Este ano devem ser vendidos em todo o mundo 10,6 milhões de carros elétricos, de acordo com as estimativas da BloombergNEF, que a meio de 2022 contabilizava vendas recorde no segmento de 7,1 milhões de veículos, mesmo num ano em que as falhas na cadeia de abastecimento ainda faziam “estragos”.

A Europa é uma das regiões do globo onde a adesão aos elétricos mais tem crescido, com destaque para o mercado alemão e o mercado britânico, onde a preponderância destes veículos mais cresceu nas vendas da primeira metade do ano (26% e 24%, respetivamente). Na Alemanha, e como frisa a Wired que detalha os números, estes valores não são alheios à política pública de incentivo à compra de veículos, que desde 2020 comparticipa em até 9.000 euros a compra de um elétrico no país. Em Portugal, este ano, o incentivo para particulares era de 4.000 euros, até terem sido apoiados 1.300 veículos.

Logo a seguir à Alemanha e Reino Unido, no ranking dos países onde as vendas de elétricos mais cresceram, surge a China, onde a quota de veículos elétricos, híbridos plug-in ou com células de combustível cresceu 23% nos primeiros seis meses do ano. Os condutores norte-americanos parecem menos entusiasmados com a transição e só 7% dos carros vendidos no país no primeiro semestre foram veiculos sem emissões.

A nível global 13% dos carros vendidos até final de junho estavam dentro deste perfil alternativo ao dos motores de combustão (BloombergNEF). Outros dados citados pela Reuters mostram agora também que, no total do ano e até à data, as vendas de elétricos na China representaram já 21% do total e na Europa 12%.

No entanto, as várias análises publicadas nos últimos dias sobre o significado real desta evolução refletem mais dúvidas do que certezas, sobre o que vai acontecer em 2023. A maior parte dos analistas continua a ter dificuldade em perceber se a quota de vendas atingida pelos elétricos este ano, significa que o mercado já chegou a um ponto de viragem e que o segmento tem condições para começar a massificar-se já em 2023.

O leque cada vez maior de veículos elétricos para diferentes segmentos e preços, que as marcas têm vindo a lançar e que em 2023 continuará a diversificar-se, pode ajudar a que assim seja. Em 2019, existiam 11 modelos de carros elétricos com vendas acima de mil unidades, segundo dados da consultora Kelley Blue Book, divulgados pela CNN EUA. Este ano 26 modelos conseguiram ultrapassar essa marca.

Do lado dos fabricantes, a disponibilidade para investir também parece ser total. Dados compilados pela Reuters indicam que até final da década os fabricantes do sector automóvel vão investir 1,2 biliões de dólares na produção de 54 milhões de veículos elétricos. Números da AutoForecast Solutions antecipam mesmo que em 2029 cerca de 26% dos carros produzidos em todo o mundo já vão ser elétricos.

Paralelamente a este investimento tem aumentado o investimento em infraestruturas de carregamento para veículos elétricos, que vão ter de continuar a acompanhar o crescimento previsível deste mercado. A grande questão é se conseguem.

As metas de neutralidade carbónica, que cidades um pouco por todo o mundo já definiram, tendem a pressionar a adoção de elétricos, mas a questão das estações de carregamento é já hoje vista como um limitador ao crescimento do mercado. Muitos defendem que pode tornar-se um limitador ainda maior, à medida que o número de carros elétricos for aumentando. Os custos associados às baterias elétricas, o impacto ambiental dessa produção e a escassez dos materiais usados para as fabricar, também ajudam a complicar a equação e são aspetos apontados por muitos dos que não arriscam previsões para 2013.

Ainda assim, há quem as faça. A Morgan Stanley diz que este ano as vendas de elétricos já representam um crescimento de 70% face a 2021, que se traduz em mais 2 milhões de carros vendidos. Em 2023, o crescimento deverá ser de 22%, com cerca de mais 1,8 milhões de unidades vendidas. A maioria dos analistas, ainda que os números tenham as suas diferenças, segue a tendência e prevê um abrandamento no crescimento das vendas de VE em 2023, mesmo com a produção a aumentar.