A Ericsson está a assinalar em 2023 os 70 anos de presença em Portugal. “É uma história de sucesso”, afirma Juan Olivera, lembrando que “não temos muitos países assim, Somos líderes e trabalhamos com todos os operadores”. O executivo assumiu a liderança da empresa em Portugal em novembro de 2022 e tem uma perspetiva clara sobre o mercado e os desafios existentes, com uma abordagem positiva e optimista onde cabe a visão de querer ajudar a colocar o país na linha da frente da tecnologia.

Em entrevista ao SAPO TEK, o CEO da Ericsson Portugal falou sobre os desafios que existem, o desenvolvimento do 5G, a entrada de um novo operador e o impacto na operação dos existentes, mas também da possibilidade de consolidação na Europa, o papel da regulação e os OTT. O conhecimento que tem do mercado ibérico, onde está há mais de uma década na Ericsson Ibéria, consolidam uma perspetiva da evolução da tecnologia e do mercado português que partilhou numa longa conversa que abarcou vários tópicos.

O tema do atraso do 5G, com a demora do longo processo do leilão e o facto de os operadores estarem a protelar a cobrança dos serviços, foi um dos pontos centrais da entrevista. Juan Olivera acredita que Portugal tem tempo para ter sucesso no 5G e que as operadoras estão a fazer um bom trabalho na instalação das redes. 

“As operadoras em Portugal estão a mover-se na direção certa”, explica, adiantando que em termos de cobertura a instalação está a avançar nas várias zonas do país e que agora é importante começar a disponibilizar serviços de mid band, que permite cobrir zonas mais alargadas com maior velocidade. É um investimento que tem de ser feito para reforçar as áreas rurais e Juan Olivera defende que deve partir de parcerias público privadas para avançar massivamente, mesmo em áreas com menor densidade populacional.

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A oportunidade de transformação que o 5G traz, não só da velocidade mas também da baixa latência que abre caminho a novas aplicações de automação e industrialização, assim como o menor consumo de energia, trazem oportunidades de negócio para as operadoras e para toda a economia. A perspetiva do executivo da Ericsson Portugal é que há tempo para que Portugal consiga ter sucesso no 5G. Desta vez o país não está na linha da frente, como aconteceu no 3G e no 4G, mas ainda pode recuperar. “Esta geração de tecnologia móvel vai durar pelo menos 8 anos”, recorda Juan Olivera, admitindo porém que é preciso mobilização e acelerar processos de adoção do 5G, sobretudo nas empresas.

Já existem uma série de casos de utilização, alguns dos quais com a Ericsson, como a da Aveiport e PTM Ibérica, e demonstrações do potencial da tecnologia do 5G nas escolas e em transmissões de eventos ao vivo, assim como na conetividade de entidades de segurança pública, com uma simulação realizada em Aveiro. “É uma mudança importante para as empresas que vão ter mais oportunidades de automatização”, afirma, admitindo que é preciso criar um ecossistema de soluções e que isso é um processo que demora tempo.

A principal barreira é a necessidade de investimento, numa altura em que os operadores são confrontados com dificuldades de rentabilizar as operações. “É importante remover também outras barreiras, como a taxação excessiva e a falta de investimento público”, sublinha, defendendo que em muitos casos é importante desenvolver parcerias público privadas para garantir cobertura de algumas zonas.

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A evolução da tecnologia de 5G, da versão base que está a ser disponibilizada atualmente para a mid band e depois modelo stand alone, traz também mais oportunidades. “A criação de casos de uso vai gerar a necessidade de mais desenvolvimento”, afirma. Neste caso Portugal está a um ritmo semelhante ao da Europa, onde há ainda poucas implementações de mid band e de 5G stand alone mas Juan Olivera acredita que isso vai mudar já a partir do primeiro trimestre de 2024.

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Em relação à visão do mercado português, a entrada de um novo operador no 5G, que tem preocupado as operadoras de telecomunicações instaladas, não é vista de forma negativa pelo CEO da Ericsson. Embora admita que vai afetar o mercado, lembra que pode ser positivo se trouxer novas propostas de valor e casos de utilização, avisando que é preciso que não destrua valor. “Há lugar para quatro players? Em alguns países vemos que 4 operadores é demasiado”, afirma.

A consolidação europeia do mercado de operadores de telecomunicações é vista como uma possibilidade, mas difícil face à regulação e legislação. Para um mercado mais competitivo a Europa deve também olhar para os Over the Top (OTT) e garantir que as redes não perdem valor, como aconteceu no 4G. “Com a aproximação certa o sector pode sair mais forte”, justifica, apontando como bom exemplo a parceria Open Gateway que foi anunciada no Mobile World Congress 2023 e que a Ericsson lidera.

Na sequência dos despedimentos anunciados no início do ano pela empresa a nível global, Juan Olivera não quis fazer comentários sobre o impacto em Portugal, recordando porém que a empresa é parte do grupo e que vão ser encontradas soluções para atingir mais eficiência, mas elogiou o talento dos recursos portugueses que são sempre muito bem referenciados nos projetos europeus.