Os engenheiros da missão Voyager da NASA têm vindo a aplicar um conjunto de medidas para ajudar a garantir que ambas as sondas, lançadas em 1977, continuem a explorar o espaço interestelar por mais uns tantos anos, mantendo o contacto com a Terra pelo maior tempo possível.

Uma das medidas tem a ver com uma provável acumulação de detritos de combustível dentro dos tubos estreitos de alguns dos propulsores das naves. Este é um aspeto importante, uma vez que os propulsores são usados para manter a antena de cada uma das Voyager apontada para a Terra - por sua vez essencial para que a informação seja transmitida.

A equipa está também a trabalhar no envio de uma correção de software para evitar a repetição de uma falha que surgiu na Voyager 1 no ano passado, entretanto resolvida, mas que poderá ocorrer novamente na Voyager 1 ou surgir na “irmã gémea”, a Voyager 2.

"Nesta altura, a equipa de engenharia da missão está a enfrentar muitos desafios para os quais simplesmente não existe um manual", refere Linda Spilker, que integra o projeto no Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, citada em comunicado. "Mas continuam a encontrar soluções criativas", sublinha.

Um dos desafios aconteceu em finais de julho último, quando a agência norte-americana perdeu o contacto com a Voyager 2, depois da antena da nave sofrer um pequeno desvio acidental que interrompeu a transmissão de dados.

Com o que aconteceu, a nave não estava a receber os comandos da equipa da NASA nem a enviar os habituais dados registados no espaço para a Terra. Previa-se, contudo, que o problema fosse temporário - e foi.

As Voyager estão programadas para redefinir a orientação várias vezes por ano, de modo a manterem a antena apontada para a Terra.

Ambas já completaram 46 anos no espaço e recentemente a agência espacial norte-americana anunciou que vai manter os seus instrumentos científicos ativos por mais alguns, apesar dos 19,9 mil milhões de quilómetros de distância.

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O ambicioso programa espacial da NASA começou no verão de 1977, primeiro com o lançamento da Voyager 2, a 20 de agosto, e, duas semanas depois, da “gémea” Voyager 1, a 5 de setembro, aquele que é o objeto espacial criado pelo homem que mais distante ficou da Terra, atualmente a quase 24 mil milhões de quilómetros.

As duas Voyager foram enviadas com a principal missão de estudar de perto os quatro gigantes gasosos que orbitam o Sol, além do Cinturão de Asteroides: Júpiter, Saturno, Urano e Neptuno.

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Originalmente, foram construídas para durarem cerca de apenas cinco anos e para recolherem só informação sobre Júpiter e Saturno, pois seria demasiado dispendioso prepará-las para visitarem também Urano e Neptuno.

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Surpreendentemente, as duas sondas acabaram por durar (muito) mais do que o esperado e conseguiram fazer “o pleno” dos gigantes gasosos.

Embora permaneçam na vanguarda da exploração espacial, as sondas gémeas são autênticas “cápsulas do tempo” da sua época: têm cerca de três milhões de vezes menos memória do que um telemóvel atual e transmitem dados cerca de 38.000 vezes mais devagar do que uma ligação de internet 5G.

São igualmente conhecidas por carregarem, cada uma, um disco de cobre coberto de ouro de 30 centímetros de diâmetro onde está registada informação sobre a vida na Terra. Entre os dados integrados estão fotografias, sons ambiente, músicas e saudações em 55 línguas diferentes - incluindo uma em português.

Outro feito que ninguém lhes tira é serem, até agora, as únicas sondas a operarem fora da heliosfera, a bolha protetora de partículas criada pelo campo magnético do Sol onde residem os planetas, explorando o oceano galáctico do espaço interestelar.