A compra de uma participação de quase 10% do Twitter e o lançamento de uma oferta para adquirir o controlo da empresa por Elon Musk têm animado as últimas semanas. O caso tornou-se ainda mais propício a transformar-se numa “novela”, com desenvolvimentos garantidos nos últimos meses, quando se percebeu que o bilionário e a administração da rede social estão de costas voltadas.
Musk admitiu publicamente que a administração da empresa não está no caminho certo para fazer da rede social preferida do magnata “A” plataforma da liberdade de expressão. Explicou aliás com isso o lançamento da oferta hostil e a necessidade de transformar o Twitter numa empresa privada, depois de aceitar e mais tarde recusar um convite para passar a integrar o conselho de administração da empresa.
A administração do Twitter, pressionada por alguns dos outros acionistas, posicionou-se para bloquear operações que tenham em vista a tomada de controlo da empresa, passando por cima da administração e aprovou por unanimidade uma estratégia conhecida por “comprimido de veneno”, para garantir que isso não acontece.
A questão que já se coloca é: o que se segue? Musk admitiu duas coisas que podem ser importantes para o curso da história na última semana: que não gosta de perder - os menos atentos podiam ainda ter dúvidas - e que há um plano B, como referiu numa conferência TED. Não deu detalhes sobre este alegado plano B.
A CNN falou com vários analistas, que antecipam alguns caminhos quase todos a convergir na mesma direção: o fundador da Tesla, da SpaceX e de uns quantos outros negócios vai prosseguir com a intenção de controlar o Twitter.
Nova oferta pode estar a caminho
Há quem acredite que a estratégia possa passar por lançar uma OPA, uma oferta direta aos acionistas. A primeira, e até agora única, oferta lançada pelo bilionário foi já apresentada à administração da empresa e prevê o pagamento de 54,20 dólares por ação, o que perfaz um total de 43 mil milhões de dólares e representa uma valorização de 54%, face ao preço das ações antes de Musk ter investido no Twitter.
Mas insistir na compra de ações, em desacordo com a administração do Twitter, não será nem uma opção barata, nem fácil de financiar, depois que entrou em cena a estratégia de defesa contra compras hostis. A não ser que Musk espere até abril de 2023, altura em que termina a vigência da medida ou, como refere Ele Klein à CNN, a OPA tenha associada condições, como o fim da estratégia de Poison Pill da administração, refere a responsável de fusões e aquisições da empresa de advogados Schulte, Roth & Zabel.
Essa seria uma forma de testar o mercado sem ir contra a estratégia da administração. Se reunisse um volume significativo de ações prontas a serem vendidas podia argumentar que o negócio só não acontecia porque a administração não o permite, ao contrário da vontade dos acionistas.
A estratégia aprovada por unanimidade no conselho de administração do Twitter prevê que, se um acionista conseguir mais de 15% do capital da empresa, os restantes ganham o direito de comprar novas ações com desconto. Esta condição dificultará a vida a quem quiser comprar ações até controlar a empresa, já que terá de comprar mais e gastar mais.
A bem ou a mal?
Outra opção apontada por analistas é uma abordagem mais amigável de Musk, perante a administração da empresa. Aqui o empreendedor usaria outro tipo de argumentos para conseguir convencer a gestão da rede social. Por exemplo, mostrando como pretende financiar a operação, juntando-se aos parceiros que podem vir a fazê-lo e apresentando uma visão para o futuro da empresa, alinhada com a destes fundos financeiros.
Uma terceira via, acredita-se, pode passar por levar o caso para os tribunais, se Musk quiser alegar que a administração do Twitter está a trabalhar contra o interesse dos investidores e a impedi-los de alcançar todas as mais-valias que o seu investimento em ações da rede social lhes poderia dar.
Os próximos capítulos vão ditar o rumo da história, que na verdade já ganhou novos intervenientes. Resta saber se vieram para ficar. Soube-se no final da semana que o Twitter recebeu mais uma proposta de aquisição, desta vez da Thoma Bravo, uma capital de risco, e que a Vanguard, também da área financeira, reforçou a participação na empresa e já tem mais ações que Musk.
Enquanto isso, a administração na rede social, mantém abertas vias para negociar. Como explica o documento entregue no regulador dos mercados de capitais dos EUA, a entrada em vigor do plano de proteção de acionistas não significa que a gestão não possa negociar propostas de compra - esta ou outras. Esta é apenas uma proteção para compras hostis que supostamente não defendam os direitos dos acionistas.
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