foi integrando áreas especificas, a ponto de hoje poucos processos escaparem à integração. Pelo caminho a utilização de papel ficou reduzida a áreas pontuais. Por exemplo, os resultados dos ECGs (eletrocardiograma) continuam a ser impressos porque o sistema não está totalmente integrado, mas o papel impresso só serve para digitalizar e dessa forma entrar no sistema de informação central.
Pelo caminho o hospital passou a produzir diariamente 40 a 50GB de informação e poupa anualmente 2,5 milhões de folhas de papel. Os ganhos também se registam no tempo consumido pelos funcionários a consultar arquivos para ir procurar exames realizados nas unidades do hospital em consultas anteriores, já que toda a informação passou a estar online. E a própria gestão das camas do hospital passou a ser mais efetiva, reconhece o CEO da unidade, já que os profissionais passaram a ter a noção, de forma centralizada, do que se passa na unidade.
Para os pacientes o benefício mais óbvio está na rapidez do atendimento. Seja porque o médico tem acesso mais rápido à sua história clínica, seja porque a tecnologia facilita a perceção dos tempos de espera a que está sujeito cada doente até ser atendido.
Na demonstração em ambiente real,a que o TeK teve oportunidade de assistir, quando o doente passa pela triagem é atribuído um grau de urgência ao seu caso e estimado pelo sistema um período de tempo durante o qual este deve ser atendido. Esgotado esse tempo, na informação disponibilizada aos médicos no ecrã que resume os dados do doente, os dados relativos ao tempo de permanência na unidade ficam em alerta vermelho, permitindo uma gestão de tempos de espera mais equilibrada.
Integrado com o sistema de informação central, o hospital de Hamburgo tira também partido de subsistemas que continuam a existir para dar resposta a necessidades em áreas específicas. É o caso do laboratório principal do hospital, onde são realizadas a maior parte dos 7 milhões de análises feitas pela estrutura todos os anos.
Uma cadeia de automação faz correr as amostras, encaminha-as para o sítio certo e produz os resultados, que em última análise são validados primeiro pelos técnicos e depois pelos médicos, mas como prazos drasticamente menores que os habituais antes da automação do processo, explicou um dos diretores da unidade. A plataforma integra com o sistema de informação central que sabe quando as análises são pedidas, quando começam a ser processadas e quando surgem resultados.
A plataforma em questão chama-se Soarian e foi desenvolvida pela Siemens. Está implementada em 115 hospitais e clínicas em todo o mundo, das quais trinta cinco estão na Europa, cinco em Portugal. O Hospital da Luz foi a primeira grande referência do Soarian no mercado português.
Desde que se estreou, em 2006, a unidade do grupo Espírito Santo tem estendido as áreas de abrangência da plataforma, que hoje está implementada nos workflows de notificação de resultados da anatomia patológica; ativação automática de requisições e prescrições na triagem; e no workflow e controlo de infeção, que permite ativar de forma automática uma conjunto de protocolos, a partir da informação obtida quando o doente é admitido. Em breve a presença do sistema de informação estende-se à prevenção de ulceras de pressão e prevenção de quedas, implementações que visam ajudar a otimizar as ações das equipas de enfermagem, explica a ESS.
Usam também o Soarian em Portugal – não necessariamente nas mesmas vertentes e para cobrir as mesmas áreas - a clínica Parque dos Poetas em Oeiras, o hospital Fernando da Fonseca na Amadora, várias clínicas do grupo Joaquim Chaves e mais recentemente o hospital de Loures, inaugurado na passada semana.
Em Hamburgo usaram a mesma plataforma durante o ano passado 50 mil médicos e milhares de outros profissionais de saúde nas diversas clínicas que compõem o hospital, que anualmente dá resposta às visitas dos mais de 250 mil pacientes e trata em internamento mais de 50 mil.
As consultas ao sistema ao longo de todo o ano fixaram-se nos 2,6 milhões e o número de reclamações do pessoal hospitalar tende para zero, depois de um processo de migração que foi longo e que implicou muito investimento, formação e mão pesada da administração para os departamentos que não cumpriam os objetivos de “abandono” do papel, garantiu numa apresentação à imprensa Peter Gocke, CIO do hospital.
Escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
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