Por Sofia Fernandes (*) 

2020, um ano curioso. A economia vai ser sem dúvida muito afectada, principalmente quando olhamos para Portugal, um país cujo Produto Interno Bruto (PIB) - dinheiro que Portugal produz anualmente - depende em cerca de 13% do Turismo, sendo dos países do mundo com este valor mais elevado. E nós sabemos que o Turismo foi afetado. Hotéis que estão a fechar, as actividades turísticas que diminuem a sua afluência. E nem o Turismo interno, de portugueses que viajam por Portugal, vai conseguir colmatar a perda dos milhões de turistas que visitam o nosso país todos os anos. É por isso, rapidamente aferível que tecnologias ligadas com esta área tenham também sofrido grandes perdas. Contudo é preciso olhar para as oportunidades, e eu gostaria de iniciar focando as atenções na área da Saúde. Todos nós sabemos que é uma área difícil de entrar. Não só por todas as certificações necessárias, mas também pela própria cultura e atitude que é vivida nesta indústria. Ainda é difícil entusiasmar profissionais de saúde a implementarem sistemas digitais e fazerem deles uso recorrente. É difícil convencer estas entidades a utilizar novos equipamentos. Porque convenhamos, na introdução de tecnologias novas no mercado a saúde em Portugal tem estado no quadrante de maioria tardia ou retardatários (ver gráfico 1).

Opinião Gráficos 1
Opinião Gráficos 1

Gráfico 1 - Adoção à Inovação

Os inovadores estão lá fora, nos outros mercados mais maduros, como os Estados Unidos. E isso é muito claro quando olhamos para o comportamento das nossas startups, que rapidamente voam para outros mercados para conseguirem crescer

Interessante que 2020 fez o mercado da saúde se atualizar. Olhando para um dos mais pioneiros grupos hospitalares em Portugal, o Grupo José de Mello, se hoje for a uma CUF para consulta ou exame, irá verificar que pouco interage com os assistentes. O processo é todo feito via digital. Olhando para a Champalimaud, que é líder em inovação no que toca às áreas de oncologia e neurociências, há anos que existe um assistente virtual através do telemóvel para guiar o paciente até à sua consulta. O que nós não temos visto até então são as boas práticas do privado passarem para o público. Mas o COVID-19 veio alterar esse paradigma. Nós deparamo-nos com digitalização em massa para utilização de ferramentas para o COVID-19. Nós vemos sistemas a serem implementados pelo sector. E rapidamente surgem oportunidades muito interessantes para startups como a Sworth Health, que foi considerada a startup de melhor performance nos últimos 5 anos segundo o Scaleup Report do EIT Digital e BGI, entre outras que estão a emergirem e singrar no mercado nacional e também internacional. 

No seguimento desta digitalização, é possível também verificar o aumento, que em meses chegou a ser de 80% no mercado do retalho digital. Um país que vivia das compras físicas em loja, que inicia um novo padrão de consumo. Uma vez mais, empresas que vivam de comércio online ganham um novo interesse e aderência do mercado como nunca antes visto.

2021 apresenta-se como uma continuidade para estas oportunidades, no mundo digital, e ainda muitas mais oportunidades na área das alterações climáticas, com fundos como os da CALL INNOV-ID da Portugal Ventures com 17,7 milhões de euros investidos em 59 startups, e ainda todas as possibilidades com os fundos Europeus Green Deal. É verdade que as grandes empresas vão provavelmente reduzir o investimento em programas de aceleração e realocar no seu “core business”, mas sem dúvida que a digitalização de todas as indústrias, desde a educação ao entretenimento, é inevitável e irreversível. Por isso, Portugal que se prepare, porque começa a cozinhar um ambiente perfeito para startups, que combina desde o “mindset” necessário dos clientes para as usarem, até às condições de vida e acesso a talento irresistível para qualquer CEO de startup. 2021 pode chegar, que as startups estão prontas para enfrentar o COVID-19 de frente!

(*) Directora de Desenvolvimento de Negócio na BGI

Este artigo faz parte do Dossier O melhor e o pior de 2020. E as expectativas para 2021. Leia aqui todas as análises e artigos deste especial