Um estudo realizado pela AT Kearney, a pedido da Anacom, revela que a percentagem de utilizadores de televisão analógica que irão migrar para o formato Televisão Digital Terrestre de forma espontânea será bastante reduzido. Apresentado num jantar-debate sobre TDT, inserido num ciclo de encontros sobre o tema, o documento aponta para que menos de meio milhão de lares (cerca de 474 mil) migrem de forma voluntária para a TDT antes da data prevista para o fim das emissões analógicas na Europa, escreve o Público.



Segundo o jornal, os resultados não surpreendem os principais interessados na plataforma de TDT: o grupo SGC de Pereira Coutinho, que ganhou a única licença atribuída para operar a plataforma digital, entretanto devolvida ao Governo por falta de condições para lançar o serviço e desadequação do modelo económico escolhido e a Media Capital, que também concorreu à licença.



Em reacção às conclusões do estudo, Pedro Morais Leitão, administrador do grupo, defendeu o modelo gratuito considerando que essa seria uma forma de incentivar a adesão dos consumidores que só deveriam pagar as set-top-boxes (descodificadores). Para o representante da Media Capital, só numa fase posterior o serviço deveria passar a ser cobrado e complementado com outros serviços de telecomunicações, quando já estivesse num estádio mais maduro.



Por seu lado, a SGC defende um modelo misto em que os serviços complementares que podem ser fornecidos com a televisão digital - como a telefonia fixa e a Internet - funcionassem como formas de subsidiar o serviço de televisão, resultando num misto entre gratuito e pago.



O estudo da consultora aponta para que 75 por cento dos lares com televisão, que rondam os cinco milhões, sejam já clientes de serviços pagos de televisão, como o cabo ou o satélite, enquanto apenas 25 por cento do total de utilizadores são clientes exclusivos do serviço gratuito de televisão.



Face a este cenário, a AT Kearney estima que apenas 13,5 por cento dos lares com televisão migrem de forma voluntária para o serviço, até 2007, altura em que será posto termo ao serviço analógico na Europa. Os argumentos que diferenciam os actuais serviços de televisão e a TDT parecem não contribuir significativamente para a opinião dos portugueses e apenas 27 por cento da população é sensível ao facto da TDT oferecer uma melhor qualidade de imagem. Uma percentagem ainda menor, 10 por cento, valorizariam a oferta dos cinco novos canais, que se irão juntar aos actuais quatro.



A indiferença às características da oferta farão com que pelo menos metade dos utilizadores de televisão não adiram à TDT antes de serem obrigados a fazê-lo, independentemente das políticas comerciais adoptadas pelos players, considera o cenário mais optimista.



A AT Kearney vai mais longe e indica que mesmo "com a oferta gratuita de mais cinco canais temáticos, além dos já existentes e com oferta da set-top-box, apenas cerca de 15 por cento das actuais residências com TV aberta analógica seriam capturadas de forma espontânea", escreve o Público citando o estudo.



As conclusões obtidas aconselham a opção por um modelo misto entre serviços gratuitos e pagos, onde se incluam outros serviços de telecomunicações, como única forma de fazer aumentar os índices de adesão espontânea até um máximo de 50 por cento do total de utilizadores.



Até Maio, a Anacom deverá apresentar um novo modelo de operação para o serviço de TDT que resultará na atribuição de uma nova licença para operar a tecnologia. À margem do encontro, Pereira Coutinho terá sublinhado a importância de resolver as questões relacionadas com a normalização das caixas descodificadoras a nível europeu, antes que o processo de atribuição de novas licenças seja retomado, evitando investimentos em tecnologias não estabilizadas.



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