A resposta a desastres naturais mais frequentes e intensos, a necessidade de estender o suporte de segurança e proteção além-fronteiras e manter a resiliência face a ciberataques são alguns dos principais desafios com que as forças de segurança se defrontam, mas também há pressões de expectativas por parte das comunidades, em especial relacionadas com a captação de imagens de vídeo. Esta é uma área em que a Motorola Solutions está a apostar e para a qual desenvolveu várias soluções, mas que também está a crescer em termos de negócio.
Na conferência Critical Communications World 2023, que este ano decorre em Helsínquia, na Finlândia, a empresa está a demonstrar vários casos de aplicação e soluções para a utilização de vídeo e tecnologias de utilização de dados para que as agências de segurança possam tomar melhores decisões, mais informadas e com utilização de vídeo, inteligência artificial e analítica. Entre os destaques estão o conceito de agente ligado, com câmaras corporais e equipamentos de comunicação que suportam LTE e TETRA, assim como um carro ligado, uma solução que está integrada com o Apple CarPlay e que tira partido do streaming de vídeo e interação por voz para gerir várias tarefas.
Há ainda uma solução para um centro de comando, o Connected Control Room, que permite a interligação com diferentes agências e redes, com diferentes equipamentos, eliminando barreiras de comunicação e com aplicações Push to Talk (PTT).
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Num encontro com a imprensa, Michel Kaae, vice presidente da Motorola Solutions, explica que todas as tecnologias foram desenhadas para ajudar os agentes no terreno. “Estamos a avançar com soluções que possam ser integradas no portfólio para ajudar os clientes a enfrentarem os desafios em situações cada vez mais complexas”, afirma, lembrando que no final o objetivo é responder de forma mais rápida e eficiente e salvar vidas.
O vice presidente, que é responsável pelos mercados da Europa, Médio Oriente, África e Ásia, afirmou que o mercado está a crescer e que a Motorola Solutions é líder em soluções de segurança, com presença em mais de 100 países, com 100 mil clientes e mais de 9,1 mil milhões de dólares de faturação, com um crescimento de 11,5% face a 2021.
Michel Kaae destacou também os anúncios mais recentes, entre os quais o contrato de 5 anos para o SIRESP em Portugal, e a expansão da rede nacional TETRA que é usada por 180 agências de segurança e mais de 40 mil utilizadores. Este é apenas um dos anúncios que a Motorola Solutions trouxe à principal conferência do sector, que este ano se realiza em Helsínquia, na Finlândia.
A empresa anunciou também um contrato com o Governo do Reino Unido para equipar os guardas prisionais com câmaras corporais (body-worn cams), enquanto a polícia de Londres reforça também a sua aposta nesta tecnologia com a adoção de câmaras VB400 em toda a força policial da cidade.
A Motorola Solutions fez várias aquisições de companhias na área de vídeo e Richie McBride veio para a empresa pela compra da Edesix Ltd, trabalhando nesta área e adicionando soluções ao portfólio da companhia. O desenvolvimento de tecnologia que permita tornar o vídeo das Body-wear cameras um elemento útil para a proteção dos agentes é um dos focos e as soluções passam pela ativação automática em alertas, coordenação de imagens entre vários agentes do mesmo grupo e integração com uma aplicação, a Pronto, onde é possível fazer o registo dos incidentes.
“Integrámos a câmara com o rádio, porque não podemos pedir aos policias que se lembrem de ativar tudo numa emergência, mas todos sabem que têm de clicar no botão de pânico”, afirma Richie McBride. As definições podem ser ajustadas por cada agência, conforme as necessidades.
Também Tunde Williams, diretor de marketing, sublinha que os processos estão a mudar. “Antigamente os polícias tinham um bloco de papel e passavam a informação para o computador na esquadra, estavam a duplicar trabalho”, sublinha. Para este executivo da Motorola Solutions “estamos quase numa tempestade perfeita, temos mobilidade, Inteligência Artificial, vídeo e tecnologia […] se fizermos as coisas mais rápido sabemos que vamos salvar mais vidas”, justifica, usando dados que mostram que podiam ser evitadas 2.500 mortes na estrada todos os anos se as equipas de resposta chegassem 40% mais rápido aos locais nas zonas urbanas e 50% nas zonas rurais.
5G pode substituir as redes de comunicações terrestres (LMR)?
Com a maior integração de dados as redes de comunicações dos serviços de segurança sofrem as mesmas pressões que as redes comerciais e das empresas, com maior exigência de largura de banda que é garantida pelas redes LMR – Land Mobile Radio, entre as quais estão o standard TETRA (TErrestrial Trunked RAdio), não conseguem garantir.
Streaming de vídeo e transferência de dados são serviços que as autoridades procuram mas que não podem ser suportados no LMR, pelo que há desenvolvimento de novas soluções sobre LTE (4G) mas que são vistos como complementares e não alternativa, já que a cobertura e a fiabilidade são inferiores e não têm canais dedicados que são necessários em comunicações de emergência.
Paul Brenner, analista da consultora OMDIA, explica que as tecnologias de comunicação LMR não são usados apenas nas agências de segurança pública e que há outras indústrias a confiar as suas comunicações a estas redes, como os transportes.
O negócio da indústria de comunicações críticas está também distribuído entre as várias valências, com o LMR a ser responsável por 5,2 mil milhões de dólares em 2026, enquanto o software de centros de comandos vale 5,1 mil milhões, os terminais LTE 1,5 mil milhões e as câmaras in-body 1,6 mil milhões. A maior fatia de valor estará nos vídeos de segurança, que daqui a três anos devem valer 23,5 mil milhões de dólares, 61% do mercado, registando um crescimento exponencial e mais do que duplicando valor desde 2016.
Para o analista, a digitalização é uma das grandes tendências da indústria de comunicações críticas, uma mudança que vem a decorrer desde o final dos anos 90 mas que tem sido relativamente lenta. Em 2016 cerca de 45% dos rádios eram digitais e em 2026 deve chegar a 82%, verificando-se diferentes ritmos nos vários mercados.
A adoção de soluções de banda larga é o próximo salto deste mercado, com mais velocidade e suporte a streaming de vídeo e partilha de dados, assim como outros casos de utilização. O crescimento nesta área é mais rápido mas as soluções de voz vão continuar a ser relevantes no mercado onde a comunicação de voz em situações de emergência tem de ser fiável.
Ildefonso De La Cruz Morales, analista principal para a área de comunicações críticas da OMDIA, explicou ao SAPO TEK que são mundos que vão evoluir em paralelo, até porque as tecnologias que permitem maior largura de banda não asseguram ainda a cobertura necessária para responder às necessidades das agências de segurança. O 5G não está ainda disponível, a criação de redes privadas é limitada e o 4G não tem uma cobertura total dos territórios.
O analista dá como exemplo a Finlândia, o país com menor densidade populacional da Europa, onde muitas zonas não têm cobertura de rede móvel. “Em caso de incidente de segurança pode montar-se uma “bolha” de comunicações de emergência, que é transportada para o local, mas isso não é sempre solução”, justifica.
A OMDIA tem acompanhado o desenvolvimento deste mercado e admite que podem existir várias soluções a evoluir de forma paralela e que podem responder a necessidades específicas, mas que é obrigatório oferecer tecnologia com maior largura de banda para suportar mais dados e vídeo.
Para Ildefonso De La Cruz Morales, não é possível abdicar das soluções LMR e dos rádios em que as forças de segurança confiam e com que estão confortáveis. “Temos de caminhar para uma mudança gradual”, defende, explicando que a interoperabilidade entre sistemas é um elemento chave para que várias tecnologias possam comunicar de forma transparente.
Os satélites podem vir a ser uma solução, sobretudo os de baixa e média altitude, mas não estão ainda a ser usados para as comunicações de emergência das forças de segurança, embora existam projetos neste sentido.
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