O concurso internacional para a rede SIRESP terminou no final de 2022 e em março o processo teve o aval do Tribunal de Contas, com a aprovação de todos os contratos. O procedimento tinha sete lotes, num valor total de 75 milhões de euros para cinco anos, tendo ficado concluído por 64 milhões de euros, uma poupança de 11 milhões de euros.
A Motorola foi uma das empresas que ganharam o concurso, ficando com a manutenção da rede TETRA, mas há mais empresas envolvidas, como a Altice Labs, a NOS, vencedora em dois lotes para operar os serviços de transmissão por circuitos terrestres e de redundância de transmissão via satélite; a Moreme, que vai fornecer energia através de geradores a estações base do SIRESP; a Omtel, que será responsável pela manutenção das infraestruturas básicas de suporte do sistema; e a No Limits, a quem caberá a manutenção e evolução dos sistemas de informação da rede.
Em entrevista ao SAPO TEK, Ricardo Gonzalez, Head of Strategy, International Markets Core Strategy da Motorola Solutions, explica que o objetivo é fazer a manutenção e evolução da rede de rádio, uma aposta que também está a ser feita na maior parte dos países europeus para as comunicações críticas. Mas numa altura em que já se fala da evolução para soluções de banda larga será esta a opção certa?
“Esta é uma tendência comum, na maior parte dos países europeus há um fornecedor para as comunicações críticas a nível nacional e a solução tem sido estendida em todos os países […] O que Portugal fez está em linha com o que vemos na maioria dos países”, adianta Ricardo Gonzalez.
A evolução que existe na indústria, de rádio para banda larga, ainda vai obrigar a uma coexistência das duas tecnologias durante muito tempo, um dos tópicos de discussão no CCW23, que decorre em Helsínquia e que o SAPO TEK acompanhou.
“Temos uma comunidade de utilizadores que está habituada a uma estabilidade da tecnologia, as pessoas até lhe chamam muitas vezes a ‘linha da vida’ porque sabem que quando alguma coisa acontece podem confiar na tecnologia”, explica Ricardo Gonzalez.
A Motorola está a continuar a desenvolver a tecnologia TETRA, e o responsável de estratégia diz que não está parada no tempo. “Todos os anos há novas releases, funcionalidades, adicionadas à tecnologia”, justifica, afirmando que há muitas possibilidades na tecnologia, mas sublinhando que os utilizadores querem ter opções simples, que adicionem valor às suas tarefas e que não complicam.
“O tópico chave da nossa indústria é como simplificamos as operações ao nível do utilizador”, defende Ricardo Gonzalez, afirmando que a tecnologia evoluiu muito com a análise de dados. “O facto das câmaras serem suficientemente inteligentes para reconhecer quando há um evento importante e dar um alerta ao centro de controle, é importante mas no fim a decisão é da pessoa”, sublinha, admitindo que a evolução passará por usar mais dados e que a rede de rádio não tem a largura de banda suficiente.
A maioria dos países já usa a rede TETRA há três décadas e a fiabilidade e cobertura são fatores cruciais nas situações de emergência. Para acompanhar a tendência para transmitir mais dados e vídeo é preciso fazer testes e criar casos de uso que se adaptem às necessidades das várias agências de segurança, e há várias soluções em desenvolvimento.
Veja as imagens das soluções apresentadas no CCW23
“Recomendamos aos nossos clientes que testem as soluções de banda larga e aprendam com os casos”, explica, dizendo que isso já acontece em muitos países, incluindo em Portugal, com soluções que a Motorola tem de integração entre a rede TETRA (LMR) e a rede LTE (rede móvel 4G), que permite a transmissão de dados e streaming de vídeo.
A utilização das redes dos operadores móveis para transmissão destes dados é uma das opções, até porque a criação de uma rede privada que faça a cobertura integral do país é um investimento caro, mas há que ter em conta a necessidade de garantir prioridade das comunicações em situações de emergência. “A maioria dos países vão optar por um modelo híbrido, usando redes de operadores e combinando com soluções próprias”, defende Ricardo Gonzalez.
O 5G pode ser uma opção, com o slicing de rede mas “tudo tem um custo […] tem de se pensar o que se quer e quanto custa”, afirma o responsável de estratégia para os mercados internacionais da Motorola Solutions. “Não há uma solução única que todos os clientes vão adotar, alguns vão querer rede híbrida, outros preferem redes privadas, e optar por um mix entre TETRA e banda larga”, justifica, admitindo que a mudança para soluções de banda larga ainda vai demorar pelo menos uma década.
As ligações por satélite são outra tecnologia a ter em conta nesta equação, mas para além da disponibilidade há ainda problemas com a latência e por isso ainda não é uma hipótese considerada de forma mais séria.
Para já Ricardo Gonzalez não vê um fim à vista para as redes de rádio LMR como o TETRA. “Estas redes têm muitas formas de funcionar, a nível nacional, com site local ou entre equipamentos (DMO) e essa flexibilidade é muito importante em situações de emergência, é “made for purpose”, é difícil não pensar em manter”, justifica, lembrando que o compromisso da Motorola Solutions é continuar a suportar e fazer evoluir o TETRA a longo prazo.
“Portugal não está sozinho, imagino que no espaço de 5 anos muitos clientes vão continuar a usar o TETRA e a testar a banda larga em algumas soluções”, sublinha.
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