A Nvidia está há 30 anos no mercado. Especializou-se no desenvolvimento e fabrico de GPU - Unidades de Processamento Gráfico, hoje essenciais em computadores, consolas de jogos, ou smartphones. É um dos grandes players do mercado nesta área, mas não foi esta área que lhe abriu as portas de um novo mundo, nem a oportunidade de em breve se converter na primeira fabricante de semicondutores a chegar ao exclusivo “Trillion dollar Club”.

A oferta atual da Nvidia também serve o promissor mercado das aplicações de inteligência artificial e é graças a isso que a questão já não é se, mas quando, atingirá a empresa uma valorização da ordem do bilião de dólares. Não sendo nova a previsão, é surpreendente que no final da semana passada quase se tenha concretizado, literalmente, da noite para o dia.

A projeção de resultados apresentada pela empresa, na quarta-feira à noite, precipitou a valorização das ações no mercado de capitais. A Nvidia valia 755 mil milhões de dólares quando as “luzes” de Wall Street se apagaram na quarta-feira e amanheceu a valer 950 mil milhões de dólares na quinta-feira, depois de o preço das ações ter subido 26%.

O valor nominal de cada ação atingiu os 389 dólares e continua a subir. Para a trajetória da companhia desde o início do ano, é uma evolução até previsível, se bem que mais rápida que o previsto, mas recuando mais um pouco, não era tão fácil de adivinhar.

Uma análise da CNBC mostra, por exemplo, que em janeiro de 2000 as ações da mesma companhia valiam menos de 2 dólares. Vinte anos depois, em janeiro de 2020, valiam 65 dólares. Já desde o início deste ano, a ascensão tem sido avassaladora e a culpa é da inteligência artificial.

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O ímpeto que o ChatGPT e tudo o que veio depois dele trouxe às aplicações de inteligência artificial, abriu como que um novo mundo de oportunidades para a Nvidia. O poder de computação de tecnologias como as da Nvidia, que tem maximizado a aposta em ferramentas nesta área, é essencial para treinar modelos de IA generativa, como o da OpenAI, e suportar sistemas capazes de interagir com IA.

Além de ter o tipo de produto certo para este mercado em ascensão, a Nvidia neste momento praticamente não tem concorrência nesse domínio, pelo que a grande maioria dos investimentos em IA, em alguma medida, vão passar pela empresa.

A própria companhia não tem dúvidas que assim seja e como tal, na projeção de resultados apresentada ao mercado na semana passada, antecipou vendas para o próximo trimestre de 11 mil milhões de dólares, 50% acima das previsões dos analistas, o que fez disparar o preço das ações.

"Nos mais de 15 anos em que fazemos este trabalho, nunca vimos um guguidance como o que a Nvidia acabou de apresentar para o segundo trimestre", admitou um analista da Bernstein em declarações à Reuters.

Jensen Huang, CEO da empresa, estimou ainda, na mesma conferência com analistas, que as alterações necessárias para equipar os data centers com tecnologia que permita tirar partido de IA generativa em aplicações e produtos do dia-a-dia vão gerar receitas de 1 bilião de dólares.

A Nvidia é consensualmente a única empresa posicionada para tirar partido desta revolução em escala, pelo menos até que outras marcas sejam bem-sucedidas na criação de tecnologias de processamento igualmente eficientes, em contextos exigentes como os ambientes de IA.

A companhia diz que já está a receber um volume "incrível” de encomendas para reequipar data centers a nível mundial, como cita o New York Times, e também confirmou que a partir da segunda metade do ano conseguirá aumentar a capacidade de responder a encomendas.

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Integrar o clube das empresas que valem mais de um bilião de dólares (um trilião, na notação americana), é um feito raro. Só estão nesse patamar atualmente a Apple, que depois de conseguir passar a fasquia em 2018 já conseguiu chegar a uma valorização superior a 3 biliões, mas atualmente vale menos, a Microsoft, a Alphabet (dona da Google) e a Amazon. As quatro empresas americanas estão no top cinco das empresas globais mais valiosas. Já passaram pelo mesmo clube a Meta (dona do Facebook) que hoje vale “apenas” 671,5 mil milhões de dólares, ou a Tesla, agora avaliada em 605 mil milhões.

Nenhuma delas, no entanto, conseguiu dar um salto tão rápido como o da Nvidia, que na verdade registou um dos maiores pulos de sempre na história de Wall Street, depois de começar o ano a valer 184 mil milhões de dólares. Por comparação, diga-se que a gigante mundial dos processadores TSMC (Taiwan), que abanou o mundo quando as falhas na cadeia de valor e a Covid-19 a impediram de produzir chips ao ritmo normal, vale neste momento cerca de metade deste valor.

Recorde-se que em antecipação à Computex 2023 a Nvidia partilhou uma demonstração do seu sistema ACE, que usa ferramentas de IA generativa para dar voz a personagens não controláveis nos videojogos, como pode ver na galeria que se segue.